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Goliath – A Cidade das Torres

Meliny é um mundo de heróis e de lendas. Há, entretanto, locais cuja mera existência está de tal forma permeada de histórias fantásticas que se tornam elas próprias lendárias, mitos muito acima da mítica naturalmente presente este mundo. Goliath, a Cidade das Torres é um destes lugares mágicos que, se não fosse real, poderia muito bem passar por sonho.
A Cidade das Torres como se tornou conhecida é também a cidade das gárgulas, habitada por criaturas de pedra que a protegem dos invasores e guardam seus segredos ao longo dos séculos. Suas misteriosas origens e posterior ocupação pelo Exército Imperial a tornaram conhecida em todo o mundo conhecido.
Com quase quatro quilômetros de diâmetro, é completamente formada por torres de todos os tipos, nenhuma delas inferior a cinco metros de altura. Apesar de sua base estar firmemente ligada ao solo, são poucas às estruturas que possuem originalmente portas ou janelas abaixo da linha dos três metros, o que sugere que toda esta região poderia estar originalmente submersa, ou que a cidade era habitada por criaturas aladas.
A região em torno não é especialmente fértil, sendo tomada por campinas de mato ralo ideal para pastagens e pedras vulcânicas. Poucas colinas próximas quebram a monotonia plana da região. Um rio menor corta a cidade avançando para o oeste até desaguar muito adiante no Rio Brythamia. Estudiosos crêem que este é um último vestígio do lago que aqui existiu. Solitária por muitos quilômetros, a cidade brota do solo como uma coroa de pedra no meio de uma longa planície, tornando-se um dos mais importantes pontos de ligação entre a região oeste e leste do Império Áureo.

Naquele ano, o Exército Imperial avançava por sobre a última região considerada bárbara do coração do continente de Meliny. Nenhum deles poderia, tampouco sonhava imaginar que seria possível encontrar algo adiante em seu caminho além de apenas mais mato, monstros, tribos e vilarejos esparsos ou pequenos focos de resistência dos reinos já dominados. De fato, há muito que a turba não encontrava desafios ao seu avanço e o território era anexado sem grandes dificuldades.
Mas nada poderia ter-lhes preparado para aquilo. Uma cidade sem precedentes brotava do chão, dentes de rocha buscando os céus. Torres, maiores do que as mais altas torres do Castelo Imperial, em um número absurdo não apenas por sua quantidade, mas também pela variedade de formas. Eram centenas. Quiçá milhares delas. Do alto dos ângulos arquitetonicamente impossíveis que as formavam, gárgulas observavam a passagem das tropas, vigiando com seus olhos de rocha as faces impressionadas dos novos visitantes.
O general responsável pelo batalhão, o príncipe guerreiro Thelmo III, que imediatamente enviou um mensageiro em retorno à Capital Imperial para informar a descoberta ao Imperador Thelmo II, seu velho pai. Até onde puderam averiguar nas últimas horas daquele dia, não havia casas ou qualquer habitação a não ser as torres. Entre elas, ligando-as subiam e desciam muralhas tão altas quanto as primeiras, transformando a base num verdadeiro labirinto.
Havia sido abandonada há pouco tempo, e a única torre destruída era a que marcava o ponto central da urbe, nenhuma que não outra a não ser a maior, com cerca de cinqüenta andares. As chamas ainda consumiam os últimos e inalcançáveis pontos, golfando fumaça negra para os céus, misturando-se as nuvens.
Posteriormente, souberam, tratava-se de uma biblioteca e um arquivo cujo conteúdo foi propositalmente destruído durante a fuga dos criadores da cidade. Suspeita-se que lá habitava alguma seita de magos não-pertencentes às guildas, renegados caçados pelo Castelo de Ferro. É impossível precisar o quão certos ou quão próximos estavam da real origem de Goliath. Provavelmente a verdade está perdida para sempre.
Aguardando pela resposta do Império, foi ordenado às tropas que acampassem naquele lugar até que novas diretrizes fossem transmitidas pelo Imperador. Batedores encontraram nas torres alguns poucos tesouros e itens mágicos, mas nada tão incrível quanto à própria cidade. Não havia um único habitante. Apenas mais e mais daquelas estátuas horrendas espalhadas por todos os lados, velando o sono de uma cidade morta.
Infelizmente, havia muito mais em Goliath do que os olhos podiam ver. Apenas há noite, enquanto os soldados dormiam é que perceberam a armadilha mortal em que haviam entrado por vontade própria. As estátuas que ornamentavam as torres e vias estavam vivas. Gárgulas de rocha, um exército deles. Caíram sobre os invasores com precisão espalhando dor e caos.
Esta foi, de acordo com os registros aurianos, a batalha na qual o maior número de soldados imperiais perderam a vida. O ataque-surpresa dizimou a primeira linha de combatentes, e tantos outros caíram até que os batalhões foram reorganizados e as armas empunhadas. Apesar do poder dos guardiões, o numeroso exército imperial conseguiu triunfar.
Das centenas de monstros destroçados, aparentemente uma única gárgula era capaz de comunicar-se através de um melin tosco, simplório até mesmo para criaturas daquela espécie. Remontado pelos magos do exército, descobriu-se que se chamava Garth, e que sua função ali era defender da cidade, garantindo a fuga dos mestres, cuja identidade não sabia ou não podia revelar.
Thelmo III, como era esperado de acordo com as tradições aurianas, deixaria o último sobrevivente de uma batalha vivo. Declarou então que a partir daquele momento a cidade não pertencia mais aos antigos mestres de Garth, e sim ao Império Áureo. “Então; com pesar aviso que de hoje em diante serei seu guardião” respondeu o gárgula. E assim foi.
Garth levou quase cinquenta anos trabalhando na restauração das gárgulas guardiãs. Passou a ser mais sociável quando seu trabalho foi enfim encerrado, especialmente em relação ao novo imperador. Eduardo I, “O Engenheiro” – fascinado pela arquitetura daquela cidade – criou mais torres e promoveu a ocupação também das bases do lugar, tornando-a uma metrópole de proporções consideráveis e o maior entreposto entre Geneza e Thames.

Após a vitória do exército, a cidade de Goliath (dente de pedra no idioma élfico) foi ocupada por migrantes em sua maioria provindos de Goldraf, a capital do Império e da já ocupada Thames, um reino próximo anexado meio século antes. O Império vendeu ou cedeu partes do lugar aos moradores, distribuindo-os em Distritos com um planejamento ocupacional, com regiões divididas de acordo com as funções estabelecidas.
Cada distrito é gerido por um Magistrado escolhido pelo Império, e o cargo é vitalício, garantido por um título de nobreza passado de pai para filho. Nos brasões das famílias de Goliath, é comum o uso de torres para representá-los perante os demais escudos do Império. As mais tradicionais são as famílias Dupreh e Lefan, cuja rivalidade ao longo dos tempos já provocou dezenas de pequenas escaramuças locais.
As principais decisões quanto o futuro e a gerência de Goliath são tomadas pelos Magistrados em um conclave. Devido a problemas políticos ocorridos em anos anteriores, Eduardo I, antigo Imperador, concedeu para o espanto (e repulsa) dos magistrados o título de Barão de Goliath à gárgula Garth, que tem por função fiscalizar as ações dos regentes e punir qualquer tipo de conduta errática.
Entretanto, a Gárgula não faz questão do título e continua em sua vigília noturna como tem feito nos últimos dois séculos. A população humana é predominante, mas elfos cinzentos e anões também se mudaram para lá nos últimos cinqüenta anos atraídos pela urbanidade da metrópole e pela arte em pedra das gárgulas.
Gnomos são o quarto povo mais numeroso de Goliath, habitando as torres no distrito do financeiro onde prestam serviços a Casa da Moeda Imperial. Demais raças, apesar de não serem incomuns (bestiais de Kreta e halflings principalmente) não possuem um número considerado significativo.

A cidade é especialmente ocupada por magos e comerciantes de itens mágicos, sendo um dos lugares mais ligados aos místicos no Império, perdendo apenas para Wizarlah na quantidade e disponibilidade de produtos. Por sua natureza aérea, é um dos principais pontos para aquisição de montarias aladas em toda Meliny, em especial grifos e pégasus.
A Guilda Arcana de Avis – ligada ao caminho elemental do Ar e a Guilda Arcana da Serpente (do caminho da água) também são bastante presentes, vendendo seus serviços na produção de pergaminhos com magias de vôo e transporte no caso da primeira ou poções de cura e força. Gnomos que não estejam totalmente empregados pela Casa da Moeda também trabalham como balonistas, transportando pessoas através da cidade.

No nível do solo, é em Goliath que se cruzam as três maiores e mais importantes estradas de todo o Império, e um dos raros caminhos totalmente pavimentados do continente. Trata-se da Via das Estrelas; ligando Goliath à Goldralf e Thames, a Via do Tempo, que segue até a cidade de Geneza, no extremo sul, e uma terceira para Forte Indix ao este, sendo esta que tem seu início na Estrada Aérea “Thelmo III”.
Tamanha confluência de avenidas de importância ímpar aumentou significativamente a quantidade de pessoas circulando diariamente pela cidade, e consequentemente o comércio local; transformando Goliath no entreposto financeiro mais importante do Oeste de Áureo. Estalagens de todos os tipos e para todos os bolsos podem ser encontradas facilmente, e sempre há vagas.
A mais afamada e procurada do lugar é a Estalagem da Coruja Cinzenta. Uma torre de oito andares abrigando a estalagem propriamente dita e uma taverna no nível do solo, geralmente freqüentada por vendedores viajantes. Por ser divididas em andares, é possível encontrar quartos mais humildes (custo de T$10,00 pelo pernoite) ou mais luxuosos (até T$250,00 por pernoite), de acordo com a disponibilidade financeira do cliente.
Owen Hoot, um halfling viúvo na casa dos setenta anos, é o administrador da estalagem. Ele fica no primeiro andar da torre, onde é o saguão de entrada e seus aposentos. Há uma outra entrada no quinto andar – com acesso pela Estrada Suspensa Thelmo III – mas esta vive fechada por uma pesada porta de carvalho grosso, e somente os hóspedes dos andares a partir do quinto têm acesso à chave, que é entregue ao Halfling quando pagam suas contas e liberam o quarto.
As seis filhas de Owen ajudam na arrumação da enorme torre, que está boa parte do tempo praticamente lotada. A segurança é efetuada por uma gárgula de rocha escura e aparência esguia chamada Dhatora, empoleirada sobre a porta da estalagem. Magos são proibidos de trafegar pela taverna, possuindo um reservado nos fundos onde podem se manter ocultos dos demais freqüentadores.
Circos, grupos de Gladiadores viajantes, vendedores de todo o tipo e de toda a espécie armam barracas e permanecem comercializando no solo enquanto que no alto das torres as lojas de produtos mais sofisticados atendem a um público mais seleto. Algumas poucas lojas surgem nas bases das torres, integrando o comércio local de maneira permanente.
No extremo oposto, está a Cidade Alta, lar dos nobres e burgueses ricos que habitam Goliath. Um grupo seleto de ricaços que ergueram aqui um condomínio restrito, dominado e governado de acordo com suas próprias vontades e métodos. Através dela está a impressionante Estrada Elevada Thelmo III. Um pontilhão de pedras brancas firmemente sustentadas sobre torres mais altas e robustas que cortam o lugar dividindo-o em dois.
Ladeando a Estrada Elevada estão as residências dos mais ricos e influentes de boa parte do Império. Mesmo assim, não há mercadores ou outros serviços nos arredores, proibidos por medida administrativa para sossego dos moradores. Uma associação dos residentes da Cidade Alta mantém uma milícia para a sua proteção – as Águias de Goliath – que cria atritos com a Milícia e até mesmo com as Gárgulas de Garth.
Texto Original: Leonardo Hardman
Adaptação: Marlon Teske “Armageddon

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