ENnie Awards: há algo de errado com a principal premiação do RPG?

A princípio, parece com a habitual lista de indicados ao ENnie que vemos todos os anos, com os principais produtos das grandes editoras fazendo suas aparições, fanboys fazendo piadinha sobre Wizards ou Paizo vencendo uma a outra no número de indicações, etc. Nada de muito especial, até algo chamar minha atenção, o livro Mass Effect: Fate RPG foi nomeado em três categorias: melhor livro eletrônico, melhor produto gratuito e produto do ano.
Ei, parece uma grande vitória, certo? Um produto FATE indicado em três categorias! É… então. Originalmente, Mass Effect: Fate RPG foi publicado no DriveThruRPG, mas foi retirado do site por violar direitos autorais. O autor então o hospedou no seu próprio site. Agora, antes de continuar, não estou dizendo que o autor está errado aqui. De maneira nenhuma. Desde que você não cobre pelo resultado, não há nada de errado em adaptar Mass Effect para Fate, fazer um PDF usando algumas ilustrações oficiais da Bioware/EA e distribuir no seu site. Isso é perfeitamente normal.
O problema começa quando você coloca um produto assim para concorrer num prêmio voltado para profissionais da área. Imaginem quão frustados devem ter ficado, por exemplo, o pessoal da Margaret Weis Productions e da Cubicle 7 Entertainment que produzem, respectivamente, os RPGs de Firefly e Doctor Who. Elas pagaram pequenas fortunas por licenças, negociando o uso legítimo da marca, pagaram por cada arte oficial utilizada, criaram novas artes, enfim, fizeram grandes produtos dignos de serem nomeados para o maior prêmio do RPG mundial e… do lado deles está um cara que nunca passou pelo mesmo processo e simplesmente foi nomeado para produto do ano com um produto que viola direitos autorais.
Então, qual a mensagem que os ENnies passam para estes profissionais e para a comunidade como um todo? Que eles não são uma premiação séria que garante prestígio a quem participar dela. Com isto, perde a indústria do RPG como um todo, pois o ENnies sempre foi uma maneira de apontar as melhores produções dessa área. Sim, sei que os indicados são escolhidos por votação popular, mas, neste caso, caberia ao ENnies ter vetado a entrada de Mass Effect: Fate RPG por violação de direitos autorais. E você, o que acha?
Atualização: mais ou menos ao mesmo tempo que escrevi este artigo, a organização do ENnie anunciou a desqualificação de Mass Effect: Fate RPG com base em violação de direitos autorais, e também que novas regras entrarão em prática em 2016 para garantir que os produtos participantes estarão em dia com o princípio de direitos autorais.

João Paulo Francisconi

Amante de literatura e boa comida, autor de Cosa Nostra, coautor do Bestiário de Arton e Só Aventuras Volume 3, autor desde 2008 aqui no RPGista. Algumas pessoas me conhecem como Nume.

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4 Resultados

  1. Eduardo disse:

    Excelente cometário e argumento!.

  2. SolCannibal disse:

    Uma notícia um tanto triste para não dizer deplorável.
    Nem entrando no mérito de se material licenciado devia ou não concorrer com sistemas e cenários originais ou receber uma categoria à parte – que é uma questão mais restrita e específica.
    Quer dizer que agora basta qualquer um catar manual oficial e arte de videogame, encaixar como módulo para sistema genérico qualquer e pode se apresentar como “conteúdo original” em concurso? Vou concorrer com GURPS Katamari Damacy no ano que vem então!
    Tapa na cara da indústria e incontáveis escritores e criadores que suam a camisa para fazer seus cenários vingarem.

  3. Bob disse:

    Boa argumentação. Ficou complicado para o ENnnie explicar esse vacilo.

  4. Marino Colpo disse:

    Uma pena que não baixei o jogo antes.. Agora retiraram do ar..
    Alguém chegou a fazer o download? E possível compartilhar.?
    Tentei achar o arquivo mas não existem em lugar nenhum.. E li em alguns sites que a adaptação ficou muito boa.

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