Após muito tempo, a turma envolvida com a Liga Narrativa voltou à ativa no mês de abril deste ano. Pra variar, eu consegui completar o tema do mês passado só agora no fim de maio. Por isso vou tentar engatar logo os dois contos e publicar o próximo assim que possível. Por hora, fiquem com minha contribuição modesta, e os links para os outros dois contos já lançados. O tema de Abril foi Festas.
Fim de Festa
Maio de 2011
Agora a luz brilhava como jamais dantes havia naquele recanto esquecido. Mas antes dela haviam vozes e gritos, e muitos corriam em meio à balburdia. Num lugar escondido, um casal apaixonado enfim confessara seu amor e trocava seu primeiro beijo. Crianças fugiam umas das outras, procurando esconder-se. Mães chamavam, pais gritavam, mas poucos eram ouvidos. O caos reinava.
Um barulho ritmado tocava sobre todos os outros, e nem mesmo o som da música que se repetia insistente nas radiolas espalhadas aqui e ali era capaz de eclipsá-lo. E havia vento, cantando de encontro aos varais, correndo sobre as casas. Vários dos presentes, sem saber para onde ir, apenas iam e iam para lugar nenhum. E o fluxo seguia. Na pracinha, o velho balanço de pneu girava solitário, esquecido. Não era mais ele o centro das atenções e motivo das disputas. Agora havia outro.
Próximo dali haviam servido um banquete, e os mendigos fartavam-se, as velhas rezavam e os ricos doavam as fortunas acumuladas por anos. Dinheiro ao ar, mas ninguém se importava em recolher as notas azuis que giravam, sopradas para longe. Meninos abriram um hidrante, e a água furiosa explodiu para o alto, jorrando sobre a calçada e chovendo nos passantes; por hora, aliviando o calor.
Muitos apenas assistiam a tudo aquilo. Já haviam passado da idade de correr. De braços dados com suas famílias olhavam o ímpeto dos demais perante o espetáculo. Aviões giravam no ar, deixando para trás suas trilhas de fumaça. E não tardaram a chover sobre a cidade. Riscos de fogo caíam sobre a Terra onde o povo bebia, chorava e abraçava-se como se não fosse haver um amanhã. E não haveria, era certo.
Pois na plenitude celeste o sol queimava vermelho, crescendo e engolindo tudo antes de sumir.
Era o fim da festa, afinal. Como era o costume, apagavam-se as luzes.
Outros Contos sobre Festas:
- Ítalo – Rascunhos de uma Mente: On Party
- Jagunço – dot20: Diálogos Feéricos.