A Image Comics, previamente conhecida por títulos medianos Spawn, Witchblade e The Savage Dragon, vem passando por uma revolução de qualidade nos últimos anos em seu títulos de super-heróis. E essa revolução tem um nome: Robert Kirkman. O roteirista de The Walking Dead hoje é responsável por vários títulos de peso do universo de super-heróis da editora americana. Atualmente ele cria os roteiros de The Invincible, Wolf-man, B.R.I.T. e o iminente lançamento de Guardians of the Globe.
O sucesso de Kirkman está em explorar a fórmula criada em O Invencível: foco nos personagens, clichês mantidos na superfície mas subvertidos em profundidade, tratamento realista da violência entre pessoas que podem levantar um navio de guerra, e uma visão peculiar da vida pessoal dos super-heróis. Antes de começar, essa resenha tem alguns spoilers da história, se você liga pra isso, talvez seja melhor parar por aqui.
A história é centrada em Mark, filho adolescente do maior herói da terra, Omniman. Ele descobre ter herdado os poderes do pai e agora tem super-força, super-velocidade, invulnerabilidade e capacidade de vôo. Procurando atender as expectativas do pai ele se torna um super-herói sob o codinome Invencível, combate o crime e tenta levar uma vida normal, esta primeira parte é como o Homem-Aranha em seus melhores momentos na época do colégio.
E logo começamos a ser apresentados aos outros conceitos da fórmula de Kirkman. Mark é filho de uma humana com um alienígena da raça Viltrum, supostamente uma raça pacífica que vaga pelo universo ajudando outros povos, e sua força aumenta exponencialmente conforme avançam de idade. Logo Mark é forte o bastante para acidentalmente machucar seriamente até mesmo os super-vilões. Seu pai, que inicialmente parece apenas uma versão do Super-Homem, acaba mostrando-se um conquistador de um império intergaláctico apenas tirando umas férias de alguns décadas na Terra antes de conquistá-la, já que sua raça é imune a envelhecimento. Entre tudo isso Mark ainda tem que lidar com o alcoolismo de sua mãe, desiludida com os fatos sobre seu marido, e tentar manter um namoro sólido enquanto se prepara para entrar na faculdade.
Mas a trama não se concentra só em Mark, claro, temos inúmeros personagens secundários que, de tão bons, acabam ganhando séries próprias como é o caso dos Guardiães do Globo. Kirkman faz um bom trabalho em manter os outros personagens bem representados mas ao mesmo tempo sem roubarem a história (muito) para si. Ele também tem uma boa capacidade de rolar várias histórias paralelas ao longo da trama que em algum momento cruzam com a história principal. Essa capacidade se colocou a prova quando ele teve que escrever o grande evento da Image em 2009, a Invincible War, em que um inimigo de Mark com capacidade de viajar entre diferentes dimensões reúne um pequeno exército de versões alternativas malignas do herói para atacar a humanidade, em apenas uma edição Kirkman teve que lidar com todos os personagens da Image numa guerra em escala global. E conseguiu fazer isso bem, apesar da esperada sensação de que acabou rápido demais.
A Image tem muitos títulos atuais que não estão sob a pena do roteirista prodígio que é Robert Kirkman, mas que mantêm uma qualidade muito bacana. Dynamo 5, por exemplo, segue a fórmula de Invencível e consegue ser história em quadrinhos de primeira qualidade. Se você puder por as mãos nos títulos atuais da editora, é provável que não irá se arrepender. Aliás, como talvez vocês tenham percebido se entraram nos links da matéria, a Image libera de graça em seu site as primeiras edições da maioria das suas séries, então aproveite para dar uma olhada por si mesmo.
O Invencível é publicado no Brasil pela HQManiacs e está atualmente em seu terceiro volume, com preços que variam entre R$ 25 e R$ 30.