Há algumas semanas o Nume publicou os primeiros esboços para o Bestiário de Arton. Eu pude olhar os esboços, alguns dos quais interessantíssimos, realmente deixando a vontade de ver o produto final. Vocês podem checar aqui.
Porém um deles me deixou cismado. Ou desconfortável, não sei bem. O caso é que fiquei pensando bastante sobre tal soldado mecânico (embora a idéia em si me soe um pouco deslocada. Acho que o Álvaro ou o Henrique, que acompanham bastante o cenário, me disseram bons motivos para a existência deste artefato, na Arton pós-guerras táuricas. Mas ainda acho que antes dele iria aparecer algo com rodas munidas de travas ou até mesmo esteiras. Alguma versão mais portátil do carro de guerra).
Então a idéia foi ficando na minha cabeça, e calhou que tive um dia de natal bastante tranqüilo e longe das habituais ferramentas nas quais tento completar os trabalhos atrasados. Atualmente as ferramentas são o VectorWorks e o Autocad, mas o photoshop e o ArtRage costumam estar no mesmo rol.
Enfim, vi-me com um inabitual tempo livre, então peguei meu caderno de aquarela e pintei uma versão extra-oficial para o soldado mecânico de Arton. Pedi autorização de publicar aqui no .20 à autora das ilustrações do bestiário – Roberta Pares. Obrigado, Roberta! – e aqui está o resultado.
Primeiro devo confessar que a descrição original é bem curta. Basicamente é um soldado mecânico, criado pelos goblins. Descrições assim são ao mesmo tempo ótimos exercícios de criatividade, mas também são difíceis, quando não há muito contato com o autor do texto – que, desta vez em especial, era o meu caso – Então comecei a pensar em como poderia ser. Escolhi cordas e engrenagens de relógio como fonte de energia para o soldado, pois achei mais adequado ao momento, em relação ao vapor. Uma chave de encaixe bem bruta está localizada na frente do autômato, para que ele possa dar corda em si mesmo (o que constituiria um moto perpétuo e assim, impossível. Eu sei… digamos que foi uma idéia inicial dos goblins que se revelou um tanto falha, mas àquela altura não valia a pena mudar a posição da chave). Esta frente é também a principal entrada de manutenção do maquinário.
A seguir, ainda pertencendo ao mecanismo principal, os membros superiores e inferiores, formados por um complexo mecanismo de anéis e engrenagens, cobertos por tubos protetores e placas. Inspirei-me nos famosos autômatos de Leonardo da Vinci, Charles de Vaucanson, além dos bonecos de engrenagens do séc. XIX, nesta etapa.
Como imagino que um soldado mecânico pode perfeitamente ser sua própria arma, decidi que sua mão (bem simplória) poderia girar para dar lugar a uma lâmina, que fica devidamente balanceada pela manopla. Utilizando a manopla para alguns ataques de agarrar ou mesmo como martelo, e a lâmina para cortar e estocar, seria este o ataque básico do autômato.
Tudo isto eu imagino montado numa estrutura sólida, larga. Sobre a mesma eu joguei uma armadura simples, ao mesmo tempo comum e improvisada, em que não se preocupou tanto com presilhas e correias, mas partes foram ligadas com dobradiças, grampos e pinos incandescentes. Em volta da chave no peito há uma espécie de escotilha de manutenção.
Ah, sim… e um nariz bem pontudo. Talvez por ser obra de goblins, como sinal de que há sempre uma tendência a se espelhar na obra, o soldado mecânico partilha esta característica com seus inventores. Creio que por ser uma verdadeira baioneta, este nariz, seus compradores não fariam muita menção a removê-lo.
Para terminar eu quero expor algumas dúvidas sobre como seria o comando desta máquina. Sabemos como é difícil criar uma inteligência artificial, e só consigo imaginar quatro modos de fazê-lo em Arton:
Algum controlador interno, seja ele um goblin ou outra criatura, o que transforma a máquina numa espécie de armadura mecanizada;
Um controle remoto. Uma variação da primeira idéia, utilizando algum recurso para transmitir controles à distância;
Alguma entidade extraplanar ou elemental “possuindo” o soldado mecânico. Isto já foi idealizado antes, na aventura Contra Arsenal;
Magia de animação, mais ou menos o que ocorre com os Golens;
Das quatro idéias, a segunda me parece abrir precedentes muito graves para mudar toda Arton. Eu realmente não utilizaria. A terceira é interessante, embora não se saiba quais seriam as lealdades da criatura possuidora. E a quarta me parece inutilizar toda a necessidade de engrenagens e energia motriz e, portanto, seria uma resposta fácil e pouco satisfatória.
Fica, portanto, a dúvida sobre estes e outros aspectos.
A chamada desta postagem foi gentilmente trabalhada pelo Marco Morte, sobre a aquarela do Soldado Mecânico.
Um grande abraço, e até a próxima!