Tormenta: história militar de Arton, a Infinita Guerra

Bem vindos à história militar de Arton, uma nova série de artigos do RPGista sobre Tormenta RPG, onde iremos falar, duh, da história militar artoniana. A partir de agora toda segunda, quarta e sexta-feiras teremos artigos trazendo detalhes sobre um conflito militar de Arton. Os artigos utilizam uma mistura de material oficial e original para descrever vários conflitos artonianos, alguns apenas citados apenas de passagem nos textos oficiais (como a guerra civil de Deheon). Ocasionalmente, teremos artigos com análises, dicas de narração e novas regras ligadas ao tema militar em Tormenta RPG nas terças e quintas. Os próximos meses irão trazer bastante material para Tormenta, aproveitem. 😉
A Infinita Guerra
391 c.e. ? 1385 c.e.
A guerra entre elfos e hobgoblins é um dos primeiros conflitos da história registrada e certamente o mais longo de todos. Quando os elfos chegaram a Arton, decidiram utilizar a floresta Myrvallar para construir Lenórienn e sediar seu reino. Infelizmente, a floresta era habitada pelos hobgoblins, que a chamavam de lar há milênios. Os elfos não podiam tolerar os novos vizinhos, e iniciaram uma operação de “limpeza” da área ? genocídio é a melhor descrição do que aconteceu ? que forçou as tribos hobgoblins a fugirem para sobreviver, mas não sem terem jurado vingança antes.
Séculos mais tarde, em 391 c.e., os hobgoblins retornaram para reconquistar suas terras. Desta vez o conflito seria diferente. A derrota e o genocídio sofridos mudaram a mentalidade hobgoblim, se antes eram bárbaros e primitivos, agora eram uma civilização avançada e militarista, com soldados disciplinados, armas e armaduras de aço forjado e grandes máquinas de guerra. Pelo menos enquanto soldados, os hobgoblins eram melhores que os elfos, que tiveram que contar com seu domínio da magia para manter o conflito equilibrado.
Nenhuma das raças conseguiu vencer a guerra em definitivo com suas forças, e por isto o conflito se estendeu. Primeiro por décadas, depois séculos, logo o conflito ficaria conhecido como a Infinita Guerra. Uma aliança com os reinos humanos poderia ter livrado Lenórienn da ameaça, mas antes do retorno dos hobgoblins as demais nações civilizadas do continente haviam tentado todo tipo de contato com os elfos, de tratados comerciais a alianças, mas todas as tentativas foram rechaçadas com arrogância e mesmo violência por Khinlanas, o regente élfico. Isto levou estes reinos ressentidos com a arrogância de Lenórienn a assinarem o Tratado de Lamnor, que proibia qualquer interferência nos assuntos élficos, fosse para o bem ou para o mal.
O conflito finalmente atingiria uma conclusão em 1385 c.e. quando o general bugbear Thwor Ironfist seqüestrou a princesa élfica Tanya e a entregou aos hobgoblins como prova de boa vontade, formando a Aliança Negra entre bugbears e hobgoblins e atacando Lenórienn com força total. Sem poder, ou querer, recorrer as outras nações do continente devido ao Tratado de Lamnor, a cidade élfica caiu. Na batalha final, dizem, o próprio avatar de Glórienn enfrentou em combate Thwor Ironfist, mas foi derrotada.
Com a derrota, os mais afortunados elfos foram expulsos da floresta Myrvallar e espalharam-se por Arton. A maioria foi morta na guerra ou feita prisioneira, tornando-se escravos ou, pior, comida para os vitoriosos hobgoblins.
Beligerantes: Lenórienn vs Hobgoblins.
Alianças de Destaque: Aliança Negra dos Goblinóides.
Rolando uma campanha durante o conflito
Uma campanha durante a Infinita Guerra exige um tipo diferente de aproximação. Como se trata de uma guerra primariamente racial, os únicos personagens que lutaram diretamente na guerra foram elfos e hobgoblins (e, em seu final, os bugbears). Nações de outras raças não têm parte ativa no conflito, o que nunca foi um problema para aventureiros, mas também significa que a ajuda deles será rechaçada pelos elfos em sua arrogância. Isto deixa três opções para uma campanha na Infinita Guerra.
A primeira opção para uma campanha é de um grupo composto apenas por elfos. Como elfos vivem longas vidas, alguns chegando a quase mil anos de idade (!), isto abre espaço para que os personagens dos jogadores que consigam sobreviver à violência da guerra a vivenciem do início ao fim, dando aos jogadores uma visão realmente única do mais longo conflito armado de Arton.
Um grupo élfico poderia ter uma campanha dividida em três atos: o choque inicial do retorno dos hobgoblins e seu ataque, a longa resistência e, finalmente, a queda. Durante o início do conflito as aventuras podem ter um tom de alarme. E se os personagens jogadores fossem a única coisa impedindo um ataque surpresa do exército hobgoblin contra Lenórienn? Já durante a longa resistência, os personagens seriam heróis em busca de uma maneira de encerrar o conflito com a vitória élfica. Aventuras em busca de antigas magias e artefatos ou informação que possa virar a maré da guerra são boas opções. Na parte final, cabe aos heróis garantir a sobrevivência élfica, talvez uma climática batalha final com Thwor Ironfist e seu exército para proteger o embarque de milhares de refugiados?
Por outro lado, o mestre pode esquecer a história oficial e deixar os jogadores atuarem como quiserem, aconselho que mantenham em mente que a Infinita Guerra deve ensinar uma lição aos elfos, de que sua arrogância só lhes trará ruína. Na versão oficial, essa foi uma lição trágica, mas talvez na sua mesa o pior possa ser evitado.
A segunda envolve um tipo de campanha mais selvagem, com grupos compostos por hobgoblins. Apesar de cruéis e malignos, os hobgoblins não estão exatamente errados em seus objetivos na Infinita Guerra. Afinal de contas, eles são apenas uma raça tentando retomar sua terra natal de invasores genocidas, e o mestre pode aproveitar isto para manter interessados mesmo jogadores que prefiram heróis tradicionais.
A terceira opção é uma abordagem mista que permite uma visão realmente ampla da guerra: alternar entre aventuras com um grupo de elfos e outro de hobgoblins. É uma opção complexa, que exige grupos experientes, capazes de lidar com a mudança de perspectivas sem dar preferência a um dos lados do conflito, mas certamente uma das mais interessantes e completas maneiras de jogar uma campanha durante a Infinita Guerra.

João Paulo Francisconi

Amante de literatura e boa comida, autor de Cosa Nostra, coautor do Bestiário de Arton e Só Aventuras Volume 3, autor desde 2008 aqui no RPGista. Algumas pessoas me conhecem como Nume.

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5 Resultados

  1. Guilherme D. Vilela disse:

    Muito boa matéria.
    Gostaria de deixar uma análise sobre as alianças de poder entre os Deuses durante a Infinita Guerra. Os Deuses que agiram foram:
    – Keenn estava pela matança dos dois lados.
    – Por Lenórienn: Glórienn (diretamente), Allihanna (indiretamente), Wynna (pela defesa das fadas, aliadas dos elfos).
    – Pelos Hobgoblins: Hurlaag e Ragnar (diretamente), Tenebra (nos bastidores), Megalok (pela destruição).
    – Elrophin foi peça importante, ao convencer Khinlannas a não se aliar aos humanos. Foi fácil convencer uma raça que se achava superior, de que eles se bastavam sozinhos.
    – Com a profecia nebulosa de Thyatis, sobre Glórienn trazendo uma tempestade rubra para Arton, Khalmyr mandou todos deuses que apoiavam Lenórienn na Guerra se retirarem do conflito. Ele acreditava que, se os elfos perdessem, Glórienn não teria força para trazer a tempestade. Isso causou a virada na Guerra, a queda de Lenórienn e o sentimento de vingança que levou Glórienn a buscar a tempestade (tentar evitar o futuro causou o fato da profecia, clássico grego).
    Isso foi o que eu achei em material oficial e contos publicados inclusive aqui.

    • Elrophin é o deus menor da soberba que aparece em Victory, certo?
      Com relação a essa profecia, onde você leu sobre isso?

      • Guilherme D. Vilela disse:

        A profecia aparece em Inimigo do Mundo.
        É mai uma visão que uma profecia, mas ela leva Khalmyr a querer derrubar Glórienn antes que ela tenha poder para trazer a tempestade rubra.
        PS: Minha interpretação pode ter um leve viés élfico, mas fica implícito algo do gênero.

  2. Douglas disse:

    Interessante o post. Estou com uma campanha na época da Infinita guerra. Bem na época que Lenorieen vai cair. Vai ajudar em algumas coisas. 🙂
    Do Elrophin se envolver, nem lembrava.

  3. Arthur disse:

    Os elfos não são invasores genocidas! Pelo contrário quando os elfos chegaram eles tinham uma atitude neutra em relação aos hobgoblins. Foram os hobgoblins que decidiram atacar os elfos e os elfos os expulsaram DEPOIS disso ( Expedição a aliança negra) E o que acham que os hobgoblins fizeram com qualquer outra raça vizinha? Os elfos nunca foram intolerantes, pelo contrário. Como por exemplo o Edauros e a Yadallina, O que outros povos fazem se uma criança por fogo no berço usando magia? Matam! E os elfos? Contratando-te um terapeuta.
    Essa interpretação de que Lennoriem caiu só devido a arrogância dos elfos está errada, Lennoriem caiu por que os elfos são politicamente corretos demais (O Terceiro Deus) OK a arrogância ajudou um pouco mas nunca foi o principal motivo.

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