Editando uma antologia que reúne contos de diversos jovens autores cheguei a um postulado de que 90% da safra dos nossos jovens escritores não sabem, exatamente, o que é um conto. Ou mesmo as diferenças entre os gêneros da prosa.
Durante a seleção que venho fazendo para o miolo deste livro pude notar alguns textos com potencial a ser explorado – Boas idéias, boa pesquisa, boa construção de personagens mas falta total , ou parcial, de estrutura de conto. Isso é um paradigma que me leva a seguinte questão: até que ponto é válido e produtivo a edição de texto se estender, de forma intensiva e até radical, a estrutura da narrativa elaborada pelo autor?
Uma vez li uma entrevista com um editor norte-americano que não me recordo o nome. A questão é que ele disse, em certo ponto: “a mão de um editor deve ser invisível“. Realmente deve, mas em alguns casos a necessidade faz a situação. E eu ainda me pego na busca de uma resposta definitiva e imparcial sobre a questão levantada.
Mas vamos direto ao que interessa…
Me conte uma história?
Quem escreve contos é chamado de Contista, que nada mais é do alguém que transmite uma leitura factual partindo de um registro narrativo escrito, ou oral (como os bardos de outrora). A principal diferença é que na literatura existe uma preocupação maior e imprescindível com recursos estéticos, estruturais e teóricos.
O conto é, então, talvez uma das primeiras manifestações que deu origem a nossas conhecida Literatura, e impossível de precisar seu surgimento. Visto que antes mesmo da invenção da escrita já existia a tradição da narrativa oral.
Esse gênero da prosa só tomou forma mesmo lá pelo século XIX, sendo aprimorado devido ao espaço que os jornais davam para escritores publicarem seus contos (Short Story). O conto moderno foi muito influencido por autores como Allan Poe, Tchekóv e Maupassant.
Conceito (ou o básico do básico)
Conto significa “Narração falada ou escrita de um acontecimento (fato)“
Um conto é uma narrativa curta, breve e concisa, onde o autor constrói a obra para subsidiar seu desfecho – que será o clímax do conto.
Em um conto não é necessário situar o leitor, traçar linha cronológica e dissertar sobre a sociedade em que se encontra o protagonista. Um conto descreve um fato, um ‘causo, um acontecimento que leva ao desenlace, usando cada frase como um fio condutor para o clímax final. Então o cenário fica, aí, em segundo plano, com a situação-problema em evidência e/ou a investigação psicológica do personagem a protagonizar a narrativa.
Não é tão alienígena quanto possa parecer.
Escrevendo contos
Para Piaget, o conhecimento é construído através da interação do sujeito com seu meio, a partir de estruturas existentes. Assim sendo, a aquisição de conhecimentos depende tanto das estruturas cognitivas do sujeito como de sua relação com o objeto. Gerard Genett dizia: “O discurso literário se produz e se desenvolve segundo estruturas que só se pode realmente transgredir porque as encontra, ainda hoje, no campo de sua linguagem e sua escritura”. Isso demonstra que, para um autor escrever bons textos em prosa, é necessário adquirir conhecimento estrutural (teoria do conto, neste caso) e se relacionar com o objeto (conto) para, depois de assimilado o conhecimento, existir a possibilidade de sua transgressão para a composição de boa literatura – não que seja fórmula de sucesso transgredir padrões literários, no entanto quem o faz com primor acaba se destacando, uma vez que só é considerada Literatura (com “L” maiúsculo mesmo), aquelas obras de autores que, de alguma forma, revolucionam ou inovam conceitos (transgredindo-os muitas vezes).
Para saber mais
Como vocês devem ter percebido dei algumas pequenas pinceladas sobre um assunto abrangente e controverso, sem tempo e paciência para dissertar mais eu indico a leitura de autores como Allan Poe, Guy de Maupassant, Tchekóv, Tzetan Todorov, Isaac Asimov e a leitura indispensável do livro Teoria do Conto, da autora Nadia Batella Otlib, editora Ática.