Ícone do site RPGista

True20 Adventure Roleplaying

Alguns anos depois do lançamento do Dungeons & Dragons Terceira Edição e da Open Gaming License (mais conhecida pela sigla OGL), poucas pessoas acreditariam que o mercado norte-americano poderia se reaquecer e surpreender com um novo sistema, baseado na OGL do sistema d20. Mas esse novo sistema existe: é o True20 da Green Ronin, a mesma editora responsável pelo RPG de super-heróis Mutants & Masterminds.
Para aqueles que já conhecem o D&D, Ação!!!, 4D&T e outros, uma primeira observação indica algo muito parecido, só que bem mais simples. Nada de ataques de oportunidade, áreas de ameaça e outras mecânicas de regras feitas para se jogar com miniaturas, ou seja, é um jogo realmente feito para se jogar com papel, lápis, livros e dados. À medida que a leitura do livro avança é que se percebe as diferenças, se descobre o quanto o sistema é robusto, e então as semelhanças começam a diminuir.
Por exemplo, são apresentadas somente três classes básicas, de forma similar ao Ação!!! e ao Primeira Aventura: o Warrior, o Expert e o Adept. O Warrior é classe com as habilidades mais voltadas para combate, o Expert é a classe com acesso a mais perícias e capaz de uma maior versatilidade, e o Adept é a classe capaz de utilizar qualquer habilidade de origem sobrenatural, tratando tudo como um único poder: magia, psiquismo, mutação, poderes alienígenas, prótese cibernética etc.
Algo que já havia aparecido em outros sistemas, que também é apresentado aqui, é a regra de Toughness (Níveis de Vitalidade) em substituição aos Pontos de Vida. Basicamente consiste de uma rolagem somada ao bônus de Vitalidade do personagem, contra uma dificuldade pré-estabelecida. Essa dificuldade pode aumentar à medida que aumenta o dano do ataque recebido. Se passar no teste, ele foi bem sucedido em resistir ao ataque, mas se não passou, sua situação varia de acordo com a diferença no valor da rolagem. Ou seja, se a diferença no valor da rolagem for pequena, o personagem ainda pode estar em condições de continuar adiante, mas se a diferença foi muito grande, ele pode até chegar à beira da morte.
Outra característica bem interessante é a existência dos Conviction Points, que de certa forma são parecidos com os Pontos de Ação!!!, só que sua obtenção não é limitada pelo seu nível de personagem. Esses pontos são capazes de fazer a diferença em uma sessão, e a maior parte deles precisa ser reconquistada durante o jogo, através de interpretação, para ser utilizada novamente em outras proezas. Eles podem ser usados para se ganhar alguma vantagem, tal como refazer uma rolagem mal-sucedida ou obter temporariamente os benefícios de um talento que não possui, entre outras opções.
Houveram mudanças significativas em algumas perícias já conhecidas, que aqui têm outro nome, como Acrobacia (Tumble) que se chama Acrobatics e Cura (Heal) que virou Medicine, ou foram combinadas em uma única perícia (Observar e Ouvir formam a perícia Notice, Esconder-se e Furtividade formam a perícia Stealth). A descrição da perícia também mostra se o teste dela exige uma interação e se requer ou não uma especialização ou ferramentas específicas. Um novo conceito para esses testes são os Challenges, que te permitem aumentar a dificuldade de uma rolagem para executar uma tarefa mais difícil.
A lista de talentos é bem maior e mais versátil, porque além dos já conhecidos (entre eles Foco em Perícia e Sucesso Decisivo Aprimorado), engloba também as habilidades de classe do d20 (como por exemplo Inimigo Favorecido e Familiar). E todos estão divididos em talentos gerais, que estão disponíveis para todos os personagens, e talentos específicos para cada classe.
Os poderes sobrenaturais do Adept são apresentados à parte em um capítulo bem sucinto: trata da mecânica de utilização dos poderes de uma forma simples e concisa. Mas traz vários poderes prontos, todos na forma de talentos, como por exemplo Blink (Piscar), adaptado a partir da magia de mesmo nome.
Por permitir todo tipo de campanhas em cenários que vão da fantasia medieval ao cyberpunk, há também uma extensa e detalhada lista de equipamentos de todos os tipos e épocas, como armas, armaduras, montarias, veículos e quase qualquer apetrecho que se possa imaginar e utilizar em uma sessão de jogo. Você encontra estatísticas de camêras fotográficas, espadas, lança-chamas, chicotes, tanques de guerra e vários outros, além de uma menção aos itens sobrenaturais usados pelo Adept. Todos eles utilizam uma regra de Wealth (Recursos, similar ao Ação!!! e ao d20 Modern, mas diferente em sua mecânica) para se estipular o valor do equipamento, que também serve para medir a capacidade de compra dos personagens.
Se você acha que o livro é apenas um mero apanhado de números, cálculos e puro matar-pilhar-destruir, está enganado. Ele dedica várias páginas a explicar a mecânica do sistema, como fazer os testes e o que esperar de certas situações. Pode parecer chato para alguns jogadores, mas muitos mestres podem perceber aqui que o sistema não é tão parecido quanto os outros jogos d20 disponíveis no mercado.
Falando no mestre, há um capítulo inteiramente dedicado a ele que ensina como elaborar uma aventura e como conduzir ela durante uma sessão, além de outro capítulo que trata somente dos adversários e como construí-los. Note que é possível construir não só monstros horrendos capazes de reduzir as chances de vida de um grupo em um só ataque, mas também vilões dotados de poderes que rivalizam os dos próprios personagens. Um pequeno bestiário de exemplo apresenta criaturas da natureza como o Morcego e o Urso, e também os já conhecidos monstros Orc e Vampiro, todos com fichas completas e alguns até com pequenas descrições de táticas empregadas em combate.
Como se não bastasse, o livro ainda traz quatro cenários: Caliphate Nights, ao estilo das “1001 noites”; Lux Aeternum, onde se envolve com alienígenas e o espaço sideral; Mecha vs. Kaiju, com seus robôs gigantes salvando cidades (um gênero bastante explorado ultimamente); e Borrowed Time, que lida entre outras coisas com a capacidade de se manipular o próprio tempo, evitando catástrofes usando os intervalos entre os segundos.
Para finalizar, um capítulo com dicas e alguns exemplos para a conversão de outros sistemas d20 para o True20, além de uma ficha de personagem e um índice, não esquecendo é claro uma cópia da OGL.
É um ótimo livro, completo e pronto para se jogar. Apesar de estar em inglês (o que dificulta para alguns jogadores) ele cumpre o que se propôe a ser, que é um sistema completo e abrangente para muitos tipos de campanhas e personagens. O ponto baixo do livro, na minha opinião, está na lista de poderes que poderia ser maior, e no cenário Borrowed Time, que poderia ser maior.
O próprio True20 está em constante atualização graças aos vários fãs, que discutem diariamente melhorias e novos talentos e poderes nos fóruns do site oficial em http://www.true20.com/.

Sair da versão mobile