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O Maldito Caso da "Literatura Estilo RPG"

Eu participo, atualmente, de alguns grupos e listas de escritores, dos mais diversos gêneros da literatura. Uma coisa que me incomoda, e muito, é o tal rótulo de Literatura “Estilo RPG”.
Pra mim, a definição de Aristóteles, que dividiu a literatura em três gêneros (Narrativo, Lírico e Dramático) serve muito bem, obrigado. Mas, existem diversas classificações que servem para indicar ao leitor – aquele que tem uma preguiça espetacular em ler sinopses – o tema da obra que ele pretende comprar. Também para ajudar na organização das estantes das livrarias, é claro.

Ok, mas além destes três tipos básicos, existem alguns outros, vários, ramos literários. Não vou entrar nesse mérito aqui. O que me interessa no momento é a Literatura Fantástica que engloba Fantasia, Ficção Científica, Infanto-Juvenil e muitos outros rótulos.
Presume-se que qualquer romance, novela ou conto, que tenha ligação com um universo de jogos de RPG, se enquadre como literatura fantástica. Mas na prática não é bem assim…
Eu venho tendo o desprazer de topar com pessoas que classificam certas obras, baseadas ou ambientadas em universos de jogos de RPG, como Literatura “Estilo RPG”. Além de ser brutalmente vulgar o “Estilo RPG”, que parece ter saído de uma conversa de boteco, o termo não é auto-suficiente para rótulos e parece ter o intuito de depreciar a literatura aferida. O pessoal se esquece que a literatura fantástica foi criada para designar obras de cunho fantástico, oras! Então porque cargas d’água o povo teima em criar mais e mais rótulos? E estes, cada vez mais vulgares e deslocados dentro do seu referido contexto?
Uma coisa, pra mim, é ter o discernimento comercial de apontar que esta ou aquela obra venderia bem para jogadores de RPG. Outra, bem diferente, é usar estes rótulos ignorantes.
Se você acha que existe o tal “Estilo RPG”, vamos para um exemplo simples e prático: pegue um livro do Antônio Augusto Shaftiel ou do Leonel Caldela e apresente para um amigo que nunca, jamais, teve contado com jogos de RPG. Depois do seu amigo ler o tal livro, sem conhecer os jogos de RPG, peça que ele classifique a obra. Provávelmente ele dirá “Literatura de Fantasia” ou “Literatura Fantástica”. Sinônimos.
Mas vamos inverter a situação: convide um amigo que jogue RPG e peça lhe para ler algum livro como Senhor dos Anéis, Fronteiras do Universo, Nárnia e outros. Se quiser obras nacionais procure por livros como Lobo Alpha, Dragões de Éter, O Arqueiro e a Feiticeira e muitos outros títulos de autores como Rosana Rios, Helena Gomes, Raphael Draccon, só para citar três, e tantos outros bons autores tupiniquins . Depois, peça para que ele classifique a obra e escute, provávelmente, “Literatura Fantástica”.
Veja que estes livros nada têm a ver com jogos de RPG, porém, servem como uma ótima fonte para idéias de aventuras e, até mesmo, cenários completos para campanhas.
Logo se você costuma tipificar autores de jogos de RPG que escrevem romances, contos, ou novelas de fantasia, como escritores de Literatura “Estilo RPG”, pare para pensar que, todos os livros que eu citei também seriam “farinha do mesmo saco”; inclusive O Senhor dos Anéis. Achou absurdo? Pois é, eu também acho..
Eu vou tomar a liberdade de usar como exemplo o autor do livro “Pelo Sangue e Pela Fé”, Cláudio Villa, que foi funcionário da Devir em tempos passados. A sinopse deste romance, ambientado nos Mundos de Mirr, um cenário que o autor criou com alguns amigos para jogarem RPG, poderia ser usado como um ótimo roteiro para uma aventura sua, porém, o livro não possui qualquer vínculo comercial com o RPG. Ele pode atingir o público RPGista? Com certeza. Mas não passa de Literatura Fantástica.
Outro exemplo é o livro Sangue e Glória, do Shaftiel, que é um ótimo romance histórico, com equilibradas doses de ficção.
Um problema que pode acontecer às vezes, é que estes autores, podem – veja bem, eu disse *podem*- ficar sujeitos a serem vendidos dentro do mercado editorial de jogos de RPG. Por falha na distribuição, publicidade, ou mesmo comodidade no direcionamento direto de um produto. Isso contribui para que se crie um nicho e se tipifique certos autores como escritores do inexistente “Estilo RPG”.
E se você chegou até aqui, e ainda acha que esse gênero literário é real e correto, faça um favor a você mesmo e vá atrás das antigas aventuras-solo. É o mais próximo deste gênero que, na minha opinião, você conseguirá chegar.
Ou você acha mesmo que O Senhor dos Anéis é Literatura Estilo RPG?

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