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Spin-off: minotauro artoniano (parte 1)

Spin significa torcer; spin-off é uma torção, ênfase ou interpretação que se desvia do cânone. Variante paralela, não-oficial.
O Manual 3D&T Alpha sintetiza o minotauro artoniano (pág. 53):






















Spin-off: minotauro artoniano (parte 1) 1

Minotauro, conforme Tormenta RPG (ilustração de Érica Awano)























A raça guerreira dos minotauros é composta por humanóides de grande estatura (em média 1,90m de altura) com corpos humanos musculosos e cabeças bovinas. Embora a cabeça de touro seja mais comum, existem numerosas sub-raças com cabeças de búfalo, gnu, bisão,boi-almiscarado, antílope, alce e outros animais aparentados. Alguns têm cascos bipartidos em vez de pés, mas essa não é a regra geral.
Não existem minotauros fêmeas. Eles se reproduzem com fêmeas humanas e élficas. Por esse motivo, minotauros ricos e poderosos mantêm grandes haréns de escravas — fazendo com que sejam odiados por outras raças.
Conforme a Revista Tormenta, número 2:
Embora os minotauros se assemelhem fisicamente a bovinos (…), o animal a quem eles mais se assemelham mentalmente seria  lobo. Eles o vêem como uma criatura honrada, social e devotada à sua espécie — embora pague pelos favores que fazem a ele (…) Além de seu poder, ele sabe ser esperto e traiçoeiro. E os lobos também devoram os mais fracos.
Marcadores: estética greco-romana; raça guerreira; cultura escravista; grande senso de honra; cultuam a força física; invasores militares.

Spin-off: “Taurus primigenius

De Bos taurus — o gado doméstico que conhecemos — e Bos primigenius — o auroque, ancestral do gado doméstico, extinto no século XVII. Os auroques (cujo nome taxonômico pode ser traduzido como “boi primordial”) eram animais impressionantes — mediam por volta de dois metros de altura (do casco ao topo do ombro) e pesavam em torno de uma tonelada.

Comparação de tamanho entre macho, fêmea e um humano de 1,80m (representado pelo Modulor de Le Corbusier)


Esta releitura é naturalista, e se baseia na seguinte premissa: e se os minotauros forem uma linhagem de artiodáctilos (ungulados de cascos fendidos) que evoluiu de maneira a possuir cérebro grande e postura ereta?
Por se tratar de uma linhagem naturalista, a raça possui fêmeas. Assim, o nome “minotauro” não serve; “minovaca” está fora de questão. Então tomaremos de empréstimo o “gado primordial” e os chamaremos de aurok (singular ou plural). Aurok podem ser macho ou fêmea, sem a conotação exclusivamente masculina de “minotauro”.
Outro ponto de destaque: por ser uma raça não-humana, parece interessante ressaltar estes aspectos. Aqui tomamos tanto o comportamento social e os sentidos dos bovinos. Os sentidos moldam a maneira como o ser vivo compreende e se relaciona com seu meio; o comportamento social em uma espécie aparentada “selvagem” tem muito a nos informar sobre os costumes dos primos “civilizados”. (Eu, primata, de Frans De Waal , relata as características comuns a humanos e chimpanzés e bonobos.)
Elementos icônicos dos minotauros artonianos (os marcadores) se mantém inalterados (e, conseqüentemente, seu espaço no cenário e conexão com demais elementos). O que se modifica é a forma que tomam.

Aurok

Fisionomia
Aurok são ungulados bípedes de cascos fendidos. Têm corpo musculoso e cabeça bovina, sustentada por um pescoço massivo e trapézio hipertrofiado. Seu faro e audição são bem desenvolvidos, e a maneira como seus olhos estão arranjados permite um campo de visão próximo de 360 graus. Aurok não distinguem a cor vermelha. Seus músculos faciais não permitem expressão. Possuem chifres tanto as fêmeas quanto os machos, sendo maiores nestes.
Exibem um aspecto neotênico. Exceto por uma fina penugem, não há pêlos cobrindo seu corpo. O focinho é curto. Machos têm orelhas e rosto cobertos por uma pelagem curta, que se torna mais comprida e espessa na testa, topo da cabeça e porção dorsal do pescoço; se estende por uma faixa ao longo do centro das costas, perdendo gradativamente a intensidade até alcançar o cóccix. Esta pelagem mais espessa requer cortes regulares de modo a ser mantida em um comprimento prático. As fêmeas são ainda mais neotênicas: rosto e orelhas são desprovidos de pêlos como o corpo, pelagem curta cobre parte da testa e a base dos chifres, e se torna mais comprida e espessa no topo da cabeça e dorso do pescoço.

Mão aurok


Possuem quatro dedos — ungulados de casco fendido, aurok não têm o primeiro dedo (polegar e hálux nos humanos). Nos pés, o terceiro e quarto dedos são bem desenvolvidos, ao passo que o segundo e o quinto são vestigiais. Aurok são digitígrados — se apóiam sobre extremidades dos dedos (em contraste com os humanos que o fazem sobre a planta do pé). Tal adaptação auxilia na velocidade de corrida e é responsável pelo formato característico das pernas.
Nas mãos, o terceiro e quarto dedo são bem desenvolvidos; os demais são menores, mas funcionais. O segundo dedo é adaptado para maior mobilidade, atuando de maneira análoga ao polegar humano. Todos os dedos, das mãos e dos pés, possuem a extremidade revestida por um casco.
As fêmeas possuem um ubre com quatro mamilos no tórax — no macho, não há ubre e os mamilos são atrofiados. São onívoros e, embora tenham o estômago dividido em seções, não são ruminantes.
Psicologia

Aurok macho


O conceito de rebanho é central — para os aurok, o indivíduo só faz sentido enquanto parte integrante do grupo. A mentalidade gregária permitiu que os aurok prosperassem pela força dos números, mas também produziu uma espécie de indivíduos deficientes em autonomia. Um aurok isolado sente desconforto e não age com clareza; pode enlouquecer se o isolamento persistir. No rebanho, o aurok só toma iniciativa se for hierarquicamente dominante — indivíduos de status inferior se limitam a seguir.
A dominância no grupo se dá com base na idade (mais velhos são dominantes sobre mais novos), tamanho (maiores sobre menores), presença e tamanho dos chifres (maiores são melhores) e sexo (masculino sobre feminino). Indivíduos hierarquicamente dominantes lideram o rebanho, e têm preferência na partilha de espaço e recursos (entre os machos, inclui acesso às fêmeas).
Os aurok reconhecem sua posição e nunca desafiam aqueles cuja superioridade hierárquica é clara. Mas nem sempre é o caso. As fêmeas sempre reconhecem as de maior idade, o que não ocorre entre os machos. Não é incomum que jovens fortes de chifres vistosos se sintam no direito de desafiar adultos dominantes. (Isto limitava a cooperação entre os machos e só foi contornado via ferramentas sociais.)
Sendo incapazes de expressões faciais, os aurok não as compreendem intuitivamente. Em contrapartida, são mais atentos à linguagem corporal, especialmente a postura e o andar.
Civilização
No estado selvagem, rebanhos de aurok consistiam de haréns de fêmeas, seus filhos e um macho adulto dominante. Estes grupos mantinham distância de modo a evitar a concorrência de machos rivais, e machos jovens eram expulsos do grupo antes de se tornarem desafiantes pela dominância. Vagavam em grupos de adolescentes problemáticos, lutando entre si e contra líderes de rebanhos que encontrassem.
Por sua capacidade limitada de se defender, estes rebanhos foram presa fácil para escravistas goblinóides, capazes de sobrepujar os rebanhos em número durante ações coordenadas. Esta situação se prolongou até Goratikis unificar os rebanhos aurok.

Aurok fêmea


Goratikis nasceu com uma bênção. Era naturalmente mais robusto que qualquer aurok, como se uma divindade da força lhe houvesse insuflado com um sopro. Acadêmicos de Sallistick oferecem uma teoria alternativa. Afirmam que os aurok possuem um desequilíbrio do humor alquímico que rege o crescimento de músculos — Goratikis, se realmente existiu, teria sido o sangue em que esse desequilíbrio se originou. Seja como for, com facilidade tomou a posição de dominância em seu rebanho. E nada mais de típico aconteceu dali em diante.
A prole de Goratikis, em sua maioria, herdou a mesma constituição assombrosa do pai. Para estes filhos, o costume se inverteu:  mantinha os machos no rebanho e fazia as fêmeas emigrarem. Doutrinou, estabeleceu com a prole laços de lealdade, criando machos capazes de feitos coordenados impressionantes e fêmeas obstinadas em criar filhos disciplinados e dominantes. Por anos o clã de Goratikis migrou, crescendo em tamanho — a cada rebanho encontrado, Goratikis derrotou o dominante e distribuiu o harém entre seus filhos, cada vez mais numerosos. As fêmeas emigradas também contribuíram para a expansão — elas levavam a doutrina e o sangue do pai. Fêmeas, não tinham problema em serem aceitas em outro rebanho. Facilmente atingiam dominância entre as demais fêmeas e não tardava para que um filho seu ascendesse à dominância e replicasse a cultura.
Com sua força, sangue e lei, Goratikis reuniu todos os rebanhos sob uma única bandeira, uma única liderança — mesmo os rebanhos mais distantes estavam ligados por elos sanguíneos. Assim organizados, os aurok estavam em posição de vantagem sobre os goblinóides. Dominaram o território e estabeleceram sua própria sociedade — absorvendo os restos do lado derrotado no processo.
Os aurok sempre foram deficientes na fabricação de ferramentas. Suas mãos grosseiras e terminadas em cascos dificultam o manejo fino. Como resultado, possuíam tecnologia primitiva — não dominavam a tecelagem ou a manufatura (e uso) de instrumentos como arcos e flechas, por exemplo. Mas assim como os goblinóides haviam escravizado os aurok por sua força física, estes escravizaram criaturas dotadas das mãos delicadas que lhes faltavam.
Estudaram todos os tomos e pergaminhos que sobreviveram à guerra, e depois passaram a produzir seus próprios. Com a enorme disponibilidade de escravos humanos, elfos, e outros humanóides, tinham mão de obra capaz de pôr em prática projetos desenvolvidos pelos aurok. O rebanho mais rico é visado — para proteger a civilização que florescia, os guerreiros deveriam lutar melhor e cooperar com maior eficácia; estudando a cultura de seus escravos, os aurok desenvolveram suas artes militares em direções pragmáticas. A progressão deste modelo culminou na Tapista que ameaça dominar o Reinado.

A seguir

Conhecemos o corpo e a mente dos aurok, bem como sua trajetória da selvageria para a civilização. Na segunda parte veremos os costumes e a sociedade dos aurok — e também os aurok aventureiros, aqueles que escolheram se desgarrar do Grande Rebanho tapistano. Quem são, por que desertaram, como vivem? E os aurok também ganham umas roupas.

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