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Harry Potter e genética

E hoje é primeiro de setembro. Às onze da manhã, vai sair lá da Plataforma 9¾ da estação de King’s Cross, em Londres, o Expresso Hogwarts. Dia de voltar pra Hogwarts, se você acredita nesse tipo de coisa. Veja bem, tinha gente que acreditava que pacotes de ajuda mandados para suas pequenas ilhas no meio do Pacífico eram sinais divinos, quem sou eu pra julgar o que cada um acredita. Dentro da mitologia do universo dos bruxos criado pela J.K. Rowling, primeiro de setembro é dia de recomeçar.
No meu caso, vou recomeçar a escrever, e agora vocês leitores vão ter o desprazer de encontrar minhas digressões intermináveis sobre diversos assuntos da cultura pop (Harry Potter no caso de hoje) regados com aquele caldinho especial de alguém que estudou lingüística, genética, astronomia, estatística e outras ciências por mera diversão (e portanto não sabe de metade do que está falando) e faz ligações estranhas a respeito de tudo isso.

(só uma notinha, esse artigo assume que você leu os livros e já teve aulas de Genética do Ensino Médio; se você não leu, ou não estudou Genética, talvez fique perdido, mas ainda assim há alguma chance de se divertir – bem baixa, mas há)

Os bruxos também amam

E por conseguinte, depreende-se que também copulam. Não que isto tenha ficado em algum momento ‘escondido’ na obra de J.K. Rowling; claro que ficou muito mais explícito nas literalmente milhares de fanfictions que exploram em detalhes extensos todas as possibilidades de emparelhamento dos personagens da série (e que eu nunca escrevi nenhuma).
Harry é filho de Tiago e Lílian Potter, e os dois eram bruxos, e por isso Harry também é um bruxo. Simples e direto, não tem muito o que pirar em termos de genética. Mas, se você leu os livros ao invés só de assistir aos filmes, deve saber também que existem outras possibilidades para as crianças nascidas do relacionamento entre dois bruxos; mesmo os filmes mostram os nascidos-trouxas (muggle-borns), crianças com talento para a bruxaria que nascem de pais trouxas (muggles).

Como varinhas, eles também podem ser guardados em caixinhas

Muito bem, vamos aos fenótipos conhecidos de gente que ao que tudo indica são seres humanos, e não subespécies separadas: trouxas; abortos (squibs), filhos de bruxos que não conseguem usar magia; bruxos nascidos trouxas; e bruxos. Inicialmente quando eu comecei a projetar esse sistema de herança genética eu quebrei muito a cabeça tentando conciliar um gene de ‘bruxismo’ (risos) que parecia recessivo e dominante ao mesmo tempo. No final das contas, percebi que são dois conjuntos de genes que formam esses fenótipos aí em cima.
Explico. Para os fenótipos compreendidos funcionarem como a Rowling demonstra nos livros, isto é, dois trouxas podem ter um filho que tem poderes mágicos, e dois bruxos podem ter um filho que não tem poder mágico, é preciso fazer uma adaptação. Os conjuntos de genes em questão seriam um que determina a presença ou ausência de poder mágico, isto é, o potencial cru e inato para fazer mágica. Sem ele, você é um trouxa. Esse gene seria recessivo; dois pais trouxas, que tenham os genes recessivos para poder mágico, podem ter um filho que vai receber sua cartinha de Hogwarts aos dez anos ao invés de se agitar com qualquer barulho de asas batendo todos os dias até perceber que sua carta nunca vai chegar. Aham.
Continuando, temos também um gene que controla a capacidade de utilizar mágica, além do mero potencial inato. Esse gene, dominante, vai ditar se você será um aborto ou um bruxo. Em casos raros, abortos vão poder nascer em famílias de bruxos tradicionais; eles são potencialmente bruxos, têm o poder mágico, mas sua incapacidade de controle os vai levar a se misturar com trouxas – explicando de onde vêm esses genes recessivos para bruxaria em famílias de trouxas!

Agazão e agazinho, pezão e pezinho


Escolhi ilustrativamente as letras H e h para o par de alelos referentes ao controle do poder mágico (onde temos os genótipos possíveis HH, Hh (genótipos capazes de controlar o poder mágico) e hh (genótipo incapaz de controlar o poder mágico)); e as letras P e p para o par de alelos referentes ao poder mágico inato (de onde temos os genótipos capazes de usar magia (pp) ou incapazes de usar magia (PP e Pp).
Tomando por exemplo a família do Harry Potter, temos todos os fenótipos. Ele mesmo é um bruxo capaz, portanto HH pp ou Hh pp; sua mãe, nascida trouxa, teria genótipo similar, e com certeza seus avós maternos tinham ambos o gene recessivo p. Sua tia Petúnia também teria obrigatoriamente o par de alelos pp, demonstrando que tia Petúnia era um aborto – um aborto impossível de ser detectado numa família de trouxas… Está tudo demonstradinho nesse heredograma caprichado que eu coloquei ao lado.
Não tenho muito mais a acrescentar; na verdade, eu só estava me divertindo tentando trazer um tracinho de verossimilhança e porque não anal retentividade a um dos meus cenários de fantasia de preferência. Se você gostou, discordou, quer me dar uma lição de genética decente porque eu só falei bobagem, mande ver nos comentários 😉
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