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Brigada Ligeira Estelar: Aliança Imperial e o retorno da monarquia

Novo artigo sobre o cenário Brigada Ligeira Estelar! Após derrubar repúblicas corruptas, Silas Falconeri, antes um mero plebeu, fundou a Aliança Imperial, retornando com a nobreza e monarquia. Neste artigo tentamos desvendar o porquê deste retorno.


Monarquias e nobreza são elementos recorrentes na ficção científica com robôs gigantes desde sua origem. Muitos animes do gênero tem referências nos “romances ruritânios”, gênero de capa e espada popular no final do século XIX. Estes romances romantizavam os jogos de poder da nobreza (você pode conferir mais sobre estas influências no excelente artigo do Pedro Leal para o Fortaleza da Nerditude).

Como esperado, Brigada Ligeira Estelar bebe fartamente destes elementos, mas o resultado é um pouco anacrônico. Afinal, que processos históricos poderiam resultar no retorno da monarquia num futuro distante? A Aliança Imperial surge em 1802 C.E. (ou 3.759 d.C), quase dois milênios após a derrocada dos regimes monárquicos na Terra, quando foram substituídos por repúblicas ou reduzidos a um papel simbólico.

Vejam que, embora a Aliança Imperial seja parlamentarista, a nobreza aqui detém maior poder que nas monarquias parlamentaristas do séc. XXI. Nobres dos mundos do Sabre governam domínios e províncias diretamente como poder executivo. Além disso, eles controlam a maioria dos latifúndios, as indústrias, a mídia, e os exércitos; sem mencionar que muitos juízes e parlamentares são da nobreza ou ligados a ela. É um poder longe de ser simbólico.

Mudanças de regime estão diretamente associados a organização econômica e histórica pregressa de uma civilização. É difícil imaginar que Silas Falconeri teria se declarado Imperador após derrubar as repúblicas corruptas que existiam na Constelação, a menos que já houvesse uma cultura monárquica que precedesse essa decisão. De fato, as poucas exceções de retorno a monarquia conhecidas na história moderna (quando não associadas a retomada do trono), remetem a esse contexto (e.g. ascensão de Napoleão e Napoleão III na França).

Teria a Constelação de Sabre uma cultura monárquica pregressa ao Império?

Lendo com atenção a descrição dos mundos da Constelação de Sabre, vê-se que na maioria dos casos não há informações sobre os antigos regimes. Sabemos que Arkadi e Viskey já eram monarquias. De fato, a fundação do Império foi resultado direto do casamento de Silas Falconeri com a filha do ex-Imperador de Viskey.

As descrições de Gessler e Bismarck – baseados respectivamente na Confederação Suíça e no Reino da Prússia – dão a entender que se organizavam como reinos ou principados, e as atuais famílias regenciais já os governavam. Ottokar era um mundo fragmentado, mas possuía seus sultões e califas – sendo baseado nas ocupações inglesas no Oriente Médio e Índia –. Já Annelise e Montalban não possuem nenhuma pista quanto aos antigos regimes, mas a cultura destes mundos possui fortes referências a nobreza – além disso, sabemos que Montalban é baseado no auge do Império Espanhol, enquanto Annelise tem referências aos romances folhetinescos da França de Napoleão III. Por fim, temos os casos de Tarso e Albach – este último baseado no Império Britânico – cujas as descrições são mais dúbias quanto o assunto, mas não descartam a possibilidade de terem sido monarquias.

Como se vê, existem boas evidências de que havia de fato uma cultura monarquista pregressa ao Império. Apenas cinco mundos foram confirmados como repúblicas: Alabarda, Albuquerque, Forte Martim, Trianon e Uziel (este último uma ditadura), embora outros mundos possivelmente também tenham sido.

Contraste entre mundos

Analisando as informações que levantamos, vemos que os cinco mundos confirmados como republicanos eram regimes corruptos, com alta desigualdade e que beneficiavam somente as oligarquias. Já outros mundos centrais que eram monárquicos aparentavam ser menos desiguais: Viskey, Annelise, Montalban, Gessler e Bismarck. Essa comparação pode ter influenciado o movimento revolucionário que derrubou a república de Albuquerque e serviu de semente para o Império.

Vamos deixar claro aqui que não estou dizendo que monarquias são melhores que repúblicas. Isso seria de um reducionismo absurdo, já que outros fatores de natureza socioeconômica estão envolvidos. Veja que as cinco repúblicas citadas pouco melhoraram após serem incorporadas ao Império e virarem monarquias, e que os mundos distantes de Arkadi e Ottokar possuíam (e possuem) nobrezas extremante opressoras.

Surgimento da nobreza

Ok, já concluímos que havia monarquias antes do Império, mas isso não explica a questão levantada no começo desse texto: como ainda podemos ter nobreza e monarquias quase 2.000 após a derrocada dessas na Terra?

A teoria mais plausível é que algo ocorreu durante o Grande Vazio, período entre os séculos IX e XVIII do Calendário Estelar (C.E.) cujos registros são escassos e confusos (Brigada Ligeira Estelar, p.75). Sabemos que houveram grandes períodos de fragmentação e isolacionismo, e este é um ambiente propício para o surgimento de uma classe dedicada a defesa e governo das terras.

Após a fragmentação ocorrida no Grande Vazio, houve então um período de retomada das relações comerciais entre os mundos do Sabre, que teria levado ao surgimento de estados planetários centralizados na figura de monarcas (séculos XVI a XVIII C.E.). Eventualmente alguns destes regimes podem ter sido derrubados por oligarquias locais, gerando as repúblicas que seriam derrubadas mais adiante por Silas Falconeri.

Estes processos históricos do Grande Vazio são complexos, mas possuem algumas evidências na história do cenário que os suportam. Falaremos mais sobre isso num artigo futuro.

Conclusão

Analisando as informações e discussões levantadas no texto, podemos concluir que Silas Falconeri e seus seguidores optaram pela monarquia por três fatores:

Estes fatores reunidos também nos fazem entender porque existe uma rejeição histórica ao republicanismo na Constelação de Sabre, onde movimentos pró-república possuem pouca influência (movimentos de oposição pró-monarquia aparentam ser bem mais poderosos). Personagens republicanos e anti-nobreza devem levar estes fatores em conta em suas discussões.


Agradecimentos especiais ao Nume Finório pela revisão e discussão, e ao Alexandre Lancaster pelas longas horas de discussão sobre o assunto.

As imagens usadas neste artigo pertencem a Alexandre Lancaster e a Jambô Editora.

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