Compreensível.
Durante muito tempo RPGistas foram vítimas de perseguição da mídia e de um sensacionalismo que se aproveitou da imagem que as pessoas tinham daquele “jogo estranho que ninguém consegue entender como funciona” para fabricar manchetes sobre assassinatos, satanismo e corrupção da juventude. (Vide aquele filme polêmico da década de 80 com o Tom Hanks, Mazes and Monsters).
Isso fez com que hoje seja quase imperativo mostrar o quanto o RPG é “edificante”, um “estímulo à criatividade”, uma “forma de arte”, “uma ferramenta didática e educativa que pode ser utilizada dentro e fora da sala de aula”.
É claro! Excetuando talvez a propriedade milagrosa de remover tumores malignos, que infelizmente ainda não lhe foi atribuída (mas logo, logo atribuem) concordo que RPG pode ser tudo isso e muito mais. O que as vezes é esquecido, porém, é que ele é essencialmente uma forma de escapismo.
E é raro ver alguém tentando escapar do paraíso.
Por mais que muitos RPGistas sejam indivíduos super bem resolvidos e perfeitamente equilibrados, ou que gente rica e famosa como o Vin Diesel ou a Michele Pfeiffer declare abertamente ao público que aprecia rolar dados de vinte lados, esteja avisado! Estatísticamente há uma grande probabilidade de que uma parcela significativa das pessoas que passará pela sua mesa de jogo, ou com as quais você conversará na internet, seja de simples gente desajustada querendo fugir da realidade.
Vai por mim! Já vi de tudo um pouco. E louco pra tudo.
Jogador neurótico que escreveu background de trocentas páginas para o personagem dele, e que surtou quando o viu cair em combate nos primeiros cinco minutos de jogo. Jogadora que se apaixonou por PdM (!) e que chorou angustiada por que seu companheiro animal tinha mais pontos de vida do que ela. Mestre que fez chantagem emocional e pra continuar ocupando o “cargo” e que entrou em depressão profunda quando foi deposto. Internautas desperdiçando incontáveis horas da sua vida em fórums e sites, em discusões inflamadas e obssesivas sobre “os rumos do mercado editorial”, “as implicações morais da cultura escravocrata dos Minotauros no sistema de tendências” ou “os hábitos reprodutivos dos Beholders”.
Não adianta retocar a maquiagem. RPG não é jogado por robôs. Como qualquer outra atividade humana, envolve nossas paixões, nossas pulsões e frustrações. E acredite alguns seres humanos tem maneiras extremamente inventivas de dar vazão a isso. Sim, é só um jogo. Não é coisa do diabo, nem é um hospício. Longe disso.
Mas algumas vezes parece mesmo uma fábrica de malucos!
E você?! Qual é a maior loucura que já presenciou nesse “fantástico mundinho do RPG”?