Como disse no post anterior, arrumar um lugar para jogar foi um dos maiores problemas que enfrentei quando comecei minha carreira rpgística e, depois de anos sofrendo com isso, só pude resolver o drama levando o jogo para minha própria casa.
Acho que a única coisa pior que arrumar lugar para jogar RPG, é arrumar lugar para tocar com a sua banda, ou guardar seu elefante de estimação.
Depois que perdemos nosso primeiro local de jogo, uma sala vazia de um curso de inglês, nosso ponto de encontro tornou-se a churrasqueira do prédio de um dos jogadores. Com mesa, cadeiras e iluminação suficientes para jogarmos a tarde toda e ainda adentrarmos a noite.
Um dia, chegamos para jogar e a churrasqueira estava ocupada.
“Ok.” – Dissemos. – “Acontece”.
Mas também aconteceu no final semana seguinte, e no próximo, e no seguinte.
É claro que achamos aquilo muito estranho.
“Vamos reservar a churrasqueira também” – Resolvemos. Apenas para descobrir que nosso competidor havia reservado o espaço TODOS os finais de semana, durante os próximos meses.
Enquanto não arrumávamos novo lugar, passamos algumas das tardes vagando pelas ruas, apenas conversando.
Nessa mesma época, nosso grupo ainda tinha 7 jogadores. Embora não fosse um número enorme, a maior parte dos pais não aceitava receber em suas casas tantos adolescentes zoneiros ao mesmo tempo (mais tarde, chegaríamos aos 13 rpgistas zoneiros).
Também não havia essas ferramentas online de apoio ao jogo. Aliás, não havia nem MSN. Pensando melhor, só dois caras tinham acesso à internet!
Muito difícil essa vida de rpgista
Chegamos a pensar em jogar em lojas de RPG (mas eram distantes demais), shoppings (mas aqueles maricas tinham vergonha), e barzinhos (mas ia ficar muito caro).
Passamos um bom tempo jogando sem local fixo. Cada final de semana era uma corrida para descobrir onde poderíamos nos encontrar, até que eu me mudei e convenci meus pais a jogar na nova casa, que tinha uma varanda grande o suficiente para comportar a galera.
Há algumas vantagens em receber os jogadores na sua própria casa:
1 – O jogo pode acontecer:
Essa é a razão principal, certo?
2 – Dinheiro:
Você não precisa se deslocar. Não precisa pegar ônibus, carro, nem gastar dinheiro com nada disso;
3 – Segurança:
Sem precisar pegar ônibus, você fica menos exposto, além disso, caso o jogo termine tarde, não precisa se preocupar em ficar zanzando de madrugada pelas ruas (especialmente se você morar em uma grande capital, no meu caso, o Rio de Janeiro);
4- Informação:
Eu era adolescente. Nessa idade, meus pais estavam especialmente preocupados por saber onde eu estava e com quem estava. Estar em casa deu mais tranqüilidade a eles;
5 – Mais XP e itens:
Como conseqüência das vantagens acima, o jogo nunca começa sem você, e você nunca se atrasa. Além disso, não há motivo para ter que sair mais cedo do jogo. Aliás, sem você, não há jogo. Para mim, essa vantagem foi de ENORME valia (eu SEMPRE tinha que sair mais cedo).
Repare que essas vantagens podem ser utilizadas para convencer, a maior parte dos pais, de que você deve receber seus amigos em casa (esqueça a vantagem 4, essa só vale para você).
No entanto, ser o anfitrião tem três grandes desvantagens:
1 – O anfitrião recebe convidados e, por isso, muitas vezes gasta mais com comida/bebida que os demais.
Essa desvantagem pode ser facilmente evitada. Basta negociar com os demais jogadores a partilha da conta.
2 – Gente sem noção;
O cara que mexe onde não deve, quebra o que não pode pagar e suja mais do que deveria.
Eu dava esporro. Além disso, felizmente, meu grupo tinha senso e eles próprios se regulavam.
3 – Você limpa a sujeira:
Vale a recompensa. E se você for bom de negociação, pode convencer o grupo a ajudar.
Anos se passaram. Hoje tenho minha própria casa e chamo o grupo para vir aqui quando quero, sem precisar convencer ninguém.
O problema do lugar está definitivamente resolvido e eu, finalmente, posso guardar meu elefante de estimação onde quiser.