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Falando com o Mestre: Tiago Lobo

Tiago Lobo é um velho conhecido dos leitores do .20, já que colabora com o blog ocasionalmente há cerca de um ano. Há alguns meses as colaborações aqui se tornaram mais escassas, afinal, agora ele tinha outras responsabilidades para com a Jambô Editora. Primeiro como diagramador e logo em seguida como editor-assistente responsável pela linha de literatura de fantasia da Jambô.
Nesta entrevista, concedida no dia 9 de dezembro, ele revela novidades sobre a linha de literatura sob sua responsabilidade e fala sobre as dificuldades e o dia-a-dia de um jovem editor na empresa gaúcha.
.20: Tiago, você vem trabalhando com a Jambô em diversos livros nos últimos meses como diagramador da série de Fighting Fantasy e editor do concurso Caminhos Fantásticos. Qual sua principal função dentro da editora, essa capacidade de realizar múltiplos trabalhos é importante dentro do mercado editorial?
Tiago Lobo: Bem, eu comecei como diagramador da linha Fighting Fantasy e acabei lançando uma proposta de ampliar a linha de literatura de fantasia da editora. Foi um processo gradual e eu diria até natural, visto que a editora já tinha esse interesse em entrar com mais intensidade em um novo nicho de mercado.
Hoje eu sou editor-assistente, mas ainda diagramo algumas coisas. Meu trabalho se resume a achar obras para serem publicadas e apresentar isso pra editora – que tem apostado e investido nas minhas escolhas. Feito isso, eu edito e diagramo o material. Costumo dizer para os nossos autores – me apresentem bons textos que nós criamos bons livros.
Creio que em qualquer área a capacidade de adaptação e flexibilidade de um profissional é fator chave para o sucesso de um produto/ trabalho. Eu tenho uma política interna de acompanhar e saber (ou estudar) executar todo o processo, para caso exista algum imprevisto eu não perder o controle.
.20: Quais são os planos para a série Fighting Fantasy em 2010? E a série Caminhos Fantásticos, o primeiro volume sai ainda no primeiro trimestre?
Tiago Lobo: Creio que sim, o cronograma da série Fighting Fantasy é definido pelo Guilherme, que administra a editora, os lançamentos e bate o martelo – ou não – nas nossas reuniões.
Mas com certeza a linha não está parada. Em 2010 virão novos títulos da série e eu continuo como diagramador da linha.
Sobre a série Caminhos Fantásticos. Em 2010 virão novos títulos da série com novas pautas.
.20: Você mencionou reuniões com o Guilherme (Dei Svaldi, editor-chefe da Jambô), como funciona o processo de publicação dentro da Jambô?
Tiago Lobo: Falando de literatura é bem simples: eu avalio originais e lanço propostas de publicação mostrando para a editora como pretendo trabalhar o produto. Debato com o Guilherme e ele estuda a viabilidade da publicação, depois me envia sinal verde ou não. Até agora todos os lançamentos que eu tenho sugerido estão sendo muito bem aceitos, o que me dá confiança e uma liberdade muito boa para trabalhar.
Agora, jogos de RPG funcionam quase da mesma forma, mas eu não tenho me envolvido com isso. As decisões partem de conversas entre os autores e a editora.
.20: Além da série Caminhos Fantásticos, que outros livros estão nos planos da editora a linha de literatura em 2010?
Tiago Lobo: Bastante coisa…
Eu não posso, ainda, assegurar títulos, mas teremos no mínimo mais 3 romances que já estão em fase de produção e com contrato assinado. E não, não estou falando de uma nova Trilogia de Tormenta, é muito cedo para isso.
Ah, para deixar os leitores mais curiosos eu posso adiantar que temos dois romancistas já conhecidos no mercado de RPG que serão publicados pela editora agora em 2010.
.20: Bom, romancistas brasileiros que já trabalharam com RPG não são exatamente muitos. Marcelo Cassaro e Antônio Shaftiel são dois dos nomes que me veem a mente que já publicaram tanto livros de RPG quanto romances por outras editoras. Alguma chance de vermos estes nomes novamente em 2010?
Tiago Lobo: Sim, existem grandes chances de vermos o Antônio Shaftiel, por exemplo, no cast de autores da Jambô agora em 2010.
.20: Uma ótima notícia para os fãs do Shaftiel, que andava meio sumido desde que a editora Daemon esfriou seus lançamentos. Pode adiantas alguns detalhes do novo livro, ou será alguma republicação?
Tiago Lobo: É possível que o Guilherme me estrangule, mas acho que os fãs e leitores merecem algum spoiler: eu estou trabalhando na nova edição do romance Sangue e Glória, que sai agora em 2010, e existe a possibilidade de lançarmos uma  continuação para a saga dos espartanos. A edição está ficando bem legal, sem dúvida será um livro muito bonito!
.20: A Jambô vem se expandindo rapidamente nos últimos anos, primeiro como editora de RPG, agora como editora de RPG, livros-jogos e literatura. Existe alguma possibilidade de vermos novas investidas da editora em mercados pouco explorados nos próximos anos?
Tiago Lobo: Com certeza!
Eu estou muito satisfeito de trabalhar na Jambô pois existe pioneirismo e vontade de crescer mais a cada ano. Os irmãos Svaldi administram a editora de forma que ela sempre surpreenda e agrade seus consumidores. Esse tipo de ambiente de trabalho acaba sendo motivacional para os funcionários, artistas e clientes da editora que precisam ser alimentados com novos produtos, linhas e idéias.
Não imagino a Jambô que conheço hoje sem nos surpreender com iniciativas a cada ano que passa. E o melhor é que o Rafael e o Guilherme conseguem se manter muito centrados, estudando e arriscando novas empreitadas no momento certo, sem abraçar idéias e produtos que a editora não posso trabalhar e alimentar.
.20: Atualmente, que idéias e produtos estão nesta fase de “estudos de risco”?
Tiago Lobo: É muito cedo para falarmos disso, até para não criarmos expectativas e frustrar nossos consumidores, mas hoje mesmo eu estava conversando com o Guilherme e procurávamos meios de vender jogos de RPG dentro de lojas de brinquedos. É uma idéia.
E um grande sonho meu e do Rafael, para um futuro incerto e longínquo, é criar uma linha de miniaturas para jogos de RPG – de vez em quando temos conversas sobre isso, mas nunca saímos da vontade para um projeto real. Quem sabe um dia? Torçam daí que eu torço daqui!
.20: Você é relativamente jovem, com 20 anos de idade, sente alguma pressão por trabalhar com autores normalmente muito mais velhos e experientes que você? Como lida com essa situação?
Tiago Lobo: Boa pergunta. É um ponto importante a ser abordado: sou jovem mesmo e no início eu me sentia intimidado pela possibilidade de editar (!) grandes autores, gente que eu cresci lendo.
Mas isso passou com o tempo, pois todos os autores que eu já trabalhei e almejo trabalhar sempre confiaram muito no meu trabalho e sempre foram muito solícitos quando eu os procurava com alguma dúvida, pois sim, editores são seres humanos e possuem dúvidas e também erram!
Inclusive o Guilherme e Trio Tormenta me ajudaram muito neste processo. Lembro de conversas que eu tive com eles sobre edição e, principalmente o Guilherme e o Trevisan, me passaram conceitos que eu uso até hoje no meu trabalho.
Mas claro, ser jovem e trabalhar como editor, mesmo que assistente, acaba esbarrando em preconceitos bobos. Mas eu contorno isso com muito bom humor e mantenho a seguinte política: eu só trabalho com pessoas de mentalidade aberta e criativa. Quem não se permite ser editado baseando-se apenas na idade do seu editor precisa, antes de qualquer coisa, se despir do seu ego exacerbado.
Acho que é simples assim. Os  grandes escritores com quem tenho me relacionado nunca questionaram minha capacidade devido ao fato de eu ter 20 anos. Se idade garantisse conhecimento não teríamos gênios já crianças.
E parafraseando Goethe: Quando não se sabe para onde se vai, nunca se vai muito longe.
Eu sei.
.20: É de crença geral que os editores escolhem os autores com quem gostariam de trabalhar baseados num estilo próprio de leitura. Como você definiria o seu estilo de leitura e o tipo de autor com quem gostaria de trabalhar?
Tiago Lobo: Eu discordo desta crença. Meu gosto pessoal influi muito pouco nas decisões do que vou apresentar para a editora como possibilidade de entrar para nossa linha ou não. Procuro boa literatura, livros divertidos, romancistas que prendam e causem sensações no leitor – quando leio um manuscrito que possui essas qualidades, eu estou lendo um possível lançamento da editora.
Eu sou muito eclético se tratando de manifestações artísticas. Talvez por ter nascido em um ambiente permeado de cultura, onde minha mãe lia muito para mim e meu pai me levava a shows e sempre me mostrava muita arte eu não tenho um padrão.
É claro que existem livros com tema que não me interessam, mas meu dever é conhecer o público que eu estou atendendo e levar títulos que eles gostariam de consumir.
E eu gosto de trabalhar com autores audaciosos, dinâmicos, geniosos, aqueles artistas que poucos conseguem compreender como podem ser tão bons no que fazem.
Creio que todo o editor procura descobrir um grande talento. Esse é o meu objetivo, quanto mais talentos eu descobrir, mais satisfeito profissionalmente eu vou ficar.

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