Artigo prometido: "Morto ou vivo?" — parte 1

Bom… como prometido, eis o tal artigo. Como ele é um tanto extenso, eu quebrei em duas partes. Segue a primeira. A continuação, amanhã.

Abração!

MORTO OU VIVO?
Aspectos econômicos, políticos e legais da ressurreição mágica


Michael Satran
Tradução de Erik P. Munne
Publicado em português na
Dragon Magazine, ed. Abril,
junho de 1996


A batalha havia acabado. Moljor Parte-Espadas estava à frente de uma pilha de orcs mortos, sobre os quais o ar de inverno começava a depositar uma fina camada de gelo. Ele desembainhol sua espada e aproximou-se de Delissa, a maga. “Este é um grande dia para o povo de Bruntmann, Delissa. Estes orcs não os prejudicarão mais. Onde está Dalvar?” “Morto”, ela balbuciou, com um pequeno soluço. Delissa e Dalvar era casados há algum tempo. “Bom, não tem problema!”, declarou Moljor com um sorriso matreiro nos lábios. “São só três dias até o templo mais próximo! Vamos selar os cavalos!”

Esse diálogo é um exemplo da atitude perante Ressurreição e outras magias afins que permeiam muitas campanhas de AD&D©. Personagens lutam, personagens morrem e personagens são ressuscitados.

Pessoas que jogam há algum tempo geralmente consideram essa prática usual. Todos os jogadores de AD&D© deveriam considerar mais profundamente as conseqüências dessa atitude. É bom lembrar que, na primeira versão do jogo, a Ressurreição custava 10.000 po mais 10.000 po para cada nível do personagem ressuscitado — uma fórmula que ainda é seguida em muitas campanhas. É muito ouro.

Por que uma Ressurreição custa tanto? Quais são as conseqüências de ser ressuscitado? O que pensa um personagem que já foi ressuscitado duas, três ou mais vezes? A discussão a seguir pressupõe que o teste de Ressurreição será bem sucedido.

Considerando os valores altos que aventureiros costumam ter nas suas habilidades, não é uma suposição exagerada.

Significado Social

Considerando um mundo onde a ressurreição é fato, uma boa idéia é começar pelas conseqüências sociais. A ressurreição produz uma série de problemas de ordem social, a maioria dos quais em torno de um ponto comum: a vida vale pouco.

Se a vida vale pouco, assassinos também cobram pouco. Num mundo onde a Ressurreição é comum, por exemplo, quando a guilda dos assassinos quer mandar um aviso a um mercador rico, informando que ele está começando a incomodar, um dos assassinos entra na casa do mercador, aproxima-se da sua cama e o mata. Ele sabe que o mercador certamente será ressuscitado em breve. Este, por sua vez, pensará duas vezes antes de incomodar novamente a guilda. Se a vida vale pouco, a ética e a moral vão por água abaixo.

“Por que eu deveria trazer meu inimigo à justiça, capturando-o vivo, quando posso simplesmente trazê-lo morto? Além de ser mais fácil, as autoridades podem ressuscitá-lo se acharem que precisam do infame com vida.”

Os relacionamentos entre os personagens dos jogadores também sofrem com isso, como mostra o exemplo no início do artigo. Moljor é um idiota insensível, mas sua colocação é válida. Por que preocupar-se? O morto é um aventureiro. A probabilidade é que sobreviva à tentativa de
ressurreição.

Se a vida vale pouco e os personagens dos jogadores já estão nesse nível, imagine então os vilões. Eles sabem que os heróis farão tudo a seu alcance para impedir que sejam ressuscitados. Portanto, os vilões procurarão não só manter-se vivos, como também assegurar-se de que os heróis não possam ser ressuscitados quando morrerem.

Se o vilão souber da existência da Ressurreição, tentará fazer com que nenhum dos PdJs escape e empregará as táticas mais brutais possíveis para impedi-los de atingir seu objetivo, pois sabe que, se falhar, a mesma sorte o espera.

A ressurreição torna possível feitos heróicos, mas também rouba esse mérito. Se Moljor pretende enfrentar o terrível dragão que ameaça a vila de Brandsnow, ficará mais tranqüilo sabendo que há a possibilidade de ressurreição caso ele falhe. Poderá então tentar novamente, após subir uns dois níveis. O pior é que todo mundo se utilizará dessa tática, sabendo que poderá voltar mais tarde e acabar o trabalho, talvez contra um monstro ferido que não pode curar-se tão rápido quanto um PdJ com um amigo clérigo.

Quando a vida vale pouco, as vidas dos monstros valem menos ainda.

Ao invés de “Corajosamente, Moldor bateu-se contra o dragão, até que a enorme criatura deu seu último suspiro”, uma luta memorável contra uma criatura lendária torna-se absurda: “Moljor lutou várias vezes contra o dragão num período de cinco ou seis semanas e morreu duas vezes, mas graças aos poderes do clérigo local, pôde salvar os cidadãos de Brandsnow do mal que os assolava.”

Outro problema que surge é o seguinte diálogo absurdo que pode ocorrer entre aventureiros:

“Quantas vezes você já morreu?”

“Umas três ou quatro, não sei.”

Já ouvi esse diálogo em mais de uma campanha de AD&D©. Os jogadores em questão estavam representando (ou seja, foram essas as palavras dos seus personagens). O problema é que a Ressurreição provoca desvalorização da vida. Se tudo o que você perde quando morre é algum dinheiro e talvez um ponto de Constituição, quem se importa quantas vezes as pessoas são ressuscitadas?

Conseqüências Legais

O que acontece juridicamente quando alguém morre e depois é ressuscitado? Na maioria das campanhas, nada. Mas, sob a lei medieval, algumas coisas interessantes ocorrem.

A primeira questão é: a pessoa está morta ou não? Técnicamente falando, ela morreu. Ela pode estar viva agora, mas no seu testamento estava escrito: “Por ocasião da minha morte, meu patrimônio deverá passar a X,Y e Z”.

E agora?

Como qualquer bom mestre pode perceber, existem centenas de aventuras que podem ser desenvolvidas a partir de uma situação assim. Os herdeiros podem não querer abrir mão dos bens que receberam e um deles pode ficar tão furioso com a volta do falecido, que tentará matá-lo novamente para não devolver a herança.

A quem pertencem os bens e como resolver a disputa?

E se o caso não puder ser resolvido com um duelo, pois o herdeiro está com a espada +3 do falecido e alegar que agora é sua?

Um tribunal medieval pode se recusar a julgar um caso desses. A situação é certamente confusa e leva a argumentros do tipo: “Como você pode afirmar que ele morreu? Ele está vivo aqui do meu lado, não está?” ou então “Mas eu vi quando ele morreu, isso não significa que devemos executar o que diz o testamento?”

A segunda questão que deve ser respondida é: perante a lei, um personagem ressuscitado continua sendo a mesma pessoa? A resposta, novamente, é sim e não. O personagem morreu, então obviamente não pode ser a mesma pessoa. No entanto ele mora na mesma casa junto com as mesmas pessoas e está casado com a mesma mulher, então ele certamete é a mesma pessoa. Se ele morreu, isso significa que tornou-se uma nova pessoa perante a lei? Ele pode ser preso por crimes cometidos antes da sua morte? Algo precisa ser feito para resolver a confusão.

Se o falecido (supondo, neste caso, falecido e não ressuscitado) tem uma cônjuge, qual é o estado do seu casamento? Os casamentos dos mundos normais costumam durar “até que a morte os separe”. Mas num jogo de AD&D© essa lógica pode causar problemas. Se o cônjuge morre e ressuscita, ele ainda é um cônjuge?

A passagem do tempo é outro aspecto terrível da Ressurreição ao qual não se dá muita importância. Se você é casado e morre, os seus bens normalmente são divididos de acordo com a lei e com o seu testamento. Mas o que acontece após ressurreição? Um clérigo de 14° nível pode restaurar uma pessoa morta há mais de cem anos. Se isso ocorrer devem as autoridades recuperar todos os bens do falecido? E se esses bens estavam registrados e/ou catalogados?

Imagine um grupo de personagens que saqueia uma tumba, apenas para descobrir, alguns meses mais tarde, que o dono da tumba está vivo novamente, quer os seus bens de volta e contratou advogados para recuperá-los. O que os persongens fazerm se já não têm mais os bens? Devem responder pelo ato, pois saquearam o lugar. A tumba pertence ao falecido e agora ele está vivo e seus bens foram retirados!

Seguindo a mesma linha de raciocínio, o antigo ocupante da tumba pode apresentar queixa e pôr os personagens na cadeia, a não ser que eles recuperem tudo o que roubaram (certamente uma aventura interessante).

Além disso, o que faz o ressuscitado se descobre que seu cônjuge está vivo e idoso, ou então casou com outra pessoa? A situação é um pesadelo do ponto de vista da lógica.

E se os seus descendentes ainda estiverem vivos? Eles têm a obrigação de sustentá-lo, ou ele é legalmente outra pessoa agora que está novamente entre os vivos?

É permissível, perante a lei, cobrar impostos de uma pessoa que morre antes da cobrança e é ressuscitada depois? Os impostos correspondem ao período de um ano, mas se uma pessoa morre antes da visita do coletor de impostos, será que é legalmente taxável pelo governo? Se mora sozinha e não tem herdeiros, não é.

Só é possível cobrar uma dívida quando existem herdeiros que possam responder por ela. Se a pessoa não tem herdeiros, ninguém assume a responsabilidade por suas dívidas, o que significa que elas desaparecem. O estado pode tentar confiscar o dinheiro, mas existem tantas complicações legais a essa altura que eles nunca conseguirão (leia Ricardo II, de Shakespeare, para ver como é a reação da nobreza medieval ao confisco súbito das suas terras).

Após o dia dos impostos, o personagem é ressuscitado. Ele deveria esperar até ter uma enorme dívida antes de seguir esse curso. Embora possa ganhar muitos inimigos, o pior que pode acontecer é ser morto por algum deles (e ressuscitado alguns dias depois).

Como se vê, existem muitos problemas com a Ressurreição, inclusive na política dos reinos. Embora os personagens dos jogadores, na maioria das campanhas não cheguem a governar, podem ser afetados pelas repercussões políticas da Ressurreição.

Problemas Políticos

Os sinos dobram, anunciando a morte do Rei. Um bondoso sacerdote andarilho entra no templo e vê o seu senhor, a quem sempre serviu fielmente. O sacerdote o ressuscita.

E agora?

Embora seja óbvio que possa surgir todo tipo de caos a partir de uma situação assim, é de se supor que alguns países proíbam a ressurreição dos seus governantes justamente por esse motivo. Sacerdotes ordeiros (e leais de um modo geral) terão extrema relutância em ressuscitar alguém em circunstâncias similares.

Em lugares onde essa prática é permitida, surgem inúmeras possibilidades para representação quando figuras influentes são arbitrariamente ressuscitadas.

Surgem problemas imediatos, independente do nível de nobreza.

No exemplo anterior, o rei foi ressucitado. Sua morte foi declarada oficialmente e a data do seu funeral marcada. Ele ainda é o rei? A resposta, mais uma vez é ambígua.

Em caso afirmativo, se ele não morreu de causas naturais, os responsáveis por sua morte certamente tentarão matá-lo novamente. Em caso negativo, pode ser que ele não concorde com isso e tente reunir um exército para recuperar seu trono do “usurpador”, mesmo que seja um parente seu.

O antigo rei não é o único responsável pelas consegüências. E o seu sucessor? Certamente o herdeiro não estará muito contente, tendo sido rei por um dia (ou mais), ao ver que o antigo rei está de volta. Ele não apenas voltou como, também, apesar de estar legalmente morto e de ter morrido à vista de todos, quer que lhe devolvam o trono. O novo governante é obrigado a devolvê-lo?

Falando claramente, seu antecessor morreu e as cerimônias de sucessão já foram realizadas. Se um dos rivais é maligno (o que freqüentemente ocorre quando surgem disputas assim em campanhas de fantasia), a situação pode ser resolvida com relativa facilidade. Se não existem culpados, no entanto, o que irrompe é o caos absoluto.

Os personagens dos jogadores podem ser contratados por uma das duas partes para provar que o seu direito sobre a coroa é legítimo. É possíveis que surjam facções contra e a favor de ambos os partidos. Se aparecerem apenas facções contra um dos partidos e esse partido for do sujeito a quem os personagens estão apoiando, é hora de procurar outras bandas (ou a coisa pode esquentar).

Além disso tudo, o que acontece com os privilégios da nobreza? O novo governante é obrigado a abrir seu rival dentro de casa enquanto é travada a disputa pelo poder? Quem é que dorme nos aposentos reais enquanto isso? Eis um exemplo de como uma pequena coisa pode se tornar um problema muito grande.

Quem tem o direito de empunhar a espada ancestral da família, é um dos muitos problemas que causarão aos rivais um sofrimento sem fim!

Questões políticas podem ser muito mais graves. Uma guerra civil poderia irromper entre as facções e, como resultado, muitas vidas seriam perdidas. Um grupo de heróis de tendências boas poderia dividir-se entre leis e caos, dependendo das circunstâncias e de quem é amigo de quem. Ou ainda pior, se um dos partidos tiver parentesco com um PdJ, este poderia ser convocado para lutar do seu lado em uma crise vindoura!

O PdJ pode chegar à conclusão que o lado para o qual está trabalhando não é o lado para o qual deveria estar trabalhando…

E então? Se o PdJ trabalha para o herdeiro, está contra outro parente, talvez seu próprio pai ou mãe. Se trabalha para a pessoa ressucitada, está afrontando seus irmãos e acabará lutando contra eles por direitos, propriedades e terra. É desnecessário dizer que a confusão será infindável.

(Continua…)

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11 Resultados

  1. Arquimago disse:

    Oba! O Primeiro!!!
    Cara que artigos fodastico!!!!
    Muito bem escrito com perguntas bem colocadas e importante, e sobre só uma questão, uma unica magia!!!
    Agora entendo melhor porque a Resureição nos Reinos de Ferro só pode ser lançada por um unico personagem, o “Papa” do Irmão Bondoso.
    Mal posso esperar pelo próximo artigo!!!!

  2. Arquimago disse:

    Desculpe, na pressa digitei errado… o certo é Ressurreição…

  3. Nibelung disse:

    Eu acho que o texto está bem atrasado. É sempre bom ler matérias desse naipe, mas boa parte dos problemas citados foram solucionados na 3ª e 4ª edição do jogo.
    Na 3ª edição, o ressuscitado apenas sabe qual deus patrono está tentando ressuscitá-lo. Ele tem a opção de permanecer morto se assim o desejar. É o caso dos criminosos que foram mortos e que poderiam ser ressuscitados. Ele não vão querer ressuscitar pra ficarem presos pelo resto da vida.
    Na 4ª edição, apenas as criaturas que “não cumpriram seu destino” podem ser ressuscitadas. Na maioria absoluta dos casos, este grupo é composto apenas pelos personagens dos jogadores. Um rei nobre e justo falece, mas sua parte na grande roda do destino já tinha sido feita, e os deuses não abrem mão de sua alma.
    Independente da versão do sistema, sempre há o risco do vilão matar TODO o grupo de jogadores, não sobrando ninguém para ressuscitá-los. E mesmo que um ou outro sobreviva, em níveis médios e baixos, ainda devem ser capazes de levar os corpos para um clérigo. Não confiaria que meu meio-orc de 150 kg e usando uma armadura completa seria salvo pelo halfling ladino de Força 10.

  4. É esse o problema: os desenvolvedores do jogo focam-se no aspecto “porrada!” do mesmo, aproveitam-se na existência de elementos sobrenaturais para inserir um recurso de “Insert coin to continue” — e páram por aí, sem sequer dar consideração ao fato de que existe um mundo funcional além dos corredores da masmorra.
    Há um texto do Monte Cook — quando puser, posso localizá-lo e traduzir, se for o caso — em que ele explicita que acha bacanas alguns elementos em seus jogos, e que não abriria mão deles — heróis veteranos com cicatrizes de batalha, castelos com altas muralhas. Segundo ele, há magias no jogo que, quando se analisa, impossibilitam estes elementos — regenerações acabam com cicatrizes, certas evocações simplesmente deixariam muralhas obsoletas enquanto defesa. Como ele resolve? Elimina as magias.
    Fica-se, penso eu, entre a cruz e a espada. Se se quiser um mundo similar à realidade como conhecemos, de modo a facilitar reconhecimento/familiariedade, a magia tem de ceder — mesmo que ela seja difundida e comum, deve perder poder bruto. Se se quiser uma magia “almighty”, o mundo deve ser ajustado para funcionar levando isso em conta — e o resultado pode ser mais alienígena do que a maioria dos jogadores acharia confortável.
    Claro que há a terceira via: sacrifique a verossimilhança. Isso vai de cada um, mas, ao menos para mim, essa terceira opção não é válida.

  5. valberto disse:

    Esse foi o texto que me provou que valia à pena comprar a Dragon magazine. Se puder, coloque a da infravisão tb.

  6. Leonel Domingos disse:

    Nibelung:
    Bem… o texto é de 96.
    Mas eu não o coloquei para discutir regras de jogo. Eu coloquei porque, no texto, o que o autor justamente aborda é como uma realidade que é alienígena para nós (não existe ressurreição comprovada em NOSSA realidade) não pode ser colocada dentro de uma estória como se fosse um lugar comum, sem que hajam considerações sobre como isso afetaria AQUELA REALIDADE.
    Então, citando o caso que você apresentou sobre a possibilidade de ressurreição apenas a quem cumpriu seu destino… isso pode ser uma questão válida para o mestre do jogo, uma explicação de porque ele deixou ou não deixou alguém ressuscitar. Mas DENTRO do jogo, para quem está à volta… a explicação “ah… eu voltei porque ainda tenho um destino a cumprir” é suficiente para que todos na sociedade aceitem que um morto voltou à vida?
    Então, deixem-me abrir um pequeno parêntesis, só para explicar melhor minha posição, já que esta explicação poderá ser útil no futuro, quando novamente as regras e a conceituação de cenário se esbarrarem em algum comentário meu:
    (Eu não gosto de me apoiar na mecânica. Regras da 3ª edição, 4ª edição, GURPS, Falkenstein, WoD, o que seja… tanto faz.
    A mecânica de um jogo serve apenas para simular os efeitos da natureza no cenário (fenômenos que explicamos, em nossa realidade, através da física e química, e fenômenos que sequer explicamos, em nossa realidade). Então, como o cenário é MEU, EU sou o narrador e a MINHA descrição vai ser o que os jogadores vêem, o sistema PRECISA ter conformidade com a MINHA INTERPRETAÇÃO DO CENÁRIO. Se em algum momento os resultados que o sistema apresenta não está de acordo com a MINHA VISÃO do cenário, quem tem que dançar é o sistema, pois ele é uma ferramenta de apoio, não um propósito em si.
    Por isso eu apóio o uso de sistemas “mamutes”, que incluam um método fácil para que eles sejam ajustados e se adequem ao cenário.
    O D20 não é assim. Nem o Falkenstein… eu gosto muito do sistema Falkenstein, ele é elegante e cobre muito bem minhas necessidades de narrativa, mas ele não é um sistema mamute.
    Então, desconfiem sempre que eu enviar qualquer coisa. Eu não estarei falando das regras do sistema, porque uma boa estória depende de outros fatores)
    Ok… depois do parêntesis, voltemos ao lance: Esqueça o que o Michael fala sobre sistema, volte aos artigos que fizeram com que este fosse levado à baila (o artigo sobre cidades do Nume, sobre natural x sobrenatural do Shido, as respostas sobre cidade e magia que eu fiz), e leia as discussões. Volte a este artigo e releia, mas agora levando em conta o impacto de um elemento alienígena (no caso, ressurreição comprovada e relativamente ao alcance de todos) sobre aquela sociedade e sobre as leis naturais.
    Depois extrapole o conceito, para aplicá-lo a qualquer coisa no cenário.

  7. Leonel Domingos disse:

    Ah, é… Shido:
    Pois é… vou cortar/editar/colar aqui uma postagem que fiz na UdV, quando conversava com o Kenku:
    Curar-se. Faz algum sentido que isso demore? Sim… todo o sentido. Tem alguma vantagem em ser demorado, na estória? Também! Do ponto de vista dramático é interessante… do ponto de vista visual/desafio também é interessante. Cá entre nós, eu vejo muito mais graça em um filme do “duro de matar” McLane do que um filme do 007, principalente por que McLane se ferra bonito durante o filme. Ele fica todo estropiado, mas segue adiante assim mesmo! 007 nem desarruma o penteado. Não sei quanto a vocês, mas para mim isso é ridículo.
    Acho bastante interessante, desafiador para o jogador, lidar com o tempo de cura, com as seqüelas, com mudanças que irão refletir realmente no personagem.
    Regeneração de membros: Para mim… precisam ser extremamente difíceis, extremamente caros, impossíveis talvez, etc… Por quê?
    Primeiro, porque… imaginem um mundo onde a regeneração é tão simples. De onde veio aquele oficial veterano, general sei lá das quantas, que usa tapa-olho? Por que, diabos, aquele vilão tem um gancho na mão?
    Segundo, porque é um tempero a mais também para os personagens, interpretar o aventureiro veterano que já se ferrou por aí, e perdeu um membro.
    Talvez eu tenha esta visão por conta de já ter desenhado alguns quadrinhos na vida. Certamente a regra dos quadrinhos pode ser aplicada: É um erro comum, entre quadrinistas iniciantes, tentar fazer todos os seus personagens “bonitos”. Mas um mundo onde todos são bonitos, onde tudo é perfeito, é um mundo muito chato para se contar uma estória. A graça está na variedade. E, acreditem, os defeitos, tiques, particularidades, enfim… o que torna os personagens diferentes também os torna memoráveis.

  8. Nibelung disse:

    Leonel, eu sei que o texto é antigo. Tem a data no cabeçalho, oras. Só citei o fato de que boa parte desses problemas foram percebidos pelos game designers das edições mais recentes, e tentaram corrigí-los. Alguns com sucesso, outros não.
    O caso é que tem muita gente que não chegou a jogar AD&D. Aí podem tratar o texto como idiota pelo simples fato de que o autor “está falando besteira sem ler o livro” ou algo assim. Por isso que chamei a matéria de “atrasada”. Há alguns problemas que persistem até hoje, como esse efeito de curas e regeneração que você comentou. Estes assuntos não ficaram datados. Ressurreição como panacéia universal, sim.
    Seria o equivalente a ver um programa do Casseta e Planeta fazendo piada com o Sarney. Era relevante na época, hoje não mais. 🙂

  9. Metal Sonic disse:

    Achei o texto bem fraco comparado ao que geralmente é postado aqui…
    Eu acho que a boa parte desses problemas não existiriam numa ambientação onde a Ressurreição é normal, a lei se adaptaria a isso.
    Um Rei não poderia ser coroado enquanto o ritual de Ressurreição do finado não for executado (com sucesso ou não), o matrimônio não se daria por encerrado se houvesse a possibilidade de Ressurreição, ectc, tudo isso seria previsto pela lei, e esta iria variar de acordo com a “banalização” desse recurso, que eu acho totalmente sem graça.
    O único porém que eu dou são a Magias de Ressurreição que só podem ser usadas no máximo até poucas Rodadas após a morte do Personagem, bom para salvar PJs mortos por rolagem azaradas.

  10. Leonel Domingos disse:

    Compreendi, Nibelung. Obrigado pela dica, espero que ninguém encare o artigo como idiota só porque ele foi escrito pensando em AD&D.
    Mas dá no mesmo, compreende? O texto foi colocado para falar sobre o impacto de um elemento fictício como realidade no cenário. O que você citou como solução para o problema da ressurreição não aborda esse aspecto.
    Ah, quer saber? Deixa pra lá. Eu já estou começando a me sentir um papagaio, repetindo sempre a mesma ladainha.

  11. Tek disse:

    Fora que o Sarney tá aí até hoje, e ainda coisas daquela época ainda são realidade, não só política e economicamente… 🙂

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