Ícone do site RPGista

Jogue e Deixe Jogar

Jogue e Deixe Jogar 1

Resolvi escrever este texto por causa de certas coisas que li em certo portal de RPG estes últimos dias e que me deixaram bastante frustrado. Mas o objetivo do artigo abaixo não é apenas criticar esse texto em particular, ele foi apenas o estopim, este artigo se refere a um comportamento bastante comum nos fóruns de RPG e que me desagrada muito.
Existe uma tendência natural no ser humano de considerar que o que é seu, é melhor. Sua cultura é melhor, sua religião é melhor, seu time de futebol é melhor, seu animê é melhor, seu gosto musical é melhor, etc, etc. Com RPG acaba acontecendo a mesma coisa. Muitas pessoas tendem a adotar certos cenários e/ou sistemas como seus favoritos e consideram que os outros são cheios de deméritos que os tornam inferiores. O que eu realmente acho muito triste, já que RPGistas deveriam por natureza ser pessoas com imaginação e criatividade desenvolvidas e uma mente aberta para aceitar coisas diferentes.
No caso dos sistemas em especial, isto costuma ocorrer na forma de encontrar falhas e maximizá-las para que pareçam grotescas.
Os Combos e Falhas
Em sistemas onde a criação de personagens é feita por pontos (GURPS, 3D&T, etc) é mais fácil encontrar desequilíbrios. Afinal, se um jogador gasta todos os seus pontos para fazer um personagem voltado ao combate, e o outro faz um podre de rico e com muitas habilidades sociais, mas totalmente incompetente em outras áreas, então naturalmente temos um desequilíbrio no nível de poder entre personagens. E Claro, existem os famosos combos, aquela combinação mirabolante de certas vantagens, atributos e estratégias para garantir um personagem capaz de espancar um dragão/arquimago/grande antigo em um turno, ou ficar espancando um ao longo de muito tempo sem ser tocado.
Sistemas com classes (em especial D&D e os inúmeros derivados do seu sistema), a principio parecem mais fechados e planejados para ser equilibrados. Mas encontrando aquela combinação de talentos, equipamento e aquela CdP obscura em um suplemento tenebroso da “Sem Noção Editora”. Ou juntando aquelas duas habilidades de classe perfeitamente normais de uma forma que aparentemente ninguém havia percebido antes. Você torna o seu personagem mais forte que o resto do grupo.
Também existem os problemas que não surgem dos jogadores e sua ambição sem limites. E sim de questões mecânicas do próprio sistema. Estas são as favoritas dos apedrejadores de sistemas.
3D&T começa a ficar quebrado quando os atributos passam de 5. O sistema de sucessos do Storyteller pode permitir resultados extremamente caóticos. GURPS tem regras até para espirrar e tropeçar. Tal classe é melhor que as outras, tal classe é pior que as outras, etc.
Mas eu tenho uma novidade. Todos os sistemas do mundo, já inventados e que serão inventados um dia, tem e terão suas falhas (incluindo aquele sistema que você sempre defende em relação aos outros). Por mais playtests que sejam feitos, algum erro sempre vai passar batido. Outras vezes (e estou apenas especulando) ou autores não consideram certa coisa como uma falha, apenas alguns jogadores que o virão a fazer mais tarde.
Os defensores do D&D4 tem entre seus maiores argumentos de defesa (se não o maior), o equilíbrio das classes. É verdade, eu até concordo com o sistema ser mais equilibrado que a maioria. Mas em troca ele não possui muita liberdade de customização na hora de criar personagens. Além é claro de muitos outros prós e contras que podem ser apontados em uma discussão, mas que eu não vou ficar citando aqui.
O nacional Tormenta RPG tem sido acusado de ter magos exageradamente fortes que fazem outras classes ficar ridículas por comparação, o que por si só pode ser facilmente desmentido com um conhecimento mais completo do sistema ou alguma experiência jogando.
Em qualquer produto D20, eu desafio alguém a fazer um grupo só de magos para ver como eles se saem. Aliás, qualquer grupo composto por personagens apenas da mesma classe. Porque essa é uma das características de jogos com classes. Elas se complementam, onde uma é fraca, outra é forte.
Se algo é considerado errado ou desequilibrado pelo grupo, ótimo, proíba. Pessoas que dizem que um sistema deveria ser bom o bastante para nunca obrigar um grupo a dar uma personalizada em alguma coisa ou criar esta ou aquela regra da casa é porque nunca jogou o bastante para chegar a isso, ou se recusa a admitir que seria uma boa idéia. E isto me leva ao próximo ponto.
Orgulho e Preconceito
Outra característica humana, o orgulho nos impede de muitas vezes usar o bom senso, e faz as pessoas teimar em algo porque querem estar certas, simples assim (nas crianças chamamos isso de birra, nos adultos… também). Para algumas pessoas o que importa não é o que é certo, o que importa é estar certo.
E temos a questão de não aceitar um gosto que não é o seu. Dizer que algo é ruim usando argumentos como, “aquela classe de prestigio é ridícula porque todos sabem que clérigos não são assim”. Dizer que um sistema é ruim porque tem regras para usar robôs e magia e ambos não podem estar juntos. Ou considerar um cenário ruim porque não se foca em uma temática obscura.
Qualquer um que use questões relacionadas a orgulho e/ou preconceito em seus argumentos está automaticamente expondo como é limitado, fechado e possivelmente imaturo demais para argumentar em primeiro lugar.
Jogue e Deixe Jogar
É assim que eu resumo minha opinião, jogue e deixe jogar. Não tente ofender outros, ou gritar por aí que eles estão errados por gostar daquilo. Que um cenário estilo anime é para crianças. Que vampiros só podem ser como em Vampiro: A Mascara. Que um sistema é falho porque sai critico cada vez que se rola 6 em 1d6.
Você ainda tem direito ao seu gosto, essa é sua opinião e ninguém pode tirá-la de você. Só não se esqueça, você também não pode enfiá-la goela abaixo nos outros ou sair ofendendo quem discorda de você.
Se joga em um grupo, encontre aquilo que agrada a todos, ou encontre outras pessoas que tenham seus gostos. Ou ainda faça uma coisa que as pessoas tem que fazer na vida ocasionalmente, abra a mente e tente conhecer melhor o gosto dos outros, você ficaria surpreso com o que acontece quando o ego sai da equação. E claro, se for escrever um artigo ou resenha falando sobre algo, faça-o de forma minimamente respeitosa e profissional, ou fique calado, ninguém gosta de trolls.
Como palavra final. Não estou me achando superior ao escrever isto, pero contrario. O simples fato de ter escrito até aqui me fez refletir em algumas coisas. Aquela vez em que disse algo pesado demais, ou aquela outra a alguns anos em que apontei defeitos em um sistema e considerei que eles o tornavam irremediavelmente ruim. Crescer é um processo eterno, desde que você permita, e eu espero fazê-lo pelo resto da vida.

Sair da versão mobile