Brothers: A Tale of Two Sons é outro bom exemplo de jogo independente baseado em uma idéia central e um desenvolvimento simples, mas nem por isso simplista, desta geração. A princípio, a jornada dos dois irmãos atrás de uma cura para o pai doente bebe muito da fonte já clássica de Ico: você deve guiá-los por diversos cenários, usando suas habilidades para vencer os desafios impostos pelo ambiente – fazer uma ponte móvel descer, passar por caminhos sinuosos na beira de montanhas, etc. Há um esquema de controle bastante original, apesar de gerar alguma confusão no início, em que você controla cada um dos irmãos com um analógico, com um único botão de interação para cada, e através disso se aproveita da força maior do irmão mais velho, ou do tamanho do mais novo para passar entre barras de ferro, e outras situações semelhantes. Não há qualquer tipo de HUD, como barras de energia ou contagem de vidas; como são personagens comuns, sem super força ou poderes sobrenaturais, não há exatamente muita esperança de sobrevivência caso você caia em um precipício, então nestes casos você deve recomeçar do último checkpoint. Mesmo as eventuais batalhas com chefes seguem esse mesmo princípio: ao invés de esgotar uma barra de energia, você deve usar os dois irmãos de maneira inteligente para prendê-los em jaulas, atraí-los para buracos no chão, atordoá-los, etc.
O foco da jogabilidade, mais do que o desafio, é a imersão, para fazê-lo se sentir dentro do mundo fantástico dos personagens com seus gigantes apaixonados, gatos-coruja e mulheres-aranha. O próprio cenário e os desafios propostos são usados para isso – em um determinado momento, por exemplo, você está no que restou de um campo de batalha entre gigantes; além de detalhes macabros como os rios avermelhados pelo sangue, o seu caminho deve ser aberto movendo os cadáveres e cortando pedaços dos seus membros que bloqueiam a sua passagem. Não há blocos de pedra gigantes que abram portas mágicas nem nada semelhante; cada desafio é pensado para remeter de alguma forma ao cenário e à história maior, deixando-o intrigado e imaginativo sobre o que está acontecendo.
O próprio roteiro, aliás, é profundamente tocante e emotivo. Há diálogos, claro, mas mesmo eles não são exatamente elucidativos – parecem os diálogos de The Sims, apenas conjuntos de efeitos sonoros para representar falas e conversas. Ao invés disso, são os gestos e ações que expressam realmente a personalidade dos protagonistas e coadjuvantes. (E a preocupação dos desenvolvedores com realismo está no fato de que é claro que é o irmão mais novo o mais mala dos dois). É dessa forma que a sua jornada vai se desenvolvendo, e você é levado desafio a desafio até o desfecho final de partir o coração.
Se há um ponto negativo, é o fato de o jogo ser extremamente curto. Uma tarde basta para terminá-lo, e, dado o seu foco na imersão e em fazê-lo esquecer do resto do mundo, é bem provável que aconteça dessa forma mesmo. Talvez isso até ajude a torná-lo mais intenso (ou, por outro lado, pode ser que alguns não passem o tempo necessário com os personagens para que os acontecimentos finais sejam realmente impactantes), mas é difícil não chegar no final achando que você poderia jogá-lo por bem mais tempo, e explorar melhor o seu mundo de fantasia. E num lado mais técnico, achei o som de maneira geral meio baixo; precisei aumentar bastante o volume da minha televisão para poder ouvir a trilha sonora adequadamente.
De toda forma, Brothers: A Tale of Two Sons ainda é um jogo fantástico, e uma experiência bastante única e envolvente. Recomendo muito.