Mesmo meio atrasado, segue a contribuição do Roleplayer para o tema de Março da Liga Narrativa, o projeto de vários sites em prol da contação de histórias. O tema da vez foi Banquetes, e como estou num período meio bagunçado, resolvi reciclar um conto já antigo que foi escrito por minha esposa junto comigo para um saral literário.
Não se trata exatamente de um banquete, apesar do protagonista Pedro banquetear-se no fim da história. Sério… até hoje tenho calafrios quando lembro da cara do público quando ouviu ela declamando o conto…
Aniversário de Namoro
Por Marlon e Shandi
A primeira vez que Samara viu Pedro foi em uma festa na casa de uma amiga. Apaixonara-se por ele assim que trocaram poucas palavras. A maneira como tocou-lhe o rosto afastando os cabelos e o demorado beijo à prenderam de uma forma que jamais esqueceria. Ela o amava, tinha certeza.
Se encontraram algumas outras vezes e Samara percebeu que aos poucos Pedro se afastava dela. Aflita com a possibilidade de perdê-lo, resolveu engravidar. Para ela, um filho lhes traria o tempo que precisavam para se conhecer melhor. Casaram-se um mês depois. A festa, paga pelos pais de ambos, estava perfeita. A noiva estava radiante, mas Pedro não sorria.
“Com o tempo ele irá me amar” pensava ela.
Mas o tempo passava depressa. Estava no sétimo mês de gestação quando chegou o dia do seu primeiro aniversário de namoro. Iriam completar um ano do dia em que se conheceram. Samara combinou com Pedro que chegasse mais cedo do futebol, pois prepararia um jantar especial para ambos. Banhara-se, perfumara-se. No rádio da sala de estar, um CD com a música da festa do dia em que se conheceram tocava repetidamente.
Na mesa, o prato favorito de Pedro esfriava. O marido chegou três horas após o horário combinado, completamente bêbado e cheirando à perfume de mulher. Nem notou Samara aos prantos, a música ou às flores que decoravam o lugar. Apenas subiu para o quarto – as chuteiras enlameadas largadas pelo caminho – restringindo-se a deitar sujo na cama, virar-se para o outro lado e roncar sonoramente.
Despertou apenas no dia seguinte, o estômago roncando. Levantou-se, lavou o rosto e desceu para o café. A mesa ainda estava posta. Encontrou Samara no mesmo lugar, onde silenciosa e gelada, ainda contemplava a porta. Do seu ventre rasgado escorria o sangue que banhara o chão da sala. Mãe e filho. Mortos. A música que repetia interminavelmente tornara-se um mantra fúnebre.
Pedro; faminto, sentou e comeu.
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