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Fiasco – Um jogo sem jogadores

Depois de algum tempo pesquisando RPGs obscuros, eu achava que já tinha uma boa idéia do que existe por aí. Estava errado. Fiasco, é completamente diferente de tudo que eu já vi na vida.

A idéia é baseada naqueles filmes onde pessoas simples tem grandes ambições e um suave excesso de impulsividade, como “Queime depois de ler e Um plano simples. Pessoalmente, também me vem à cabeça filmes do Tarantino, pela estrutura, mas não necessariamente pelo espírito.
Fiasco é um RPG essencialmente narrativo, projetado para 3 a 5 jogadores. O jogo se divide em 5 partes:
“Set Up”, onde todos os jogadores determinam qual será o cenário básico (western, Suburbio, capital, futuro, passado, etc) e quais são as relações entre seus personagens (podem ser amigos, família, colegas de trabalho, etc) e os detalhes destas relações (que são apresentados na forma de objetos, interesses ou locais, por exemplo, você pode ter um avô, e sua relação com ele está fortemente ligada a uma casa no lago, ou a um álbum de fotos, ou você quer ser como ele.).
Todas as relações e detalhes são definidos de forma semi aleatória, tendo o limite de uma relação e um detalhe por pessoa (sempre com alguém do lado).
Depois de definido o “esqueleto” do jogo, parte-se para a história: Começa o ato 1. Nesta parte, cada um, seguindo a ordem da mesa, terá direito a uma cena. Entretanto, na sua vez você decidirá entre organizar a cena (dizer basicamente o que está acontecendo, quem está nela, etc.) ou resolver a cena (dizer como a cena terminou), mas nunca os dois. Se você decide por um, o outro ficará a cargo dos outros jogadores.
Um detalhe importante: para decidir o resultado de uma cena, é necessário pegar um dado do centro, que pode ser de uma cor positiva (significando que a cena acabou bem para o personagem) ou negativa. Como há a mesma quantidade de dados positivos e negativos, isso dá um equilíbrio ao jogo. No final da cena, este dado vai para o personagem “principal” da cena ( O dono do turno), e este decide dá-lo a alguém da mesa (não pode ficar com o dado).

Todas as relações e detalhes são definidos de forma semi aleatória, tendo o limite de uma relação e um detalhe por pessoa (sempre com alguém do lado).

Quando metade dos dados forem gastos vem o Tilt, onde os dois jogadores com os maiores resultados nos dados de uma cor, descontada a outra, poderão usar os dados restantes para criar duas situações, a partir de uma lista do livro, que degringolarão de vez a situação dos personagens.

Em sequência há o ato 2, bem semelhante ao ato 1. A grande diferença é que, aqui, no final do turno, o dono do turno mantém o dado do desfecho da cena.
Por fim, há o Aftermath, onde cada jogador terá direito a dizer as últimas ações do seu personagem, baseado na quantidade de dados que conseguiu obter.
É claro que o jogo é mais complexo que isso, e não caberia explicá-lo aqui (afinal, existe um livro para isso), mas acho que consegui mostrar que Fiasco, praticamente não é um jogo, mas sim, um sistema de montagem de uma história (que parece bastante divertido por sinal).
A impressão que tenho, é que todos fazem o papel de narradores, pois todos narram cenas, interpretam NPCs, e não tem exatamente um personagem “seu”, além de que o objetivo não é vencer algo ou alguém, o que descaracteriza um jogo, e é por isso que Fiasco é diferente de tudo o que já vi. É certamente o “jogo” mais Narrativo que conheço, e usa uma mecânica de dados muito interessante.
Além disso, o jogo é desenhado para se jogar em duas ou três horas. Pode se estender mais, sim, mas nada de campanhas ou crônicas. Cada sessão é um filme (muito divertido por sinal).
Mas o que eu mais gostei foi a forma como o livro foi apresentado: Possui uma parte com regras básicas, uma parte de dicas para customizar suas regras, e um replay, onde é transcrita uma sessão de jogo, de forma didática. Além disso, já no início do livro, o Autor dá dicas para quem lê, se já conhece este tipo de jogo, se está começando, ou se só quer dar uma olhada mesmo.
Lançado exclusivamente na Gencon 2009, Fiasco foi escrito por Jason Morningstar e lançado pela Bully Pulpit Games e é uma experiência única que vale a pena conferir!

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