Tormenta: Thormy, o Traidor e o futuro do Reinado

O antigo Rei-Imperador Thormy é um personagem controverso. Para quem nunca leu O Terceiro Deus, ele é um bundão, para quem leu, ele é O IMPERADOR. Mas já pararam para pensar quem ele é para uma enorme quantidade de artonianos? Por que para eles, Thormy é o maior de todos os traidores que já sentou no trono imperial. E eles estão certos.
Por quê eles estão certos? Bom, para começar, vamos falar sobre o que é o Reinado. O Reinado é uma mistura de ONU com OTAN, é uma entidade política que reúne as forças militares de estados membros para garantir a paz e a estabilidade dentro de suas fronteiras. Cada estado membro tem suas responsabilidades que devem ser cumpridas, como o envio de tropas e recursos para manter o Exército do Reinado, mas em troca recebe estabilidade e segurança. Se alguma coisa acontecer, como membros do Reinado, eles podem contar com a intervenção desse mesmo Exército do Reinado para restaurar as coisas à ordem anterior. É basicamente este o pacto supranacional do Reinado, e, como já comentamos, funciona. Graças ao Reinado, Arton é provavelmente um dos cenários de fantasia mais pacíficos que existem em termos de conflitos armados entre nações.
Ou funcionava, até Thormy foder com tudo. Todos os reinos do oeste cumpriam com suas obrigações para com o Reinado. Eles pagavam seus impostos, mandavam soldados, davam respeito ao Rei-Imperador e só esperavam em troca que se estendesse a mão a eles em seus momentos de necessidade conforme o pacto estipulava. Quando Tapista atacou o Reinado, esse pacto foi testado. Apesar do ataque surpresa, Tapista basicamente não tinha chances de vencer, o oeste do Reinado é uma das áreas menos desenvolvidas e habitadas do continente, com pouco menos de 2 milhões de habitantes nos reinos que Tapista conquistou. O Reinado ainda contava, portanto, com mais de 90 milhões de habitantes e 95% do seu potencial de guerra. Em vez disto, no entanto, Thormy escolheu preservar essas forças para lidar com outras ameaças como a Tormenta e a Aliança Negra, negociando a paz com Tapista. Por mais que você possa argumentar que essa foi a escolha correta para garantir o futuro de Arton, não há como negar que Thromy traiu o pacto do Reinado, abandonando aliados que contribuíram fielmente para com o Reinado durante séculos e deixando dois milhões de pessoas à própria sorte em meio a invasão de um inimigo que adere a prática da escravidão. O primeiro é um ato Caótico e o segundo, um ato Maligno. Por causa disto, Thormy certamente agiu contra sua própria tendência Leal e Bondosa, e hoje em dia deve ter caído para Neutro puro.
Além disso, os atos de Thormy garantem que o Reinado e a estabilidade que essa instituição garantiu para o continente durante três séculos e meio se desintegrassem a olhos vistos. Imagine que você é um dos estados restantes no Reinado. Se o Rei-Imperador pode trair o pacto e abandonar aliados fiéis, quem garante que o próximo não será você? Quem é que quer ficar em uma aliança onde você precisa contribuir com dinheiro e soldados mas sabe que será abandonado quando precisar de ajuda? A formação da Liga Independente não é uma surpresa nesse cenário, não, muito mais surpreendente é que o resto do Reinado não tenha se desintegrado imediatamente após a traição de Thormy. A única explicação para o Reinado ainda estar mais ou menos de pé é que a nova Rainha-Imperatriz, Shivara, como regente de três dos mais poderosos reinos do continente, pode dar aos demais estados membros um certo nível de confiança na aliança apesar da terrível traição cometida por Thormy.
No entanto, a situação com Shivara é instável, extremamente instável. Para começar, ela não possui herdeiros, o que significa que se ela for assassinada, adoecer ou cair em batalha, três dos mais poderosos reinos da aliança entrarão em interregno no mesmo momento que existe uma horda de goblinóides ao sul, conquistadores escravistas ao oeste e uma ameaça aberrante lovecraftiana ao norte. E entre os reinos que ela rege, Yuden possui uma população que é certamente hostil ao seu reinado e mais cedo ou mais tarde irá se rebelar.
É verdade que a ação de Thormy provavelmente deu a Arton uma chance de vencer os desafios que lhe são impostos, mas politicamente, é uma bagunça sem tamanho.

João Paulo Francisconi

Amante de literatura e boa comida, autor de Cosa Nostra, coautor do Bestiário de Arton e Só Aventuras Volume 3, autor desde 2008 aqui no RPGista. Algumas pessoas me conhecem como Nume.

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20 Resultados

  1. Aldenor disse:

    Agora imagina quando tu levar em conta que Shivara reconheceu a independência sé Svalas, diminuindo o território yudeniano….

  2. wefferson disse:

    É meio injusto que O Imperador tenha caído de sua tendência leal/bondosa somente por um ato, e principalmente porque esse ato havia sido forçado pelas circunstâncias. Um único erro, ainda que de tais proporções, não seria justificativa pra uma mudança tão grande de convicção ou personalidade.

    • Não é questão de ser um único ato, mas o tamanho e o significado do ato, reinos que foram fiéis cumpridores de suas obrigações em uma aliança militar durante séculos foram abandonados à própria sorte em seus momentos de necessidade, milhões de pessoas foram deixadas sob a sombra da tirania e escravidão. E o pior: não é que ele foi OBRIGADO ao ato, como disse, Tapista poderia ser facilmente derrotada pela força combinada do Reinado, mas Thormy ESCOLHEU o acordo para preservar forças contra outros inimigos, abandonando aliados e inocentes para morrer e serem escravizados. E a regra é clara, isso é um ato Caótico e Maligno. No MÍNIMO o personagem tem que cair pra Neutro, se não for o caso de cair direto pra Caótico e Maligno.

      • SolCannibal disse:

        Diga-se de passagem, é também discutível que Thormy não tivesse alternativas para lidar com Tapista além de negociar como fez por causa da Tormenta – botasse o maldito reino abaixo e repunha as perdas do conflito usando os remanescentes do exército táurico na linha de frente como conscritos/tropas penais, entre várias outras possibilidades.
        Nada bonito, mas ainda assim melhor que largar reinos vassalos leais à própria sorte nas mãos do traíra ambicioso…

  3. dberaldi disse:

    Analise perfeita!

  4. SolCannibal disse:

    Pergunta que não quer calar desse grande ignorante da história de Arton – por que raios foi criada uma aliança de defesa mútua supra-nacional como o Reinado para começo de conversa? O que fez monarcas dessas nações séculos atrás concordarem em sacrificar parte de sua autoridade, recursos financeiros & humanos e soberania para a manutenção de tal organização, à mais de 3 séculos, para começo de conversa?
    Me chama a atenção isso…

    • A mesma coisa que fez a Liga das Nações nascer no entreguerras e a ONU no pós-guerra: um conflito brutal que deixou populações inteiras, incluindo a classe política, completamente contra a ideia de conflitos armados. O Reinado foi fundado pelos descendentes dos reinos derrotados durante a Grande Batalha, o maior conflito armado da história de Arton. Neste novo continente, quando os novos reinos começaram a se envolver em conflitos sangrentos como a guerra civil em Deheon, a invasão de Svalas e Kor Kovith por Yuden, o conflito entre Bielefeld e Khubar, percebeu-se que eles mais uma vez estavam caminhando para uma nova Grande Batalha. Para evitar este destino Deheon, como o maior e mais influente reino, convenceu os demais reinos e fundou o Reinado. Reinos mais beligerantes, como Yuden, tiveram que dobrar os joelhos em vista do poder político, econômico e militar da aliança. Ajuda bastante também que todos os reinos fundadores tivessem a mesma identidade comum: refugiados da Grande Batalha.

  5. Danilo (Lollin, Arqueiro Arcano) disse:

    Nume, só discordo por um motivo: Thormy não tinha muito o que fazer pois o Reinado havia acabado de sair de uma batalha que custou muitos recursos e soldados, uma batalha que deixou todos num nível abalado defesa que seria necessário um pouco mais de tempo para se recuperar. Afinal de contas, Arsenal veio com tudo, e foi necessário usar tudo o que tinha para garantir que ele dominasse sozinho a porra toda. Logo não foi culpa do Thormy se antes da invasão dos homens vacas (odeio minotauro) veio o Darth Vader artoniano dominando tudo. Thormy ainda fez mais do que devia se entregando como refém para que houvesse “paz”!

    • Danilo, há uma superestimação dos estragos provocados pela Guerra de Arsenal. Na tabela do Contra Arsenal há um quadro bem ruim se ele não for detido cedo, mas o fato é que já que Sambúrdia, capital de Sambúrdia, não é descrita como tendo sido completamente destruída em material posterior como aconteceria no dia 27, o Kishin, oficialmente, foi destruído nessas primeiras três semanas e meia da guerra, sem causar estragos significativos para o Reinado. Thormy portanto tinha os recursos não só para resistir à invasão táurica, mas para completamente obliterar as legiões de Tapista. Ele escolheu não fazê-lo para usar esse poderio militar contra inimigos mais importantes e com menor possibilidade de coexistência, como a Tormenta e a Aliança Negra.

      • Wanderlei Souza (O Lord Wander) disse:

        Não concordo que thormy tinha muita escolha a não ser negociar a paz, ouve muitos problemas anteriores como a guerra contra cranio negro, e o já citado ataque de arcenal, alem disso apesar de ter 90% do exercito do reinado a disposição, seria nescessario muito tempo e recursos para recrutar e mover todo o exercito, sendo que a uma porção dele em tebruck e outra em thyrondir, a capital do reinado (e seu centro de comando e poder) eatava citiada e ele teve que usar o que tinha em mãos, alem disso como foi dito avia a chance de yudem se levantar contra o reinado e pelo menos zakarovh o seguiria, em suma a desisão dele foi evitar uma guerra prolongada que não só enfraqueceria todas as nações deixando-as a merce de grandes ameaças como a tormenta e a aliança negra (e isso sim seria um ato maliguino e menquinho) e causando uma eterna desconfiança entre os reinos
        reinos destroçando qualquer chance de uma aliaça entre eles, em suma Thormy tomou a melhor decisão com o que tinha em mãos, eu entendo que as pessoas comuns e até os nobres mais mesquinhos ou distantes achem o ex-imperador rei Thormy um traidor, mas acredito que os regentes e nobres mais “atenados” com os fatos do reinado comprendem que foi a melhor desisão para o futuro de Arton.

        • Sim, foi a melhor decisão para o futuro de Arton. Mas continua sendo uma traição para com os reinos e populações do Oeste e uma ação que desestabiliza completamente o pacto do Reinado. Thormy fez sua escolha entre os “males menores.”

        • Guilherme D. Vilela disse:

          O Rei Thormy era aventureiro antes de ser rei, ele sacrificou sua coroa em nome do povo e o Protetorado do Reino (o grupo de heróis de elite de Deheon) sabe disso.
          Os espiões já haviam avisado ele das máquinas da Aliança Negra (teve até aventura oficial dessa missão), então Thormy costurou um acordo onde ele abriu mão da coroa, mas garantiu uma coalizão do Reinado com o Império contra a Aliança Negra (vi isso em algum lugar).
          O Rei dividiu sua coroa em dois. Agora é partir pra cima, a flecha de fogo VAI aparecer.
          Minha opinião, a luta contra Thwor vai forçar o “Retorno do Rei”… sim, como em Senhor dos Anéis. Ou quem sabe, Rhana apareça para reclamar o trono de que tem direito.

  6. Tarcísio Lima disse:

    O Reinado não é apenas uma coalizão militar onde os membros dão soldados e ponto como o texto da a entender Há todo um contexto sócio político econômico por trás dessa organização para a melhor manutenção das coisas entre seus membros.
    E engraçado até ler isso porque ontem mesmo eu estava lendo o Guerras Táuricas para ficar por dentro melhor de como está o cenário que tanto gosto, e o texto também subestima subestima muiiiito os bovinos dizendo “que eles não tinham chances de vencer” quando a situação foi o oposto, como membros do próprio Reinado e tendo executado um ataque jamais esperado aos parceiros de organização e feito com perfeição um esquema de séculos de planejamento, estudando cada detalhe, fraquezas desses parceiros.
    Ok que o personagem foi sempre citado como “O rei justíssimo e bom” meio padrão e largou o mundo no maior caos com essa ação aparentemente, mas já que é o cenário de RPG e os jogadores que devem resolver os problemas do mundo acho até bom, já que dá ao cenário um maior diferencial em relação a mundos medievais.
    Mas acho que saí um pouco do tema proposto.

  7. Paulo "Magus" Felipe disse:

    Esquecem dois pontos importantes: A batalha de Tamu-ra e a ofensiva contra Arsenal foram extremamente recentes. Ambas demandaram recursos os quais não se pode dispor mais, como equipamentos de qualidade e pessoal capacitado.

  8. Mssiaslima disse:

    Entendo que Tormmy estava encurralado e, de alguma maneira, se lascar ia, independente da decisão que tomasse. Não vejo “tal erro” (se ele errou) como traição. Para mim, ele tomou uma decisão que acreditou ser a melhor. Infelizmente, as consequências foram a bagunça que, realmente (ou imaginadamente), o reinado vive.
    Quanto ao povo, é lógico que podem considerá-lo um traidor. Afinal, estão sofrendo e é mais comum as pessoas pensarem mais em si mesmas do que nos motivos do outro.
    Quanto ao post, apesar de não concordar muito com as ideias do parceiro aí, acho bacana a galera se juntar pra discutir essas questões. Acho que isso só faz crescer o RPG brasileiro. Era algo que tava faltando.
    Valores!!

  9. mikemwxs disse:

    A gente vê as “historinhas” se passando nos mundos de RPG e não imagina a profundidade que uma reflexão sobre os elementos envolvidos pode render… Matéria interessantíssima!

  10. Renato disse:

    Discordo do autor, acho a versao oficial dos acontecimentos totalmente verossimeis, esta e a minha opiniao

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