Aliança Negra. A ameaça monstruosa que conspurca o solo de Arton com suas fileiras de soldados monstruosos. A evidência de que a improvável união de criaturas bestiais pode sim acontecer e ameaçar tanto quanto qualquer outra força militar. Expedição à Aliança Negra (EàAN) nos dá um vislumbre de quão destruidora pode ser essa força goblinoide. E ainda mais.
Confesso que, quando vi o anúncio do livro pela primeira vez, não fiquei lá muito empolgado. Eu tenho as revistas onde foi publicada em partes a aventura original, e até já havia mestrado a mesma. Sinceramente, não era nenhuma novidade para mim. Mas quando coloquei as mãos no meu exemplar, tive de reconhecer que essa forma de pensar era, no mínimo, descansada: além de atualizar as regras para o novo Tormenta RPG, EàAN reúne em um mesmo volume praticamente tudo de relevante que já foi publicado sobre a Aliança Negra até hoje. O livro é organizado em quatro grandes partes.
Na Introdução, somos apresentados à aventura de forma sincera, quando se explica de sua publicação original, assim como sua adequação à linha temporal de Arton, e uma lista de propósitos para a reedição e utilização da aventura. A seguir, somos apresentados à famosa profecia que fala do líder unificador dos povos monstruosos de Lamnor, Thwor Ironfist, bem como sua origem, consequentemente interligada com a da Aliança Negra. A Infinita Guerra entre elfos e hobgoblins, a ascensão de Ragnar e o desafio de Khalifor também são apresentados aqui.
O próximo capítulo, Expedição à Aliança Negra traz a aventura em si. Os rumores de um ataque goblinoide estão cada vez mais intensos, o que vem preocupando o regente da cidade-fortaleza de Khalifor. A chegada de um respeitado mago do Reinado à cidade acaba tornando possível a formação de um plano, para verificar esses rumores. Nesse ponto, os aventureiros entram em cena, e terão de enfrentar desde situações constrangedoras (a parte da transformação, logo no início, ganhou disparado nesse quesito, nas duas vezes em que mestrei a aventura!) até momentos de tensão e risco para nenhum fã da série Metal Gear botar defeito.
Particularmente, não costumo utilizar encontros e eventos de aventuras prontas na mesma ordem em que aparecem quando publicadas – prefiro transformar tudo em pequenos módulos, que reajusto da forma que acho melhor. Agora, um problema em que geralmente tenho dificuldades é a inserção de diferentes conceitos de personagens nas aventuras. Algumas parecem simplesmente não acomodar certos tipos de personagens. De fato, isso não aconttece com o EàAN, e para mim, esse é um dos grandes pontos altos da aventura: há muitas possibilidades de ação tanto para os personagens mais ‘gamers/porradeiros’ quanto para os que preferem narração e interpretação. Como é de se esperar, este é o maior capítulo do livro, ocupando aproximadamente metade do conteúdo total.
O próximo capítulo, Aliados & Adversários traz as estatísticas dos personagens e monstros que aparecem na aventura. Todos os tipos de integrantes da Aliança Negra estão aqui listados também, desde o recruta goblin até campeão bugbear, passando pelo soldado e arqueiro hobgoblins, o guerreiro ogro, o assassino goblin, capitães, generais e muito mais. A seguir, somos apresentados às estatísticas para se construir personagens hobgoblins, novas perícias, talentos e equipamentos. Um apanhado sobre Ragnar, a principal divindade cultuada entre os membros do exército goblinoide e o modelo sumo-sacerdote também estão ali (acho que esse é o primeiro modelo para TRPG que é publicado). Para finalizar, o capítulo traz regras de combate entre unidades militares (apesar de eu não ser um grande jogador de sistemas OGL, as achei bem práticas – possibilitam até que um jogador sozinho enfrente uma unidade, numa pegada parecida com as regras usadas no Projeto Aliança Negra 3D&T) e uma relação de armas de cerco e estruturas para essas armas destruírem. É uma organização inteligente, a deste capítulo, porque permite que o mestre possa utilizar essas estatísticas para criar suas próprias aventuras na Aliança Negra com mais comodidade.
O último capítulo, Lenórienn, descreve a única cidade élfica que já houve sobre o solo de Arton, desde sua formação até sua queda, quando tornou-se o símbolo da soberania goblinoide. Uma mapa mostra os principais pontos da cidade (mapa esse que serve perfeitamente para aqueles que desejem jogar aventuras na época em que ela era dominada pelos elfos), e também temos uma lista com as personalidades de destaque da atualidade.
Tecnicamente, o livro ganha muitos pontos pela organização e acredite: o livro tem o suficiente para que mestres possam inserir o exército de Thwor Ironfist em qualquer cenário que queiram, sem maiores complicações. Outros grandes pontos positivos são as novas ilustrações: a da capa, pelo Rod Reis, e as internas, de autoria do Ig Barros (o destaque, na minha opinião, é a imagem que abre o segundo capítulo). Há também, uma imagem da tão solicitada pelos fãs carruagem de Ragnar (eu esperava algo mais grandioso, dadas as dimensões em sua descrição, mas ganha um desconto porque, na aventura, ela ainda está sendo construída). Existem alguns erros de revisão, como palavras com letras a menos, que aparecem com certa freqüência se você levar em conta a quantidade de páginas do livro, mas assim mesmo não é nada que prejudique a compreensão do texto ou das regras.
Em suma, este livro cumpre duas funções a que se propõe: apresenta o temível exército goblinoide e também nos dá certeza de que este plot do cenário está longe de abandonado. Como o texto de abertura deixa implícito (e aqueles que acompanham a Gazeta do Reinado na Dragon Slayer também podem afirmar), não seria surpresa sugerir que logo podemos nos deparar com outro livro, dessa vez com material totalmente original, tratando com mais detalhes sobre a Aliança Negra. E quando ele sair, Klunc quer dois!
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Expedição à Aliança Negra.
Autores: Marcelo Cassaro, Rogério Saladino e J. M. Trevisan.
Formato: 20,5 x 27,5; brochura; 64 páginas.
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As imagens utilizadas neste artigo são de autoria de Rod Reis e André Vazzios.