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Pare de Reclamar e vá jogar RPG

Sim, você leu bem: pare de torrar a paciência das pessoas pelo que elas estão jogando e olhe pra sua própria mesa. Há quanto tempo você não joga? E se está jogando, por que diabos o que os outros estão fazendo é motivo para te deixar preocupado? Você não é o Paladino Sagrado dos Sistemas do RPG, não há nenhuma cláusula ou regra em seu jogo favorito pedindo, implorando ou sequer sugerindo que ele precise ser defendido. Você não é inimigo de quem joga outro conjunto de regras ou em outro sistema por que lá os elfos são surfistas ou os dados tem mais ou menos lados.

Não há uma maneira errada de jogar RPG. E também não há uma maneira certa.

Eu mestro 3D&T Alpha para um grupo de amigos usando miniaturas de D&D, Warhammer, monstrinhos de plástico que eram brinde da Coca Cola há uns anos atrás, folhas sulfite e peças de Hero Quest. Um dos meus jogadores narra para seus primos de oito anos usando peças de lego e borrachas como se fossem monstros. Há alguns anos, joguei uma campanha de live action em que perambulávamos através de uma garagem vestidos de vampiros disputando conflitos no Pedra, Papel e Tesoura. Todos estávamos jogando RPG e nos divertindo com isso. O RPG não é excludente. Se você jogar GURPS num fim de semana e Toon no outro você não vai para o inferno dos RPGistas.

Não importa quandos lados seus dados tenham. O importante é que eles estejam rolando.

Vou te contar uma novidade: ninguém, no mundo inteiro, é melhor do que você por conhecer um jogo diferente.  Muito menos por ter decorado o livro de regras ou por ser dez anos mais velho e ainda jogar o “verdadeiro RPG de raiz”. Cada um pode gostar do que quiser e estar certo fazendo isto. Você  é tão bom RPGista jogando Call of Cthullhu quanto Pokemon. Tanto quem tenha jogado 25 sistemas indies diferentes quanto quem só aprendeu o básico de um Defensores de Tóquio a vida toda é  um RPGista.

O que vale não é quanto você conhece, mas sim o que faz com o conhecimento que tem. A melhor medida para o quão bom jogador você é está estampada na cara de seus amigos: eles estão gostando? Eles pedem pra jogar mais?  Sempre lhe convidam pra suas mesas? Eles curtem a história que jogam juntos e volta e meia gargalham  lembrando alguma idiotice que rolou em jogo? Parabéns! Sua mesa é ótima!

Você não precisa de nada que não lhe ajude pra jogar RPG.

Tudo o que as empresas oferecem são facilitadores para o jogo. Eles tem pessoas criativas que jogam muito e desenvolvem soluções que são vendidas como produtos. GURPS é um produto, por mais que você o adore e idolatre. D&D é um produto. Aquele jogo que um camarada fez e soltou para download é um produto. Você não precisa dele. Não precisa conhecê-lo para jogar. Não precisa se sentir menosprezado por não saber o que está rolando entre as editoras gringas. Não precisa comprar livros novos sempre que eles são lançados. Eles só são importantes se irão lhe ajudar de alguma forma. Aquele novo sistema vai lhe garantir mais diversão em menos tempo? Compre! O suplemento obscuro que trata de doenças venéreas dos trolls não acrescenta nada a sua campanha? Ignore!

Mas nunca, jamais, em qualquer hipótese, vá até o site onde os jogadores que consideram importante saber que um goblin tem um período de gestação de oito semanas ou onde pessoas estão conversando sobre como o novo bônus está tornando uma classe desequilibrada e arrote na cara deles o quanto estão errados por se importarem com isto. O novo-melhor-sistema-da-semana é tão bom quanto aquele sistema bolorento que você esqueceu por anos na prateleira e agora está jogando. Ambos são legais e são RPG. Você pode jogar cada um deles e também pode jogar os dois. Você igualmente pode não jogar nenhum deles e preferir seu sistema caseiro. Ótimo! O importante é que você vá jogar!

Não se aproxime da mesa formada por garotos jogando uma adaptação de Ben10 e diga o quão superior você é por jogar algo mais adulto. Você não é superior só por que joga outra coisa, em outro cenário ou qualquer outra bobagem Aliás, vale um ponto final nesta frase: Você não é superior. Use a internet como ferramenta para divulgar, criar e desenvolver RPG. Não para discutir quem tem o melhor sistema, até porque, os sistemas são apenas mecânicas que servem de apoio para a contação de suas histórias, e se você não conta histórias,  então eles não servem pra nada.

Discuta, Converse, Reflita… mas saiba quando parar.

Quando tinha mais tempo e participava de algumas listas de discussão, me tornei um  chato conhecido por vez ou outra mostrar os poréns em relação há algumas práticas relacionadas ao RPG e a própria convivência virtual entre os usuários. Apesar de várias vezes ter sido mal interpretado, em nenhum momento minha intenção foi meramente reclamar (sério). Refletir e conversar são práticas necessárias para o desenvolvimento de uma idéia. Você pode aprender muito apenas conversando sobre um tema com pessoas que tenham a mente aberta e que saibam do que estão falando.

Se refletirmos um pouco, você faz isso o tempo todo no seu dia a dia. Até na hora de decidir junto à sua esposa ou seus amigos se irá comprar Coca Cola ou Fanta Uva. Só que no seu dia a dia você não corre o risco de alguém aleatório cujo facócero você nunca viu mais torto te parar no meio do supermercado, apontar o dedo e dizer “semana passada você deveria ter comprado Coca Cola, porra“.

Estranho, mas é o que acontece na internet. Todos acham que tem razão, que tem uma opinião que deve ser levada em conta e estão dispostos a te ofender apenas para mostrar seu ponto de vista. É vital saber quando parar. Sempre que alguma frase liga meu filtro pessoal do quão longe eu estou indo apenas para fazer prevalecer um ponto de vista, eu simplesmente me retiro da discussão. Ninguém é obrigado a mudar de idéia apenas pelo que você pensa, mas as vezes é válido repensar alguns pontos de vista baseadas na opinião de terceiros. Você não deve engolir todos os sapos deste enorme brejo www. Mas  deve ponderar se realmente vale a pena continuar dando murros em ponta de faca, ou, ainda, se não é você que está errado. Sim, você também erra, se engana, fala mais do que deveria. Sempre haverão pessoas cuja opinião não bate com a sua. E, às vezes, quem está errado na internet é você.

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