Geralmente me abstenho de opinar sobre o trabalho dos colegas blogueiros, mas após ler o artigo do Ooze sobre o preço do Dungeons & Dragons 4E em português — em torno de R$80,00, caso esteja curioso –, pensei ser necessário comentar. Mais precisamente, sobre uma das razões citadas para justificar que o preço não é tão salgado assim.
4 – Capa Dura ! Diferente do Mutantes e Malfeitores que no Brasil é capa mole e miolo em P&B, em desacordo com sua versão gringa, o D&D com capa dura espelhada, totalmente colorido e muito provavelmente com papel semelhante ao seu primo americano. Ou seja, uma versão bastante fiél.
Sinceramente? Grande porcaria. Além de ser meio que sacanagem com a Jambô. Posso ter me equivocado, mas o teor da mensagem é de demérito, como se a edição do Mutantes & Malfeitores da Jambô fosse um “primo pobre” da sua versão gringa. A capa dura possui um valor concreto (relacionado com a durabilidade do livro), mas, convenhamos: cores e “papel lustrosinho” são pura perfumaria.
Se o padrão da edição do M&M nacional está em “desacordo com sua versão gringa”, está de acordo com algo que julgo infinitamente mais relevante — o poder aquisitivo do brasileiro. Por melhor que seja sua renda, R$80,00 não é uma quantia desprezível. Nos E.U.A, pelo preço de um Player’s Handbook, compra-se aproximadamente uns cinco Big Macs (só o sanduíche). Aqui no Brasil, pelo valor cobrado pela igual quantidade do mesmo sanduíche, não se adquire o Livro do Jogador. E, você deve saber, os preços do McDonald’s em si já são considerados relativamente salgados para o bolso do brasileiro.
A bola dentro da Jambô foi sacar isso e conseguir negociar uma versão de custo mais baixo, mais apropriado à nossa nação. E, mais importante — sem sacrificar a qualidade real do livro. O conteúdo é o mesmo do original (óbvio), a tradução, conforme o padrão que evidenciei no material da Jambô, é exemplar (comparem com traduções de outras editoras…), e, mesmo não sendo papel lustroso, a qualidade do mesmo e da impressão estão longe, muito longe, de serem ruins.
Nesta conjuntura, o que lhe parece mais em conta? Pagar R$40,00 por um livro de qualidade ou o dobro disso apenas por causa da perfumaria que em nada afeta o jogo em si?
O preço é mais em conta, os livros acabam saindo mais (eu, por exemplo, não gosto do M&M a ponto de desembolsar 80 dinheiros por ele — por 40, contudo, acabei levando) e — talvez haja alguma relação aí –, chegam mais títulos. Nossos Mutantes & Malfeitores “primos pobres” já têm a família em expansão — temos o excelente Manual do Malfeitor, e, a caminho, os Agentes da Liberdade e o Warriors & Warlocks. Os Reinos de Ferro podem ainda não possuir o Livro do Mundo, mas já temos o bestiário do cenário e os Sem Trégua (um formato de suplemento que eu particularmente adoria ver para Tormenta). E falando nela, a linha Tormenta, depois do limbo, já ganhou dois suplementos de peso (Panteão e o meu predileto, Área de Tormenta), além de uns quantos menores. Isso sem falar do 3D&T Alpha e, mesmo não sendo estritamente RPG, os livros-jogos e os romances de fantasia.
Se lançar “primos pobres” de suplementos gringos é um dos ingredientes para manter a bola rolando, por mim a impressão em cores e o papel lustrosinho podem pegar o pinga-pinga das cinco direto (ou nem tanto) pro inferno. Não é como se fizessem falta. Nesses tempos em que se fala se uma suposta “crise do RPG”, a postura que me parece mais apropriada é a de admirar o trabalho Jambô, por facilitar o acesso a títulos que, se feitos sob o “padrão Devir”, seriam mais caros e, por conseqüência, menos acessíveis.
(Tomei a liberdade de arrendondar os preços; R$79,90 é efetivamente R$80,00 e vocês sabem.)