Eu não entendo, mesmo, quando alguém diz sentir falta dos “velhos e bons tempos” do RPG no Brasil. “Há muitos anos” quando tinha “muitos títulos no mercado”. Sempre que leio essa besteira, me pergunto se o sujeito tem miopia cerebral ou apenas é muito mal informado.
Afinal, quando foram estes “velhos e bons tempos”? Dez anos atrás? Quinze anos atrás? Dez anos atrás nós tinha-mos alguns RPGs em bancas como 3D&T e alguns Daemon e Utopia D10, enquanto nas livrarias tínhamos D&D 3e começando sua jornada, o Mundo das Trevas a caminho para sua Gehema e GURPS 3e agonizando em seus momentos finais. Quinze anos atrás? AD&D sendo lançado e logo abandonado pela Abril, o mesmo caso de lançamento-abandono para Shadowrun 2e e a Ediouro. Aventuras Fantásticas tinha acabado seu ciclo e já tinha sido cancelada ou estava em vias de cancelamento. Os dois fortes no mercado eram GURPS 3e e Mundo das Trevas, enquanto os nacionais eram apenas curiosidades sem sucesso editorial notável, como Desafio dos Bandeirantes, Tagmar e Millenia. Único destaque para Defensores de Tóquio, que mais tarde iria dar vida a 3D&T.
Em ambos os casos a situação é simplesmente inferior em número de grandes linhas e lançamentos ao que temos hoje. Olha o tamanho da lista: Tormenta RPG, D&D 4e, Novo Mundo das Trevas (Vampiro, Mago, Lobisomem, etc), Fighting Fantasy (republicação da antiga série Aventuras Fantásticas), 3D&T Alpha, Mutantes & Malfeitores, GURPS 4e, e temos a publicação ainda este ano de Dragon Age RPG pela Jambô e Rastro de Cthulhu pela Retropunk. (E nem estou citando linhas puramente de cenário, como Reinos de Ferro).
Fora os indies que pipocam pela internet e na Feira do RPG Independente na RPGCon: Mamute, Tópicos & Trolls, Might Blade, Tagmar 2, Old Dragon, Re.ação… a lista é extensa, mesmo, e provavelmente eu não conheço nem metade do que realmente existe por aí hoje em dia.
Então, sendo muito direto, os bons e velhos tempos eram uma bela bosta, se comparados com os melhores e atuais tempos. Você provavelmente só sente saudade dos “velhos tempos” porque na época era a sua adolescência e podia vadiar e jogar RPG o dia inteiro.