Avante defensores!
Trazemos hoje até vocês um bate-papo com Gustavo Brauner, autor do vindouro Mega City, cenário totalmente voltado para o nosso 3D&T. Ele nos fala sobre aquilo que o influenciou a escrever o cenário e também nos faz algumas revelações muito interessantes sobre o que está por vir. Está esperando o que? Não perca mais tempo e descubra agora as novidades sobre o próximo lançamento para 3D&T!
Defensores de Tóquio – De onde veio a ideia para a criação de Mega City?
Gustavo Brauner – Quando eu tinha uns 14, 15 anos, eu e um grupo de amigos jogávamos uma campanha de GURPS que chamávamos simplesmente de “Arquivo-X”. Desnecessário dizer que era fortemente inspirada no seriado, né?
Mas a verdade é que a parte Arquivo-X da campanha era só o começo… Os personagens eram mesmo agentes especiais do FBI, mas as aventuras não ficavam presas só ao monstro da semana — rolava de tudo, desde masmorras medievais à ultratecnologia, com direito a carros voadores, demônios, naves espaciais, masmorras medievais, viagens intergalácticas e por aí vai. Era superdivertido! Sério, era superdivertido de verdade!
Mestrávamos em turnos, com cada participante narrando uma aventura ou série de aventuras quando tinha uma ideia legal. Em outras palavras, todos eram mestres, e todos também eram jogadores, cada um com seu personagem. Isso fazia com que a campanha como um todo tivesse muita variedade de ideias, e os mais variados temas. Era uma salada de frutas, mas uma salada de frutas deliciosa.
Alguns anos atrás, tive vontade de voltar a jogar uma campanha assim — com um pé no mundo real, mas em que valesse de tudo. A ideia ficou em gestação durante um tempo, e eu cheguei a fazer listas de séries de TV, filmes, arcos de histórias em quadrinhos, livros, personagens, links para vídeos no YouTube, músicas, enfim, tudo o que mais me trazia inspiração… Incluindo jogos de tabuleiro, videogame e computador. Essa campanha ia se chamar Mega Campanha, e ia englobar tudo, absolutamente tudo que eu acho legal. Como a campanha de Arquivo-X, mas muito maior.
Aí, no iniciozinho de 2009, ainda no verão, eu estava tirando uma semana de férias. Aproveitei pra terminar uns jogos de SNES que eu nunca tinha virado, especificamente os da série Megaman X.
De volta a Porto Alegre, encontrei o Guilherme [dei Svaldi, da Jambô] e comentei sobre o quanto tinha me divertido jogando Megaman. E disse que algo assim (robôs, ciborgues e androides) ia fazer parte da Mega Campanha. Aí, ele me perguntou: “E por que tu não escreves um cenário pra 3D&T baseado na Mega Campanha?”.
Parênteses: o Guilherme, o Leonel [Caldela] e o Rafael [dei Svaldi, irmão do Guilherme] já sabiam dos meus planos da Mega Campanha e todos já tinham topado participar. Eles sabem dos meus gostos e estavam por dentro de todas as referências de TV, cinema, quadrinhos, etc., que eu vinha listando. Por isso o Guilherme já sabia da Mega Campanha na época.
Aí, eu olhei pro Gui e respondi: “Boa ideia!”.
Saindo da Jambô (onde eu tinha me encontrado com o Guilherme), voltei pra casa com a cabeça explodindo de ideias. Pensei em reunir todas as minhas referências em um mesmo cenário, organizá-las de maneira coerente (pelo menos pra apresentar pro público), dar a minha visão dos fatos.
E foi aí que eu pensei: “E como o cenário vai se chamar?”… A resposta óbvia veio no mesmo instante: para uma Mega Campanha, o cenário só pode se chamar Mega City!_
Defs – Depois de trabalhar diretamente no Tormenta RPG, como foi trabalhar com um sistema mais simples?
G.B. – Eu não sou nenhum estranho ao 3D&T; conheço o sistema desde a primeira edição e acompanhei sua evolução de lá até aqui.
Verdade que 3D&T é mais simples que Tormenta RPG, e bastante diferente, mas, acostumado com o sistema, pra mim foi bastante tranquilo. As matérias de 3D&T e os previews de Mega City na DragonSlayer dão uma ideia de como tem sido trabalhar com o sistema. Simples, rápido, dinâmico e muito divertido!_
Defs – Já está definido o formato do livro e a quantidade de páginas que ele terá?
G. B. – O livro básico de Mega City vai ter o mesmo formato do Manual 3D&T Alpha e do Manual do Aventureiro Alpha. Decidimos manter o padrão da linha. A quantidade de páginas ainda está em aberto, porque o livro ficou MUITO maior do que tínhamos planejado… Mas não deve ser muito maior que o Manual Alpha, não._
Defs – Pelo que foi possível entender até agora, Mega City é uma cidade da Terra, em uma época mais ou menos atual. É isso mesmo? O que você pode nos dizer sobre a história da cidade e sua inserção nessa Terra alternativa?
G. B. – Mega City é mesmo uma cidade da Terra. Da nossa Terra atual, com a qual estamos todos acostumados.
A história de Mega City começa com o descobrimento da região onde hoje fica a Cidade das Cidades em 1528, por navegadores italianos. Traz toda sua colonização e transformação de uma pequena cabana de caça que servia de entreposto comercial com os indígenas da região até a megalópole dos dias de hoje.
Mega City tem uma história bastante orgânica, com altos e baixos, típica das cidades do Novo Mundo, como São Paulo, a Cidade do México e Nova York. Ela pode ser colocada tanto na América do Sul quanto do Norte, na Europa, Ásia ou em qualquer país ou continente. Deixei o texto em aberto de propósito, para cada mestre situá-la onde quiser._
Defs – Mega City é “a cidade das cidades”, apresentando diversas ambientações e temáticas. Quantos cenários diferentes o livro básico vai comportar? Você pode nos adiantar que ambientações são essas?
G. B. – Mega City traz cinco cenários:
• Super Mega City: o cenário de super-heróis da Cidade das Cidades. É baseado nas histórias em quadrinho americanas. O livro básico traz a história de Super Mega City desde os primórdios da Cidade das Cidades, quando o único “super-herói” local era o Manitou, um indígena abençoado com poderes pelos espíritos que auxiliavam a tribo, passando pelas Eras de Ouro, Prata, Bronze, Moderna e Heroica. O livro básico apresenta os principais super-heróis do cenário. Alguns desses já foram mostrados no preview da DragonSlayer 33: Absoluto, Umbra, Amazona, Bélico… E os vilões Otto Oettinger, Gyro, Juiz Medo e Lunar.
• Torneio das Sombras: este é um cenário inspirado nos jogos de luta. Ele traz a história de uma sociedade secreta — a Sociedade das Sombras — que administra um torneio secreto de artes marciais há séculos, cujos participantes são escolhidos a dedo. Mas, recentemente, todos os membros do Círculo Interno que coordenava a Sociedade das Sombras foram assassinados, e um misterioso líder assumiu a tarefa de dar continuidade ao Torneio. Como os heróis descobriram na aventura da DragonSlayer 31, Opala Negra, o tal misterioso líder, está mais para um vilão que busca usar a Sociedade para seus próprios fins do que para um líder que pode engrandecer o Torneio das Sombras… Fica a dúvida se ele tem alguma relação com Ônix, um antigo participante que veio de outra dimensão, onde era o maior lutador e o maior general, mas foi expulso por sua sede de poder — e que deseja voltar para lá… A história de Torneio das Sombras é ainda mais antiga que a da própria Cidade das Cidades, tendo começado na Babilônia. Nos próximos suplementos, a relação — ou não! — de Ônix com o Opala vai ficar mais clara…
• Megadroide: este foi o primeiro cenário criado para Mega City, cujas ideias surgiram ainda no mesmo dia em que o Guilherme me incentivou a escrever o livro. Conta a história do Dr. Droid, um cientista que, depois da trágica morte da amada esposa, buscou extravasar a dor fazendo o que sabia fazer melhor: projetando robôs. Foi assim que criou Keiji. Mas o amor do Dr. Droid por Keiji despertou um ciúme tremendo em Agura, o primeiro robô projetado por Droid décadas antes, que revoltou-se e fugiu amargurado. Mas Agura não desapareceu, simplesmente; ele criou um exército de robôs malignos, e agora voltou para conquistar Mega City. O retorno de Agura forçou Keiji a passar por um upgrade para enfrentar o maligno Agura e seus “filhos”, quando se tornou Alpha, o primeiro megadroide. Os heróis deste cenário podem ser humanos comuns, com partes biônicas, ciborgues, robôs ou megadroides como Alpha. Enquanto a história de Super Mega City começa lá atrás, nos primórdios da Cidade da Igualdade, Megadroide é mais recente, começando na chegada do Dr. Droid em Mega City vindo do Japão, lá pela década de 1950.
• Nova Memphis: este é um cenário inspirado principalmente pelas histórias de horror gótico. Ele traz vampiros, lobisomens, múmias, anjos, demônios, imortais (a la a série Highlander), magos, fantasmas, construtos/golens de carne (como o monstro de Frankenstein) e caçadores do sobrenatural. A novidade é o sistema de regras para live actions de 3D&T. Sim, isso mesmo: regras para live action! Infelizmente, como o livro básico de Mega City ficou muito grande, Nova Memphis vai ficar de fora… Mas vai ganhar um livro básico próprio, só para si!
• Mega City Contra Ataca: este é o cenário mais realista da Cidade das Cidades. É totalmente baseado na história “real” de Mega City, trazendo aventuras de bombeiros, policiais, soldados de tropas especiais, agentes secretos, espiões e aventureiros com um pé na realidade, como Indiana Jones, John McClane, James Bond, Jack Bauer e por aí vai. Mas, é claro, com uma pitada de aventura heroica!_
Defs – Nova Memphis ficará completamente fora do livro básico ou já haverá uma introdução a essa ambientação?
G. B. – O livro básico de Mega City vai trazer um preview curto de Nova Memphis. Coisa pouca, só pra situar o leitor quanto a este cenário. Na verdade, pode ser que logo mais esse preview apareça no meu blog (www.desafiododragao.blogspot.com) e em outros sites e megablogs por aí, além, é claro, do fórum da Jambô._
Defs – Como todos esses cenários vão se inter-relacionar?
G. B. – Mega City tem uma história “real”, comum a todos os cenários. A história de cada cenário se mistura com a história “real” da Cidade da Igualdade, com pontos em comum entre as linhas de tempo.
Mas cada cenário tem uma história própria, de acordo com os acontecimentos de sua própria linha do tempo. Assim, em todos os cenários, a região de Mega City foi descoberta por navegadores italianos em 1528. Mas na Mega City de Megadroide, por exemplo, existem robôs e autômatos em quantidade, que fazem serviços como levar o cachorro para passear, limpar as ruas e entregar jornais, coisa que não existe em Super Mega City. Mas Super Mega City conta com super-heróis, que não necessariamente existem em Torneio das Sombras, e por aí vai…
A interação entre todos esses cenários depende exclusivamente do mestre. Todos os elementos necessários estão no livro básico; Megadroide tem mais robôs nas ruas, Torneio das Sombras tem a Sociedade, o Opala Negra e o próprio Torneio, Nova Memphis tem seus vampiros, lobisomens e outras criaturas sobrenaturais… O mestre mistura esses elementos como quiser em sua campanha, e eu garanto que eles não ficam estranhos quando colocados juntos. Pelo menos não no que depende só de Mega City. E lembrem-se que Mega City é sobre variedade, assim como 3D&T — grupos de heróis diferentes entre si são lugar comum! O que conta é o estilo e a diversão de cada um._
Defs – Você comentou no fórum da Jambô que Mega City trará mais de cem novas vantagens. Alguns delas já vêm sendo apresentadas na DragonSlayer, e são muito boas (com destaque para as regras para equipamentos na DS 32 e regras para superpoderes, na edição 33). Entretanto, com tantas regras anunciadas assim, é de se esperar que haja um receio de que algumas delas sejam releituras de vantagens já existentes. O que os leitores podem esperar a esse respeito?
G. B. – As novas vantagens são tão inéditas e independentes de poderes antigos quanto podem ser. É muito tentador de um ponto de vista de game design fazer uma “nova vantagem” que permite prender um oponente no chão ou na parede com uma flecha, teia ou bumerangue quando já existe Paralisia, que faz a mesma coisa, por exemplo. Tentamos não deixar passar nada assim.
Quando disse que o livro básico de Mega City já contava com cem novas vantagens, eu nem tinha incluído o material já publicado na DragonSlayer…_
Defs – Entre tantas novidades, haverá também novas DESvantagens?
G. B. – Sim, podem esperar novas complicações para seus personagens. Não prometo cem novas desvantagens, nem perto disso, mas o livro básico de Mega City trará novos defeitos para enriquecer os heróis da Cidade das Cidades._
Defs – Mega City: Manual do Aventureiro (anunciado no cronograma da Jambô, no início do ano), Nova Memphis… Estes são os próximos suplementos que estão sendo preparados. Já existem outras ideias de suplementos em vista? O que você pode nos adiantar?
G. B. – Cada cenário apresentado no livro básico de Mega City — e também o próprio Nova Memphis e seus mini-cenários (vampiro, lobisomem, caçadores do sobrenatural…) — terá uma linha inteira de suplementos só para si. Logo que comecei a pensar e escrever sobre cada cenário, elaborei uma espécie de cronograma de eventos. A guerra entre Alpha, Agura e todos os megadroides do bem e do mal é comprida, por exemplo. E posso dizer que vai ganhar as estrelas…_
Defs – Gustavo, nós do Defensores de Tóquio agradecemos a sua atenção e estamos aqui torcendo pelo 3D&T e por Mega City. Alguma mensagem final para nossos leitores e o público que está aguardando a chegada desse novo cenário?
G. B. – Eu é que agradeço a oportunidade!
É sempre bom poder falar com o público, tirar dúvidas e divulgar nosso trabalho.
Para todos aguardando a chegada do cenário oficial de 3D&T Alpha, o que eu posso dizer é: tem pessoas em perigo, prédios de papelão e inimigos de sobra em Mega City pra vocês salvarem e detonarem!_
É isso pessoal. Quantas novidades essa entrevista revela, não? Além de finalmente o 3D&T ter conquistado um cenário oficial, capaz de comportar todas as suas possibilidades, me impressionou também a quantidade de tantas novas (novas mesmo) regras. A notícia sobre live action de 3D&T, me parece bastante promissora também, mas essas regras só virão no Nova Memphis. Será que com isso teremos um retorno daquela que foi uma das maiores manias dos RPGistas nos anos 90?