Me chamou a atenção um comentário do Alessando Güntzel sobre minha resenha do True20 Revised, cujo último parágrafo reproduzo a seguir:
Apesar de achar muito interessante a proposta do true20, penso ser mais adequado ficar com algo mais tradicional para um jogo de fantasia medieval (como o pathfinder, que altera algumas coisas, mas ainda é compatível com tudo o que já foi publicado). Contudo, para outros estilos como contemporâneo ou futurista, o true20, acho eu, acaba sendo o mais adequado.
Claro que questões de gosto influem nestes assuntos de adequação ou a falta dela mas, pondo os gostos um pouco de lado, não precisa necessariamente ser assim. O paradigma do D&D reina forte no imaginário e no gosto geral, isso é fato, mas, às vezes, muitos acabam deixando passar os benefícios práticos do True20
por ele parecer meio “alienígena” ou simplesmente por não emular literalmente, vírgula por vírgula, o d20 do D&D. O maior trunfo do True20, contudo, a flexibilidade, permite atender a tais preferências — e, com isso em mente, alguns indivíduos aplicaram empenho em dar ao True20 o “sabor” do D&D 3e. O medieval (D&Dêico) tradicional pode, se assim se quiser, caber no True20.
Dos fóruns do True20 consegue-se material de fã muito interessante — para iniciarmos pelas alternativas gratuitas. Usuários do dito fórum volta e meia engenhocam com regras variantes e maneiras de modificar ou melhorar o sistema — e, em muitos deles, o math-fu é forte. Um deles, o Baduin, chama a atenção, sendo seu feito mais célebre um sistema alternativo de dano que não requer o registro das penalidades de -1 nos salvamentos de Thoughness por ferimentos leves — que, segundo alguns, vai contra a filosofia de “sem contabilidade” do True20. Recentemente, contudo, encontrei outro material deste usuário, mais extenso e, de certa forma, mais ambicioso — um pdf de 80 páginas para a emulação do d20 tradicional no True20. A maioria do material lida com o tema das magias — diferenciação de tipos de conjurador e mais uma quantidade gargantuesca de magias de D&D adaptadas para o sistema de poderes do True20 — mísseis mágicos? Tentáculos Negros? Magias de nível 0? Está tudo lá. Algumas, inclusive, foram incorporadas em material oficial posterior, como o Adept’s Handbook. Além do uso do padrão de moedas (e não riqueza abstrata), há também regras para a criação de itens mágicos em moldes mais D&D, bem como diretrizes para a conversão de classes, NPCs e afins Ainda, há conversões das classes básicas do D&D — até o ranger que lança magias — utilizando as três dos True20, inclusa a listagem de habilidades adquiridas do 1o. ao 20o. níveis. Você pode baixar o documento aqui — o .zip inclui, ainda, um documento de regras simplificadas para agarrar e o já citado sistema alternativo de dano. Se a sua treta é com o sistema de magias, o usuário Sauron propõe diretrizes para utilizar as magias de D&D no True20, de uma forma que concilia a preparação de magias do D&D com as fatigue saves do True20 (um dos pontos fortes no sistema de magias do jogo, na minha opinião). Dessa forma, podem ser utilizadas as magias de quaisquer suplementos compatíveis com D&D 3e que você possua — em vez de convertê-las pro sistema de poderes como fez o Baduin, pode-se simplesmente importá-las sem alterações (salvo parâmetros como dano, já que o True20 não usa PVs).
Se você julga apenas material oficial como digno de confiança, o True20 Freeport Companion vem a calhar. Como Porto Livre é um cenário criado para D&D 3a. edição, alguns dos paradigmas deste foram absorvidos pelo cenário — este suplemento para True20 visa campanhas em Porto Livre no d20, trazendo, junto, alguns destes paradigmas. Além de trazer raças como góblins, aasimares e tieflings, algumas progressões de classes, sistema monetário em peças de ouro e coisas assim. Ele é bem mais sutil na tradução de D&D para True20 do que o material do Baduin (que é bem mais literal), mas é um suplemento interessante, até porque trata de Porto Livre, considerado por muitos um ótimo cenário.
Claro que, para quem quer D&D, o sistema dele, obviamente, é o melhor para isso. Mas se se quiser manter os pressupostos do D&D e, simultaneamente, possibilitar um sistema balanceado para aqueles jogadores que queiram transgredir tais padrões, essas adições para o True20 deixam o trabalho bem mais fácil. Afinal, no mesmo grupo em que há aquele jogador que gosta do paladino conforme está escrito no LdJ, pode haver também aquele que queira um especialista com música de bardo e ataque furtivo (mas não evasão, porém) ou então em guerreiro com fúria e destruir o mal (e que nem chegue perto de magias).