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A História Antiga de Meliny

O que irei lhes contar não é algo com o que você esteja habituado. Pois não irei lhes falar como o longo transcorrer das eras de um mundo afetaram os homens que nele viviam. Ao contrário, irei contar-lhes a história do homem que mudou o mundo pela ambição, subjugando até mesmo os grandes deuses sob o desvario de seus planos, valendo-se para isto apenas de sua própria astúcia. E com ela alterou toda a história dali em diante.
Sim, é claro que Meliny surgiu de alguma forma. Há lendas, muitas. Belas e terríveis, sobre a origem mágica dos elfos, da benção que salvou os anões de um triste fim ou da odisséia migratória dos humanos desde o extremo e gelado norte até as terras acaloradas no coração do mundo. Irei lhes falar delas quando convier aos nossos propósitos.Mas tudo ao seu tempo. Para que você compreenda o que hoje vivemos, não precisamos ir tão longe. Tudo começou há apenas quinhentos anos. Ou melhor, trezentos anos antes disto.
Como você deve saber (pois isto é senso comum entre todos os exploradores de mundos mágicos) a magia é extremamente complicada de se lidar. Apenas raças especialmente afortunadas lidam com ela naturalmente. Mas não é incomum que magos membros de povos não mágicos tenham tentado dominá-la, e através dos séculos com estudos e dedicação conseguiram alguns efeitos menores utilizando-se de fórmulas e gestos.
Talvez você já tenha se pego perguntando o que enfim é a magia. Nós, em Meliny, também não sabíamos, e até mesmo temíamos sua força até que um mago especialmente sábio chamado Donaire desvendou o segredo dos Elementos. Em um livro (cujo original atualmente está desaparecido), descreveu a Teoria Elemental. Ele dividiu os elementos em quatro Escolas de Magia: Água, Fogo, Terra e Ar, acreditando que se manipulados separadamente, seriam capazes de efeitos maiores do que a mera energia arcana era capaz de proporcionar.
E ele estava certo. Foi sobre a Teoria Elemental que anos após o mago Hadji trabalhou após uma quinta escola (a Necromancia, a Magia das Sombras ou Trevas) e convencionou-se que a força manipulada pela fé dos sacerdotes era igualmente um caminho mágico, a escola Branca (ou da Luz, ainda que clérigos malignos também recebam poder dela). Juntas, os Seis Caminhos Elementais eram os responsáveis não apenas pela magia, mas também pela criação de tudo o que existe.
Mas Donaire foi ainda mais longe. Se tudo o que existia e que formava o que chamamos de Realidade era composto destes seis elementos, ele aceitou que os próprios deuses utilizaram-se destes poderes para criar o mundo de Meliny. Não tardou para chegar a uma conclusão que foi definitiva para dar inicio a cadeia de acontecimentos que culminariam em uma guerra jamais vista, anos após: se o poder dos deuses podia ser manipulado pelos magos, os próprios magos seriam capazes de se tornar divinos.
Procurou então entre as muitas lendas deste mundo uma que lhe aproximasse da origem da força mágica, ao qual chamamos de mana, que nada mais é a força dos elementos que flui através de Meliny. Viajou por todo o mundo atrás de registros dos tempos antigos, anteriores aos anos em que as trevas governaram e a aurora dos povos. E nas ruínas de um templo (que supõe-se fica em algum lugar no extremo oeste, onde ninguém mais vive)  soube da história de Dee’jihn.
Dee’jihn não nasceu deus. Pertencia a uma outra estirpe igualmente poderosa conhecida como Primarca. Teria unido-se ao panteão durante uma batalha divina chamada simplesmente de Guerra Elemental, traindo seus irmãos e trazendo consigo seis Grandes Filhos (ou Sultões Elementais) e um artefato primarca conhecido como A Lente Elemental. Há tantas histórias sobre este magnífico item que poderiam apenas com elas preencher vários tomos. Mas para fins de compreensão, basta por hora sabermos agora que seu possuidor é capaz de, sob sua vontade, aumentar ou diminuir a quantidade de magia em toda Meliny.
Como cada um dos Sultões regia um dos caminhos arcanos elementais, e como Dee’jihn havia usurpado a Lente Elemental, sua deserção provocou uma virada na batalha que foi definitiva para a vitória dos Deuses e o posterior cárcere dos Primarcas derrotados muito além dos Abismos Celestes, de onde esperava-se que jamais regressariam.
A lenda terminava falando que após esta guerra, Dee’jihn assumiria o posto de Deus dos Elementos e dos Desafios. Deste dia em diante, Donaire tornou-se obcecado pela lente, passando a procurá-la por toda Meliny. E numa destas viagens que ele teria conhecido Mab, a Rainha das Fadas, ao qual desposou anos após.
Após a união ambos tiveram três filhas semi-divinas: Luma – que se tornaria a deusa do amor, Phoebe, deusa das criaturas mágicas (?) e Harmônia, a deusa da música. Enfim, após toda uma longa vida de feitos até hoje cantados pelos bardos, Donaire foi agraciado pelos deuses com o status de deus menor dos arcanos.
Agraciado com a imortalidade, desenvolveu as primeiras ações para a criação de três guildas arcanas, responsáveis por auxiliar e educar novos magos. Escolheu então dois dos mais visionários e sábios dentre os magos de seu tempo: Skelos, um famoso construtor de artefatos arcanos e Valen, um necromante clérigo de Lantaris, a deusa das trevas, enquanto ele próprio governaria a terceira Guilda, onde ensinaria suas doutrinas quanto às energias dos elementos.
Infelizmente, nenhum dos deuses compreendeu o que motivava Donaire. Conforme o poder das Guildas crescia e se espalhava, o deus dos arcanos crescia em influência e força. Dentro em breve, tinha vantajosos contatos até mesmo com algumas das divindades panteônicas. Em especial, era continuamente visitado por Cyrr, a encarnação do caos, que lhe falava por horas sobre os pilares que sustentavam a realidade e o poder divino.
Talvez por ação de Donaire, ou do próprio acaso (há quem diga que por obra do Destino), os grandes reinos que governavam o mundo ruíram quando o poder das guildas atingiu seu auge, sendo que os magos naturalmente assumiram o poder dos reinos, reinando sobre todo o mundo. Esta época tornou-se conhecida como a Era da Magia, e foi marcada por longos anos de prosperidade e relativa paz, em que o poder de Donaire cresceu a tal ponto que muitos já o veneravam como sendo a divindade única da Magia.
De fato, ele era realmente poderoso, mas faltava-lhe algo que vinha buscando através do tempo. Era o dom da criação, da compreensão absoluta do todo. Donaire desejava o poder total e irrestrito de criar. E em uma de suas conversas com Cyrr, conheceu a lenda sobre a origem do universo, em uma época em que tudo o que hoje existe fazia parte de uma única entidade suprema. Era o objetivo final de que ele precisava.
A partir deste ponto, a própria história é confusa e cheia de dúvidas. Sabe-se que Donaire esteve com Dee’jihn, e o desafiou a confidenciar-lhe onde escondia a Lente Elemental. Tentado, o Deus dos Desafios propôs um enigma que se desvendado lhe daria a pista da qual precisava para conquistar a Lente. Há quem acredite que o acaso de Cyrr também colaborou para o sucesso do deus dos magos. De uma forma ou de outra, ele desvendou o mistério, e mesmo com todos os pedidos dos deuses que o acolheram, Dee’jihn negou-se a quebrar o acordo e entregou a pista prometida.
Dali em diante, foi apenas uma questão de tempo. Donaire descobriu o caminho, recuperou a Lente Elemental e liberou por completo a entrada de mana em Meliny. A magia era tão abundante que cada mago tornou-se capaz de sozinho fazer frente a um pequeno exército, e com tamanho poder, os governantes arcanos escravizaram o povo e subjugaram as cidades.
As súplicas do povo oprimido foram ouvidas pelas divindades, e estas desceram ao mundo para rogar por seus filhos. Porém, este era o movimento que Donaire desejava, e utilizando-se de grande magia, aprisionou as almas dos deuses em seus avatares, isolando-os dos seus reinos divinos. Sozinho, marchou em direção aos céus, e de lá comemorou seu triunfo completo. Agora era a única divindade reinando sobre toda Meliny, e restava pouco tempo até a unificação total do universo conhecido.
Em terra, os deuses foram obrigados pela primeira vez em eras a lutar por sua própria sobrevivência. Organizando a resistência dos povos contra os magos, criaram o Castelo de Ferro e a ordem dos Caçadores Arcanos, e passaram a eliminar pontos chave das Guildas. Isto fugiu dos planos de Donaire, que acreditava que apenas os magos imbuídos do poder máximo seriam suficientes para eliminar definitivamente os deuses.
Quando as perdas se tornam demasiadas, ele próprio resolve voltar à Meliny e enfrentar os deuses pessoalmente.
Nesta batalha, vários dos membros do panteão são mortos e banidos para o Esquecimento (onde eras antes haviam sido aprisionados os primarcas). Quando tudo parecia perdido, Hannah aceita sacrificar-se para forjar a Lança, um artefato divino capaz de matar um deus. Armado com a Lança, Yius enfrentou Donaire e por fim o venceu, colocando um fim ao seus planos.
Dee’Jihn é culpado pelos outros deuses por ter dado tamanho poder a um homem, mas em sua defesa insiste em dizer que cada um, à sua maneira, igualmente contribuiu para os planos do deus dos magos. Para mostrar que sua opinião é definitiva, recolhe-se em isolamento, anunciando que retornaria ao Panteão apenas quando achasse ser digno da confiança dos demais deuses.
Mab, ainda que enlutada pela morte do amado esposo, assume a posição de deusa que Donaire possuía, cabendo a ela reorganizar o mundo e as guildas arcanas. É o advento da Nova Era do Mundo. A era em que hoje nós vivemos.

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