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Os Quatro Pilares do RPG Nacional

Os Quatro Pilares do RPG Nacional 2

Eles atraem novos jogadores, mantém os antigos, possuem grandes vendas, e nutrem todo mercado de RPG do Brasil. Quais sistemas seriam os quatro pilares do RPG nacional?


Pilar (sm): 1. [Arquitetura] Coluna simples de concreto, pedra, madeira ou metal que sustenta uma construção. 2. [Linguagem figurada] Que dá estabilidade ou segurança; apoio, arrimo, suporte.

Dicionário Michaelis

Recebem a alcunha de pilares os sistemas de RPG que sustentam todo mercado nacional, não apenas atraindo um grande número de novos jogadores para o hobbie, mas também mantendo um grande número jogadores antigos. Devido a sua força, estes baluartes estão constantemente transferindo jogadores para outros sistemas, alimentando e renovando todo o mercado.

Ao meu ver, para ser considerado um pilar, um sistema precisa cumprir com cinco requisitos:

  1. Ser publicado nacionalmente e em português. Novatos dificilmente vão procurar por livros em inglês na Amazon, e atrair novos jogadores é um atributo importante.
  2. Possuir um número considerável de suplementos, satisfazendo sua comunidade.
  3. Possuir lançamentos com certa constância, mantendo a comunidade interessada.
  4. Ter um número considerável de jogadores ativos.
  5. Possuir uma comunidade engajada comentando, compartilhando e produzindo material próprio.

Seguindo esses critérios, podemos recordar de diversos sistemas que já foram pilares no mercado nacional, como D&D 3ª edição, Storyteller, GURPS e Daemon. Nos dias de hoje, eu selecionei quatro sistemas, que ao meu ver, merecem o título.


1º Pilar: Tormenta RPG

Tormenta é sem dúvida o maior cenário nacional de fantasia medieval do Brasil, possuindo também quadrinhos, romances e videogames. Atualmente é publicado pela Editora Jambô para dois sistemas de regras: o Tormenta RPG (TRPG) e o 3D&T Alpha.

Tormenta RPG é um sistema D20 Open Game License (OGL), derivado e compatível com a 3ª edição de D&D, mas adicionando pequenas melhorias e modificações nas regras. Além de um cenário forte, o sistema possui vários suplementos e vem recebendo suporte mensal da revista Dragão Brasil.

O sistema possui uma grande e fanática comunidade de jogadores. Esta comunidade mantém até hoje um site Wiki por conta própria, compilando regras e material, seja oficial ou fanmade. Por outro lado, os fãs já não produzem material como antigamente, quando haviam inúmeros blogs e iniciativas.

Talvez o maior ponto fraco de TRPG seja também um de seus pontos fortes: a ligação íntima com seu cenário. Seria natural que TRPG herdasse o trono de D&D 3ª edição, como Pathfinder RPG fez no exterior, mas isso não ocorreu por completo. Mesmo sob licença aberta, não há lançamento de suplementos para outros cenários (ou interesse de outras editoras em fazê-lo), embora algumas adaptações tenham sido publicadas em revistas.

O manual básico de Tormenta RPG foi lançado originalmente em 2010 e está na sua 3ª edição. O “Tormentão”, como foi apelidado, conta com mais de 10.000 cópias vendidas.


2º Pilar: 3D&T Alpha

Lançado pela revista Dragão Brasil no fim da década de 90, Defensores de Tóquio 3ª Edição (vulgo 3D&T) arrebatou um grande número de jovens jogadores, tendo sido (e ainda sendo) a porta de entrada de muitas pessoas para o RPG. Sua comunidade é tão fiel que convenceu o autor a relançar o sistema anos após este ter sido descontinuado!

Nascia assim a versão Alpha, publicada pela Jambô Editora e que hoje conta com três cenários oficiais publicados:

3D&T sempre teve como pontos fortes a simplicidade, velocidade e versatilidade. Atraindo novatos e podendo ser adaptado para uma vasta gama de gêneros e cenários. Com uma rápida busca pela internet é possível encontrar dezenas de adaptações feitas por fãs: de animes como Naruto e Shaman King, até livros, filmes e games como Harry Potter, Resident Evil e World of Warcraft.

Assim como o Tormenta RPG, o “azulzinho” também recebe suporte mensal através da revista Dragão Brasil, mas é interessante destacar (e elogiar) que diferente de TRPG, 3D&T também recebe um considerável suporte oficial gratuito através do blog da Jambô, onde os autores lançam material para os cenários já existentes, além de novos cenários experimentais.

Ainda existe bastante preconceito e rejeição ao sistema, especialmente entre os jogadores mais tradicionais. 3D&T ganhou fama de ser simplista, e seu sistema voltado para ação e baseado em efeitos (não em causas) é estranho para muitos. Claro que 3D&T tem suas limitações, mas as acusações de ser “malfeito”, “simplório” ou “infantil” são bastante injustas. Estas pessoas ignoram que 3D&T vem aprimorando sua profundidade tática e versatilidade ao longo de mais de duas décadas.

O manual básico de 3D&T foi lançado em 2009 e está na sua 3ª reimpressão, tendo mais de 9.000 cópias vendidas (fontes internas na editora). Além disso, a Jambô fornece o PDF do manual básico gratuitamente em seu site, tendo sido pioneira nesta estratégia.


3º Pilar: Old Dragon

Criado por dois lendários blogueiros de RPG, Old Dragon é um sistema D20 OGL com fortes influências do movimento “old school”, retornando com o clima e filosofias de jogo das primeiras edições de D&D, com poucas classes, alta mortalidade de personagens, e regras simples e soltas.

O “Velho Dragão” é o carro-chefe da Editora Red Box. Hoje o sistema conta com diversos suplementos publicados e alguns deles licenciados. A editora mantém uma Wiki onde compila regras e materiais, sejam oficiais ou produzido por fãs; além de publicar material de suporte com certa frequência em seu blog. Por fim, a Red Box oferece suporte para que a comunidade produza seu próprio material. Essas políticas criaram uma das comunidades de fãs mais engajadas e ativas do RPG brasileiro.

Além de ter publicado diversas aventuras sem uma ambientação específica, hoje o “Velho Dragão” também conta com um cenário oficial publicado (Tordesilhas, Sabres & Caravelas), e outro a caminho (Legião). O sistema também possui uma versão voltada para a ficção científica pulp: o Space Dragon.

É difícil encontrar pontos fracos em Old Dragon: o sistema é barato, acessível, e seus livros e caixas estão cada vez mais bonitos (incluindo um bestiário 100% ilustrado e colorido). Pode-se dizer que a mecânica e filosofia “old school” é tanto um ponto forte quanto fraco, afastando grupos a procura de sistemas e cenários maiores, mais modernos e complexos como Tormenta RPG e D&D 5ª edição, com dezenas de classes, opções táticas, e suplementos de cenário.

Lançado em 2011, o módulo básico de Old Dragon já conta com 12 mil cópias vendidas*. Além disso, o PDF pode ser adquirido gratuitamente na loja da Red Box.


4º Pilar: Savage Worlds

A posição de Savage Worlds como quarto pilar nacional é um tanto incerta. Apesar disso, acredito que o sistema tenha potencial para preencher esta posição.

Publicado no Brasil pela Retropunk, Savage Worlds é um sistema genérico indie que conquistou inúmeros jogadores nos EUA e além. O sistema é conhecido pela simplicidade e velocidade, mas sua verdadeira força está nos cenários, elogiados por críticos e jogadores.

O engajamento da comunidade é vital para o sistema, pois a editora publicou quase todos os títulos via financiamento coletivo. “Mundos Selvagens” conta atualmente com quatro cenários publicados no Brasil, com um quinto a caminho:

Com uma comunidade engajada e lançamentos constantes, o maior questionamentos quanto a “pilaridade” de Savage Worlds se deve a dependência em relação aos financiamentos coletivos. Embora isso possibilita a produção de livros coloridos de alta qualidade, tenho dúvidas sobre o quanto isso limita o seu acesso a novatos (que vão esbarrar com RPG pela 1ª vez em livrarias e lojas especializadas). Talvez Savage Worlds esteja restrito demais a um nicho para ser considerado pilar, mas ele tem potencial para ir além, ocupando o nicho deixado por GURPS no Brasil, com cenários diversos, mais “históricos” e menos exagerados que os de 3D&T Alpha.

O manual básico de Savage Worlds foi publicado em 2013 e encontra-se na sua 2ª edição. Segundo fontes da editora, o manual já teria vendido um total de aproximadamente 3.000 cópias.


Análise sobre os quatro pilares

Sobre a ordenação dos pilares, me pareceu óbvio que Tormenta e 3D&T possuam uma história antiga com profundos impactos no mercado brasileiro, de modo que os posicionei na 1º e 2º posições, deixando o recém-chegado Old Dragon como 3º pilar, e o incerto Savage Worlds na 4º colocação.

Se no passado a maioria dos pilares foram RPGs gringos (GURPS, Storyteller, D&D 3ª edição), hoje a situação se inverteu. Isso se deve tanto a um amadurecimento do mercado, quanto ao afastamento da Editora Devir em relação ao RPG. A editora era a única no passado com cacife para licenciar e publicar estes RPGs na qualidade crescente exigida pela comunidade e editoras gringas. Este afastamento gerou um vácuo que porventura foi ocupado pela Jambô e Red Box com títulos nacionais de custo reduzido.

Destaca-se também que os manuais básicos de 3D&T Alpha e Old Dragon possuem vendagens altas, mesmo com seus manuais disponíveis gratuitamente. Que isso incentive outras editoras e sistemas a seguir a mesma estratégia!

A menos que D&D 5ª edição seja lançado em português, não vejo como esta conformação dos pilares possa se alterar a curto prazo. Notei a ausência de um pilar focado no terror e campanhas modernas: nicho que já teve vários pilares, como GURPS, Daemon e Storyteller. Esta é uma lacuna que 3D&T vem tentando preencher com Mega City, e outras editoras parecem desejar investir.

Concordam com a lista dos pilares? Gostariam de acrescentar algo mais? Tretemos amistosamente nos comentários! 😀


*Informação sobre as 12 mil cópias na live com Mr. Pop (55:40) em 30/11/17, gravação no link.
Agradecimentos ao Moreau do Bode, Marlon Teske (Jambô Editora) e Daniel Martins (Retropunk) pelas informações; e ao Pedro Feio pela revisão.

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