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Não corra antes de andar

Como todo ditado popular, este do título carrega muita sabedoria em poucas palavras. O significado é claro e amplo o suficiente para ser aplicado a todas as esferas da sua vida. E não é diferente com o RPG ou com literatura em geral.
Muitos de nós gostariam de trabalhar na indústria do RPG. Mas poucos parecem realmente dispostos a cumprir todas as etapas para se tornar um bom profissional. Isto é algo que percebi só recentemente: é muito, muito melhor começar a trabalhar com pequenas coisas e aos poucos ir aumentando a dificuldade.
Se vocês tem acompanhado as postagens no .20, devem ter notado como os artigos para Tormenta RPG tem aumentado em complexidade de uns meses para cá. Do lançamento do livro, comecei por adaptar NPCs clássicos para o novo sistema, algo bem simples. Então passei a escrever dicas para criar heróis, adaptei raças e monstros clássicos, pensei em plots amplos para grandes ou pequenas campanhas, criei histórias para armas mágicas, refiz as classes de prestígio clássicas pelas novas regras e daí fui para a criação de CdPs originais. Também aproveitei para voltar a escrever pequenos contos, estudei técnicas narrativas simples, encomendei meu Writer’s Journey na Livraria Cultura… E semana passada decidi escrever minha primeira aventura completa.
E mesmo sendo uma aventura linear e sem muito brilho, não tive nenhum bloqueio para escrever e após uma breve revisão estava boa o suficiente para publicar no blogue. A experiência com os plots amplos me permitiu pensar numa história interessante, as dicas para criar heróis e as classes de prestígio trouxeram a facilidade para criar personagens interessantes, a habilidade com as fichas de NPCs e monstros me permitiu criar bons adversários para a aventura, e os contos me permitiram escrever as falas e as relações entre os NPCs com facilidade. No fim, O caso Mortus foi escrita em pouco mais de sete horas de trabalho, mais revisão.
O que quero dizer é que você não deveria começar por grandes desafios, se pretende trabalhar com RPG ou literatura. Comece pelo começo, domine todas as áreas possíveis, estude, trabalhe duro um caminho para o topo. Lembro de visitar a Jambô Editora e ver, sobre a mesa do Guilherme, vários originais encaminhados para apreciação. A maioria com centenas de páginas. Mas como é que um autor é capaz de escrever um livro de RPG de centenas de páginas e ser completamente desconhecido? Ele nunca escreveu um artigo em revista? Nunca manteve um blogue de RPG onde pudesse mostrar seu material para o público?
A Jambô não publicou nenhum daqueles originais que notei de passagem pela sala do Guilherme. E acho que isto é uma lição. Até mesmo os atuais autores de Tormenta tiveram que passar por um longo processo para chegarem onde estão. Leonel Caldela começou escrevendo um fanzine chamado Campanhas Inacabadas, e então contos para a revista Tormenta, vários anos atrás, antes do lançamento dos romances. O primeiro trabalho de Gustavo Brauner como autor, Guerras Táuricas, só aconteceu depois de um anos publicando adaptações, artigos e outras matérias na revista DragonSlayer.
O ditado popular é fruto da sabedoria acumulada de gerações, então não seja estúpido de ignorar toda essa sabedoria levianamente. Pense seriamente sobre o quê é publicar RPG e literatura no Brasil, e entenda que, num mercado extremamente competitivo como esse, você não tem uma segunda chance se começar com um grande fracasso. Mas talvez sobreviva e tenha tempo de amadurecer se começar com pequenos erros.

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