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Falando com o Mestre: Marcelo Del Debbio

Marcelo Del Debbio é sócio e fundador da Editora Daemon. Criada em 1990, a Daemon já produziu diversos clássicos do RPG nacional, como Trevas e Arkanun e literalmente dezenas de outros livros. Nesta entrevista, Del Debbio fala sobre as dificuldades de se publicar RPG no Brasil, a volta às bancas do RPG Quest e a polêmica por trás do futuro lançamento do Guia de Armas Medievais 4ª Edição.
.20: Marcelo, quais são as dificuldades com a linha de RPG que a Daemon enfrenta atualmente?
Marcelo Del Debbio: As dificuldades estão na falta de pessoal para escrever os livros. Como é um fato óbvio, editoras vivem de ganhar dinheiro, seja com RPG ou com outras publicações. No caso da Daemon, depois da Bienal de 2008, quando saiu a Enciclopédia de Mitologia, eu passei a me devotar mais para este segmento de história da arte, mitologia e mitos comparados, que é minha vocação acadêmica.
O Norson recebeu uma proposta de trabalho pra uma empresa gringa de jogos eletrônicos e estava também trabalhando meio período. Então passou a se tornar um problema de “quem vai escrever o quê”. Eu adoro escrever RPGs, mas se considerarmos o tempo investido em escrever um livro de RPG vs retorno financeiro com o de um livro de ritualística maçônica ou rosacruz vs o retorno financeiro, fica complicado arrumar tempo para dedicar ao livros de RPG.
Por conta disso, praticamente não lançamos nada de RPG neste ano. Temos o Shudras, que é o 4º suplemento para Maytréia saindo agora, que foi quando o Danilo conseguiu entregar, e o Guia de Armas Medievais 4ª Edição agora no final do ano.
O Shaftiel esta ocupado com o mestrado/doutorado dele e também anda sem tempo de escrever, então pode-se dizer que estamos “empacados” por falta de autores.
A Daemon, como editora, fatura até mais do que no ano passado; o próprio segmento de RPG caiu pouca coisa em vendas, continua no mesmo patamar. o problema é que se não lançamos livros, as pessoas acabam achando que a editora parou ou saiu do mercado
.20: E essa falta de autores, tu atribui a qual fator?
Marcelo Del Debbio: Não sei… Falta de gente que saiba escrever, que tenha boas idéias, que as coloque no papel e as apresente. Uma vez por semana recebemos propostas de “livros quase prontos”, mas quando vamos ver, o fulano escreveu meia dúzia de páginas e quer uma “garantia” da editora de publicar para que possa continuar a escrever… Como assim “garantia?!?!” como é que eu posso ter certeza que o material é bom pra dar qualquer garantia? Aí o fulano desaparece…
.20: E o Domini Urbs, ou Cidade de Prata, que o autor liberou alguns esboços da arte, está nos planos da editora para publicação?
Marcelo Del Debbio: É o livro que o Shaft está trabalhando, assim que ele entregar publicamos direto.
Hoje em dia temos o Shaftiel e o Danilo cuidando respectivamente das linhas Trevas e Maytréia. Eu confio plenamente no trabalho deles, então quando entregam um livro pronto, tudo o que faço é diagramar e publicar… Só vou ler o que escreveram durante a publicação. Eles já passaram da fase que precisam de aprovação ou de revisão dos textos.
.20: E a editora possui algum projeto em andamento, ou sendo estudado, para publicação de novos títulos ou linhas?
Marcelo Del Debbio: O problema é justamente o que falei… Eles conseguem produzir um livro por ano, talvez no máximo dois cada um… Temos o projeto do RPGQuest, que está novamente nas bancas, aguardando para ver como foi o retorno em São Paulo e Interior, e publicaremos o RPGQuest Camelot como sexto livro da série. Escrito pelo Alexandre Garzeri, que é outro mega-ocupado tentando arrumar tempo para finalizar o projeto.
Da minha parte, estou escrevendo um tratado comparativo entre os ritos maçônicos de York, Escocês, Adonhiramita, Moderno, Brasileiro e Schroeder para o grande Oriente do Brasil… está ficando fantástico, mas duvido que os leitores de RPG tenham interesse nele.
O norson esta trabalhando no Guia de Armas Medievais 4a edição.
Novas linhas são complicadas, porque demandam começar do zero… Eu queria ter publicado o Tagmar; seriam 10 livros prontos para lançar, mas a licença nova deles não permite publicações comerciais, então acabamos não finalizando.
.20: Marcelo, sobre a volta do RPG Quest às bancas, o que, em primeiro lugar, provocou essa paralização e o seu retorno às bancas?
Marcelo Del Debbio: A compra da Schinaglia (Distribuidora) pela Dinap e toda uma reestruturação nas regras de distribuição de revistas em bancas. Antigamente, com diferença de três meses, poderíamos mandar para as bancas todos os livros que não tivessem vendido e repetir o processo indefinidamente. Foi assim que a Dragão Brasil sobreviveu bem tantos anos. Com as regras novas, os descontos, multas e penalidades para relançamentos ficaram tão ruins que praticamente acabaram com o processo… Nessa sumiram as revistas do tipo da Dragão Brasil, os mangás (que por serem baratos, praticamente passaram a dar muito prejuizo nesse novo esquema), e o RPGQuest.
Por isso estamos trabalhando com outra distribuidora de bancas agora.
.20: Fale mais sobre Shudras, o próximo livro de Maytréia, e o universo do jogo em si.
Marcelo Del Debbio: Shudras fecha a última classe dos Magos de Maytréia. O universo de Maytréia é a contraparte do Trevas; enquanto toda a ambientação da linha Trevas é baseada na Kabbalah e nas Ordens esotéricas ocidentais, Maytréia é baseado na Teosofia, Budismo, Taoismo e religiões orientais. Juntos formam perfeitos complementos para quem quer jogar uma campanha baseada no mundo moderno e com base nos sistemas de magia reais, adotados pelas Escolas iniciáticas.
Maytréia é um projeto bem bacana, do Universo Germinante, e pode ser utilizado sozinho ou em conjunto com os livros das outras linhas. O único porém dele é que é um RPG mais maduro, voltado para adultos e com uma base muito pesada de roleplay.
.20: Qual a sua opinião sobre o cancelamento do EIRPG e o surgimento de iniciativas independentes como RPGCon e Encontro de RPG de Curitiba?
Marcelo Del Debbio: O EIRPG jah vinha sofrendo uma serie de problemas de falta de patrocínio, pouco público, falta de atrações, custos altos… Acho que chegou a um ponto onde não dava mais para prosseguir… Conheço bem o pessoal que organizava, fui em todos os EIRPGs e sei que se ele foi cancelado, é porque realmente não havia MESMO nenhuma outra alternativa.
O RPGCon segue um outro modelo, como era a USPCON. Mais ágil e tranqüilo: não requer grandes investimentos e tem um retorno semelhante ao EIRPG (lembre-se que o EIRPG incluia um gasto enorme só em passagens, estadia, alimentação, staff, banners, cartazes, etc), o RPGCon foi feito no boca-a-boca praticamente.
Acredito que eventos como o RPGCon são a saída. eventos pequenos, bem organizados e que envolvam a participação do público e dos sites, listas e blogs. O RPG é um jogo interativo, os eventos também precisam ser assim!
.20: o que você acha da iniciativa de produzir eventos temáticos que deve começar com a segunda RPGCon?
Marcelo Del Debbio: Acho que valeria mais a pena agregar tudo em um só ao invés de ir separando… Já temos eventos demais de anime, e todos eles andam cada vez com menos pessoas… Se a fórmula é usada à exaustão, ela acaba secando a galinha dos ovos de ouro.
Não estou por dentro da organização do RPGCon, mas acredito que seria mais interessante agregar os eventos tematicos em um mesmo evento maior.
.20: Sobre a polêmica do Guia de Armas Medievais 4ª Edição ser publicado para múltiplos sistemas, incluindo D&D 4E, o que você tem a dizer?
Marcelo Del Debbio: A legislaçao brasileira não nos proíbe de colocar regras matemáticas em textos, ou seja, desde que nao coloquemos logomarcas ou termos com copyright, podemos colocar “dano XYZ” ou “propriedades ABC” sem problema algum. O mesmo vale para qualquer sistema matemático.
O Guia de Armas Medievais não é um livro pra 4ª edicao [de D&D], é um Guia de Armas Medievais. Usamos os mesmos parâmetros matemáticos de diversos sistemas de RPG nele, justamente porque não tem problema algum fazer isso… Já háviamos visto este problema em 1999, quando decidimos colocar regras do GURPS ou Storyteller no livro
Eu não acredito que haverá polêmica, já que temos ótimas relações com todas as editoras e representantes cujos sistemas usamos no Guia de Armas Medievais, e assim tem sido feito há mais de dez anos. Para as editoras, é ótimo que o Guia de Armas Medievais tenha o sistema de seus jogos, pois é uma divulgação de graça do sistema
.20: Bom, acho que podemos encerrar por aqui, Marcelo. Muito obrigado por separar um tempo para falar com a gente. Gostaria de alguma última mensagem aos leitores?
Marcelo Del Debbio: Eu que agradeço. Bem… o pessoal que quiser dar uma olhada no tipo de material que eu tenho trabalhado, pode acessar meu blog. Não é RPG mas com certeza quem joga Vampiro ou Trevas vai curtir.
Abração!

Por Nume Finório e Tiago Lobo

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