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Relato sobre Setores de RPG

No início de 2008 eu fui contratado por uma produtora para terceirizar o setor de jogos de RPG de um tradicional evento de anime do estado gaúcho.

Setor de RPG da CWC

Tarefa “non grata“. Pouco investimento por parte da contratante e muito trabalho por parte do contratado. Geralmente é assim que a coisa funciona. Os eventos de anime em Porto Alegre passavam por uma fase complicada em sua relação com jogos de RPG, portanto RPGistas cada vez menos iam prestigiá-los.
Topei o serviço, que hoje não toparia, mas nem por isso me arrependo. Os resultados foram satisfatórios.
Na época quando surgia uma sala de RPG para jogar dentro desses eventos era um luxo. E infelizmente falo sério. Quando tinha mais de 20 pessoas, então, era milagre!
Depois de muito perambular como público, analisando os motivos que desagradavam os RPGistas, e, principalmente os ouvindo, estruturei um projeto de terceirização setorial. Na época, o pessoal que fazia “a parte de RPG” destes eventos, nem sabia o que era “terceirização setorial”. Um nome polido para uma coisa simples, verdade.
A parte de RPG em eventos de Anime, geralmente se dava dentro de salas de aula. Notei que isso não funcionava. Acabava escondendo o setor de RPG. Resolvi mudar.
Primeira exigência do meu projeto: Eventos de RPG devem ser realizados em local aberto, com cobertura, e que disponham de mesas e cadeiras do tipo PVC ou similar.
Exigência atendida. Resultado obtido.

Mesas de PVC, local aberto e público.

Notei também que os custos para um jogador de RPG, que não possui o mesmo grau de poder aquisitivo de Otakus, era demasiadamente elevado para chegarem no evento e ainda desembolsarem para se inscrever em torneios. Resolvi inovar.
Se um jogador sai de casa e vai até o evento, ele gastou, em média R$15,00 (ingresso mais duas passagens). Em um final de semana já foram 30. Sem contar lanches que costumam ser caros no interior de eventos culturais.
Pensando assim notei que atrairia muito mais público sem cobrar inscrição nos torneios que oferecemos. Saí em busca de patrocínio e consegui material para premiar todos os torneios com a Devir. O material era pouco, verdade, mas cobriu bem todos os torneios. Com direito inclusive a uma miniatura brinde para todos os participantes do Coliseu e Duelo Arcano – uma espécie de arena, com um narrador/juiz, entre personagens de Dungeons and Dragons que virou “emblema” da CWC.
Lembro de receber também uma ou outra HQ que foram para sorteio no palco principal do evento.
Percebi também que se trabalhassemos com um time de narradores selecionados dentre o cadastro que possuíamos na época, as chances do setor ser um sucesso aumentavam em mais de 50%.
Chamamos um máximo de 10 narradores, não lembro com exatidão. O fato é que muitos jogadores apareciam para tentar montar grupo nestes eventos. Quase nunca conseguiam, todo mundo queria jogar. Poucos queriam narrar e esses não aceitavam 20 pessoas em uma mesa de jogo – e bem que o fazem!
Todos os narradores receberam credenciais para ingressar nos dois dias de evento, um crachá da CWC que os identificava, tiveram mesas reservadas e  assinaram um termo de compromisso. Todos eram maiores de idade e aceitavam iniciantes – mais uma exigência minha (Se você está pensando que trabalhando eu sou metódico e chato, você está certo. Aliás, quando não trabalho também).

Narrador cadastrado e seu grupo.

Como contrapartida eles tinham o direito de pausas para almoço e poderiam assistir uma palestra oferecida pela CWC desde que fosse pré-agendada, para não corrermos o risco de ficarmos sem narradores disponíveis.
Ah, o local escolhido teve outro diferencial. Eu selecionei uma parte final de um corredor do colégio onde o evento aconteceria que era visível para todos que circulassem no pátio – muita gente – e ficava relativamente afastado do barulho.
O setor registrou mais de 100 pessoas jogando RPG e participando dos torneios nos dois dias de evento. Um aumento de mais de 100% de público específico.
Mas a melhor coisa pra mim foi um narrador que conseguiu reunir 5 iniciantes em uma mesa de jogo. Fato que eu tive o prazer de registrar com uma câmera emprestada.

O narrador Gustavo “Unknown” e seu grupo de iniciantes.

Mas se você está se perguntando qual a utilidade dessa história toda eu explico: apenas usei um exemplo para aproximar o leitor e dar algumas dicas de como produzir setores eficientes.

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