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Rato de Sebo – Incidente em Antares

Mortos-Vivos Brasileiros

Este foi um dos raros casos em que eu procurei um livro motivado apenas por uma vaga lembrança de uma… novela da globo (!). Na verdade, a mini-série Incidente em Antares, que foi exibida na televisão em horário nobre na época em que eu era apenas um moleque, e lembro de ter ficado positivamente impressionado com ela.


O tempo passou e acabei relembrando da história e indo em busca do livro. E acabei sentindo aquela pontada de pena de mim mesmo por ter demorado tantos anos para ficar curioso a tal ponto. Incidente em Antares é sem dúvida alguma um conto memorável de um humor ácido sobre o modo de vida, o quadro político nacional e o pensamento regionalista gaúcho.

Conforme as palavras do próprio Verissimo: Neste romance as personagens e localidades imaginárias aparecem disfarçadas sob nomes fictícios, ao passo que as pessoas e os lugares que na realidade existem ou existiram, são designados pelos seus nomes verdadeiros. Dividido em dois livros, onde num o autor conta os pormenores da história de Antares ao ponto de torná-la mais verossímil do que muitas cidades que conheço, enquanto noutro é narrado o incidente que dá nome ao livro.

Apesar do “Livro I” ser um pouco mais difícil de ser vencido,ele é igualmente recomendado (no tomo que tinha em mãos, um prestativo leitor deixou um aviso à lápis, sugerindo que todo o texto fosse pulado diretamente até o Livro II). O texto é carregado de um humor sarcástico que talvez seja melhor apreciado com uma “visão sulista do mundo”.

Já no livro II, onde é narrado o incidente em si, a história se torna universal. Devido a uma greve geral motivada pelas condições precárias dos trabalhadores das industrias, toda a cidade de Antares literalmente pára. Inclusive os coveiros são coagidos pelos grevistas a não realizarem mais nenhum sepultamento. Por isso, sete esquifes contendo todo o tipo de cidadão antarense são abandonados nos portões do cemitério, aguardando o fim da paralisação.

O caso é que os mortos não estão dispostos a permanecerem insepultos, e regressam à uma paródia de vida, marchando pela cidade exigindo seu imediato sepultamento. Como estão livres dos ditames do mundo dos vivos, usam o que sabe como meio de coação para conquistarem seu direito ao túmulo, jogando na cara da burguesia local todos os seus podres e pecados.

Conforme o tórrido dia passa, o calor faz com que os corpos apodreçam em praça pública, empesteando o ar e as mentes da população que se vê envolta de moscados, urubus, ratos e toda a sorte de criaturas que são, no fim das contas, avatares de tudo o que a sociedade produz de pior e que oculta, de todas as formas, sob as máscaras que ostentam.

Não morram antes de ler esse livro =D

Autor: Erico Verissimo
Lido: 03/2009
Avaliação:

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