Como a decadência da blogosfera RPGística pode matar o RPG indie

Você sabe do que estou falando. No final dos anos 2000 e início dos anos 2010 era como se tivéssemos uma epidemia de blogs de RPG. Bons, ruins, medianos, para D&D, Mundo das Trevas, Tormenta, Mutantes & Malfeitores, old school, haviam blogs de RPG para todo tipo e gosto. Não por acaso, quando a revista DragonSlayer foi descontinuada pela Escala alguns anos atrás eu não fiquei tão triste quanto deveria porque, apesar do fim da revista, o RPGista brasileiro poderia encontrar nos blogs uma fonte de notícias e suporte para o seu jogo.
No entanto, nos últimos anos aconteceu um declínio perceptível no número de postagens dos blogs de RPG e dos blogs de RPG como um todo. O próprio RPGista é um exemplo: nascido da reunião de vários blogs de RPG (.20, Inominattus, Defensores, etc), nós hoje em dia podemos passar um mês inteiro sem novas postagens enquanto cinco anos atrás havia postagens todos os dias. E isso pode ser mortal para os nichos que cresceram graças a essa onda criativa dos blogs de RPG: o old school e o indie. Este último muito que o primeiro, que tem na Redbox uma empresa forte para cuidar da saúde do nicho.
Explico: embora os blogs não sejam absolutamente necessários para o processo criativo de desenvolvimento de qualquer jogo, eles são fundamentais como ferramentas de marketing para jogos indie. Onde mais um autor indie pode conseguir atenção para o seu jogo? Com tiragens de algumas centenas de unidades, é inviável pensar em festas de lançamento na Livraria Cultura, cobertura no Judão/Jovem Nerd/Omelete e qualquer ação de marketing do gênero porque, na prática, isto custaria ao autor mais do que ele gastou para imprimir toda a tiragem do seu livro (o que não é nem um pouco incomum para livros mainstream, papel é o menor dos custos envolvidos num best-seller vendido por R$ 50~80). Então onde o autor indie pode conseguir cliques e vendas para o seu jogo? A blogosfera de RPG.
Sem uma blogosfera de RPG estabelecida e forte, o autor tem que lidar com a necessidade de construir, ele mesmo, uma rede de divulgação nos moldes do que a Redbox fez. E isto custa dinheiro, tempo, habilidades de comunicação, marketing e uma estrutura empresarial para a qual o autor pode simplesmente não estar preparado e muito menos desejar se preparar para (afinal de contas, ele quer criar jogos, não virar um publicitário amador).
Mas então, o que podemos fazer? Bem, você pode começar a escrever mais sobre o seu hobby. Comprou um jogo legal de um autor indie? Escreva uma postagem no seu blog/medium/página do Facebook. Também comente mais nos blogs de RPG. A velha geração de blogueiros pode ter seguido em frente com suas vidas profissionais/pessoais/artísticas (muitos dos melhores blogueiros de sete, cinco anos atrás hoje são autores de livros de RPG, eu incluso!), e uma nova geração precisa se empolgar com seus blogs para continuar a tradição e isso só vai acontecer se eles perceberem que há pessoas que se importam com o que eles estão escrevendo. Seja elogiando, criticando ou sugerindo postagens.
Minha própria contribuição para esse objetivo é uma promessa que faço aqui a todos vocês e a mim mesmo: a partir de agora vou postar duas vezes por semana aqui no RPGista. Seja um artigo grande, uma notícia pequena de dois parágrafos, uma resenha, o que for. Você tem um projeto novo, um jogo, playteste ou  que precisa de divulgação? Mande para o meu e-mail ([email protected]), e eu vou divulgar no blog. Quem sabe, então, podemos evitar que a onda indie não perca força até desaparecer.

João Paulo Francisconi

Amante de literatura e boa comida, autor de Cosa Nostra, coautor do Bestiário de Arton e Só Aventuras Volume 3, autor desde 2008 aqui no RPGista. Algumas pessoas me conhecem como Nume.

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17 Resultados

  1. Kazz disse:

    Não acho que seja um problema dos Blogs de RPG em especifico. No geral os blogs não tem mais o movimento de antigamente. O conteúdo migrou pra outras mídias. Vlogs, podcast, Facebook, Google+, Medium.
    Ainda acompanho alguns blogs de RPG, mas costumo mais consumir material compartilhado em grupos no Facebook e até acompanhando os próprios autores no twitter, que foi a forma que cheguei a esse texto.

    • Tem uma série de problemas nessa migração. Vlog e podcast exigem um trabalho muito maior que um blog. Com o tempo e trabalho que se faz um vídeo, um blog pode publicar 20 posts entre notícias, matérias, etc. E Facebook, G+, Twitter, etc, tem um problema simples: falta de alcance de longo prazo. Um post de notícia ou resenha de livro em um blog é indexado pelos buscadores (Google, Yahoo, Bing, etc) e causa um impacto muito mais longo que um post de Facebook que só é visto uma única vez por usuários que entraram na rede social na hora específica onde esse post ficou em destaque. Aqui no RPGista, um post de 2010 é recorrentemente o mais acessado do dia porque ele é o primeiro resultado do Google numa série de termos pesquisados. A mesma coisa acontece com notícia de lançamento e resenha de livros publicados anos atrás. Isso não acontece e provavelmente jamais irá acontecer com mídias sociais, porque elas são rasas demais para serem relevantes para os buscadores.
      Em resumo, o problema é que vlogs, podcasts e mídias sociais não substituem corretamente os blogs como ferramentas de divulgação pois lhes falta escala, profundidade e relevância a longo prazo.

  2. BLODIA disse:

    Verdade… Há alguns anos, o rebuliço de blogs e portais eram enormes. O que fez com que muita gente reduzisse o alarde que foi o fim das revistas impressas.
    Aparentemente, essa vantagem é mais tão evidente.

  3. Ramon disse:

    Tô com o Kazz tb… acho q tem muito site falando e divulgando o RPG. Eu só não coloco mais posts em texto pq o podcast e a stream já tomam todo o meu tempo. Mas faço questão de falar de RPGs Indies nos programas. Não é texto, mas é uma forma de divulgação.

  4. Então.
    O motivo deu ter parado de postar não foi uma questão de views (Que sempre estão em ascensão pela natureza desta ser a internet) mas sim porque estamos passando por um momento meio estranho no mundo de RPGs de Super Herói (o foco da Playing Hero).
    Temos o Bash para sair (ou não. Bobei aqui, deveria ter ajudado esses caras mais, eles são ótimos.), Icons e Mutantes & Malfeitores (Que está ultra estagnado graças a nada mais sendo lançado e uma comunidade que fica satisfeita em fazer fichas de personagens famosos – Do tipo para que eles precisam de um blog? E ao mesmo tempo sinto que eles são o cerne dos jogadores do gênero. Eu não sei o que eles querem ler, o que buscam mais.)
    Eu decidi esperar um pouco o Icons sair por aqui, lançar um irmão me inglês do Blog, experimentar e interagir com o pessoal americano e internacional.
    Muitas vezes sinto que escrevo para um “vácuo”; Mesmo quando uma postagem tem muitas visitas, eu não sei se o que eu estou fazendo é beneficial. Um dos posts mais recentes é uma resenha cheia de energia sobre o Icons antigo, tentando conseguir algum hype para ele que está para chegar.
    Mas será que tal sistema tera tração? Será que posso ajudar os grupos a jogar eles?
    No fundo, o Playing Hero existe para tentar animar as pessoas para tal gênero e fazerem elas jogarem mais, e só escrever não é o suficiente.
    Creio que eu preciso fazer mais.
    Ainda não sei o que, por isso as postagens não vieram. Busco conselhos, ideias… A sua postagem me fez concordar que é uma pena isso, pois quanto mais se fala de rpgs mais distantes, menos conhecidos, se dá uma visibilidade para tal não importa o quão pequena. Talvez eu deva dar um pouco de armor ao blog sim. E tal texto me motivou.

  5. Eu entro nessa também.
    Antigamente eu escrevia direto nos Cavaleiros das Noites Insones, mas com a abertura da Empório Fantástico, o gás e ritmo migrou para a loja. Mesmo com o blog fechado, e com a facilidade de compartilhamento e interação do Facebook, hoje, é melhor manter a fanpage do que um blog. E eu ainda culpo a queda do Google Reader na divulgação de material, dado que eu acompanhava muito dos quase 400 blogs nele. É uma pena que a blogosfera inflou e agora está desinflando e muito.
    Mas para quem continua firme e forte, desejo boa sorte! O caminho é árduo.

  6. Chico Martellini disse:

    Olha, sinceramente, acho que não temos falta de blogs hoje, mas sim falta de uma profissionalização maior destes. A Maria do Carmo Zanini em um post extremamente mal compreendido usou o termo “amadores bem intencionados” e acho que 90% dos blogueiros de RPG se resume a isso.
    Cansei de ver resenhas mal-feitas que só puxam o saco das editoras para manter o coleguismo (mesmo que o trabalho seja uma droga ou o jogo seja ruim) e spam de press releases de novos jogos (pra que fazer um texto próprio se você pode copiar o press release da editora que 100 outros blogs também vão copiar). Isso em parte, foi o que me fez parar com meu blog e reavaliar meu próprio trabalho (por que no fim estava fazendo isso). Pretendo voltar a escrever este ano, focando em conteúdo e não mais em notícias.
    A divulgação do RPG Indie é um problema a parte. Os indies são esparsos demais o que torna difícil acompanhar cada um deles, mas acho que pelo menos metade da responsabilidade da divulgação é do autor, que tem de manter um bom material de referência em um local de fácil acesso (exatamente o que o Júlio Matos faz).
    Já pensei em tentar escrever em/criar blogs coletivos, mas em geral eles não mudam muito deste padrão. Normalmente estes espaços tem um “dono” que permite que você escreva desde que não discorde dele. Não existe uma pauta para guiar os conteúdos e manter os autores unidos como uma equipe de trabalho, interessado em levar o site para frente e quem sabe no futuro, remunerar seus autores. É como eu falei mais acima, precisamos de qualidade e não quantidade (e isto me fez lamentar o fim das revistas impressas).
    A divulgação em vlogs e redes sociais é um outro tipo de bicho, com níveis de divulgação, narcisismo (especialmente nas redes sociais) e participação diferentes. Por isso concordo que eles não substituem o blog escrito.

    • Magno disse:

      Seu comentário resume o meu pensamento.
      Sobre seu último parágrafo e o conceito de narcisismo, é o que mais vejo nas redes sociais. A discussão acaba indo para o lado do “conheço mais” ou “jogo há mais tempo”, sendo isso transformado num crédito para o fundamento da pessoa.
      Se faz necessário um pensamento crítico sobre o material, não uma opinião fundamentada em “hype” e coleguismo mútuo.

    • Assino embaixo.

  7. Chrystian Souza disse:

    Essa postagem veio bem a calhar pro ensejo atual que passo. Tem anos que jogo RPG, porém, nunca havia mestrado, e há alguns meses fui “convocado” a mestrar. Escolhemos o sistema Tormenta. Para tanto precisaria me alimentar de material rpgístico e para isso instalei um progama de feeds com assinatura apenas com sites e blogs com tema RPG. Que dificuldade para eu encontrar fontes de qualidade! Por isso, peço que postem links que costumam utilizar para consumir material de RPG.

  8. Renato N42 disse:

    Esse post foi o que eu precisava pra reunir a vontade de reativar meu blog, pode não durar afinal minha vontade e preguiça tendem a ter níveis opostos de intensidade a longo prazo e to longe de ser um escritor tão eficiente, mas o que você disse realmente faz sentido e me motivou. 🙂

  9. hackbarth disse:

    Permanência do material postado em blogs é uma coisa muito importante. quando o Orkut morreu, um monte de material postado lá nas comunidades de cada RPG se perdeu para sempre. Era por isso que eu postava no Gurps Nation e só colocava um link nas redes sociais.
    Claro, o Gurps Nation morreu também… (Problemas com a administração e o host acabaram com o domínio sendo tomado por um squatter)
    Mas o material ainda existe em backup e a partir dessa semana vou postar tudo o que escrevi para ele aqui, um artigo por semana!

    • Armageddon disse:

      Cara, que legal resgatar esse material todo. Fico no aguardo das matérias! =D
      Tem muita coisa que se perdeu com o fim de alguns blogs antigos também que seria bacana de resgatar de alguma forma.

  10. Acredito ser o inverso, conheço muitos que antes devotavam seu tempo em seus blogs e agora devotam seu tempo para criar seus próprios RPGs ou boardgames/cardgames. E usam o Facebook para divulgação. Mas confiar apenas no Facebook é um tiro no pé. Há várias empresas reclamando da queda de visualizações em suas pages no Face.
    Vejam:
    http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2014/05/estamos-usando-menos-facebook-e-twitter-e-mais-instagram-e-tumblr-diz-estudo.html

  11. Guthem disse:

    E eu querendo reavivar meu dojodoguthem.blogspot.com
    Com conteúdo que era para ter.
    INÉDITOS sobre 3D&T – meu sistema preferido -.
    Vamovê se em 2015 sai.

  12. Fernando disse:

    O que deve se fazer é encontrar um meio termo, como encontrei recentemente, inclusive o “RPGista” e o “taverna do elfo e os arcanios”. O facebook como divlgação enquanto que tem o blog e outras redes sociais. Atualmente o diferencial vai ter que ser achado nesse sistema as coisas mudaram e nem sempre mudanças levam em consideração um estruturação pré-definida, muitas vezes ela é levada pela corrente. Talvez um fórum que englobasse os blogs e sites nas redes sociais e uma grande força em conjunto dos autores, bloggers e jogadores fizesse a diferença! Pensem nisso e me chamem depois… kkkkk Abraço.

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