Resenha: Brigada Ligeira Estelar

Resenha: Brigada Ligeira Estelar 1

Robôs gigantes e estilo napoleônico. Sabres de luz chiques!

 É hora de proteger a galáxia!

Na altura do campeonato, todos já devem ter ouvido falar do novo cenário para 3D&T Alpha da Jambô editora. Trata-se de Brigada Ligeira Estelar, um cenário criado por Alexandre Lancaster, fã nato do gênero de robôs gigantes, onde finalmente encontramos o que muitos consideram especial no nosso querido sistema: robôs gigantes! Brigada Ligeira Estelar (chamá-lo-ei de BLE daqui pra frente) apresenta aos jogadores e mestres um grande universo onde a exploração humana avançou conquistando diversos planetas. Questões como honra, dever, senso militar, dentre outras coisas, são colocados em destaque, e a questão cultural de cada planeta coloca também em destaque a eterna diferenciação entre nobreza e o resto. Só de olhar para a imagem da capa é possível imaginar os bailes e festas nobres povoados de ricos em trajes antigos e espalhafatosos, fermentando o veneno nos cantos da boca enquanto fingem se divertir…

Como a própria apresentação do livro declara, em BLE você é um piloto de robô gigante, vivendo em um dos vários planetas da galáxia do Sabre, na confederação interplanetária conhecida como Aliança Imperial, lutando para defender seu povo das guerras intergalácticas e/ou de misteriosos invasores conhecidos apenas como Proscritos. Tais invasores são povos brutais que praticam saques em escala planetária usando seus poderosos robôs customizados, os quimeras, e sumindo após os ataques tão rapidamente quanto surgiram. Com a vinda dos Proscritos o império precisa de heróis — e é aí que os jogadores (normalmente) entram. De forma resumida e objetiva, seu trabalho é esmagar os robôs dos inimigos, sejam quem for.

Na hora de imaginar o seu personagem, BLE dá amplas opções e estimula a imaginação do jogador ao máximo: é possível seguir o conceito comum dos animes do gênero e ser um piloto adolescente que resolve entrar para o esquadrão de robôs por um motivo qualquer (que no fundo é importante) e se torna o melhor deles; é ainda possível ser um nobre que, só por ser um nobre, possui um robô gigante! Talvez um agente secreto, ou mercenário, ou caipira com um ramo de trigo na boca mas que é capaz de pilotar uma máquina gigante! Os possíveis estereótipos são vários e adicionando-se a opção de não seguir nenhum deles tem-se uma gama gigantesca de ideias para personagens.

É aí que se nota um diferencial no cenário apresentado pelo BLE: defender a galáxia, o seu planeta, a Aliança Imperial ou seja lá o que for vai, com certeza, rodar em torno de combates entre robôs gigantes. No entanto, a estrela principal de cada um destes eventos, o ser pensante que move a máquina gigantesca, é o piloto. Pode-se dizer que tudo gira em torno do personagem; grandes ações, grandes batalhas, milhares de quilos de metal nas mãos de um simples humano. BLE estimula a densidade psicológica de cada personagem, de forma que eles possuam seus próprios problemas e traumas, e que suas histórias influenciem no curso de suas ações. Uma sugestão do livro é que quanto mais kits o personagem possuir, melhor — maior riqueza para o personagem, e mais coisas para explicar.

Resenha: Brigada Ligeira Estelar 2

 No Capítulo 1: Aqueles que Estão Lutando, temos a apresentação do cenário. Aqui é explicado boa parte de como tudo acontece — como os planetas se organizam, o que é a Brigada Ligeira Estelar (um esquadrão especial de robôs), quem são as pessoas que povoam os mundos, com suas diferentes etnias (como os cossacos e os mentalistas) e um pouco sobre a ameaça dos proscritos. Aqui também é comentado sobre a volta da importância dos duelos para provar quem é o mais honrado, e muito mais. O capítulo 1 mostra uma visão geral e serve de introdução à galáxia do Sabre.

No Capítulo 2: Os Mundos do Império temos uma descrição mais detalhada de partes importantes da história do cenário, e uma explanação sobre os mundos da galáxia do Sabre, além de explicar o sistema político utilizado pela Aliança Imperial. É interessante notar que, sendo um cenário de ficção científica e se passando em uma época muito mais avançada que a nossa, BLE lida com questões políticas de maneira saudosa e que lembra os tempos napoleônicos, o que dá ao cenário um gostinho especial. É também neste capítulo que temos as primeiras regras novas: talentos regionais. Quem gostava destas regras no antigo Tormenta 3D&T Turbo vai adorar os novos talentos de BLE; eles estão nos moldes do Alpha, e possuem a mesma fórmula que será usada no iminente Tormenta Alpha. Basicamente consistem em uma vantagem gratuita intimamente ligada ao planeta em questão, e que pode ser evoluída para algo mais poderoso com o gasto de 1 ponto. “Poderoso” nem sempre, neste caso, significa algo relacionado a combate; apenas algo melhor do que a versão gratuita. São ao todo dezenove planetas, o que dá uma gama enorme de talentos regionais para caracterizar cada personagem!

No Capítulo 3: Os Habitantes do Império o foco do livro muda dos mundos para seus habitantes. Aqui são apresentadas as novas vantagens únicas do cenário: animal de companhia, humano cossaco, humano evo e humano mentalista. Cada um possui suas próprias características especiais: o primeiro é um animal geneticamente modificado para ser inteligente e falar, geralmente encomendado por um nobre para ser de companhia; já os cossacos são humanos guerreiros (sempre me lembram russos pelos trajes) que habitam as planícies e empunham seus sabres em busca de defender seus ideais. São extremamente orgulhosos, e todos possuem seu próprio robô gigante (que já vai incluso na própria vantagem única). Os evo são humanos geneticamente modificados para serem mão de obra para qualquer coisa. São extremamente resistentes a tudo, e completamente imunes a venenos, álcool, drogas e qualquer coisa do tipo; no entanto, como povo livre, sofrem preconceito daqueles que pensam que eles são escravos. Por último, os mentalistas são, como o nome indica, os grandes psiônicos do cenário, humanos evoluídos com poderes mentais surpreendentes. Nota: grande parte das vantagens únicas do cenário não são realmente raças diferenciadas, apenas humanos muito diferentes entre si para serem emulados com a vantagem Humano (que não dá nada, inclusive). Serve também de sugestão para outros RPGs em que se deseja diferenciar os humanos de acordo com sua diferenciação cultural, dentre outras coisas.

É ainda neste capítulo que vários novos kits são apresentados. São ao todo 23 kits novos, cuja maioria pode ser utilizada até mesmo fora do cenário. Alguns têm forte significado cultural; outros são versões diferenciadas de kits já existentes, adaptados para o cenário, e outros são voltados à questão militarista.

Resenha: Brigada Ligeira Estelar 3E então chegamos ao Capítulo 4: Novas Regras. Aqui serão destrinchadas todas as novas regras necessárias e adicionais para se pilotar os robôs de BLE, além de outras coisas, como os Pontos de Destino, apresentados pela primeira vez em Mega City e aparecendo em BLE para servir de recurso adicional aos personagens. Aqui também são apresentadas as variadas formas de se iniciar uma campanha na galáxia do Sabre, de acordo com a intenção do mestre em se aprofundar no cenário.

A respeito dos robôs, são inclusas novas regras como blindagem — mais PVs em troca de menos PMs ou vice-versa, e também a diminuição dos multiplicadores em troca de um robô mais ágil —, combate a sabre frio (porque normalmente os combates são com sabre de energia), e dano localizado (não podia faltar afinal). Tudo, é claro, bem simples, como 3D&T deve ser. Aqui temos ainda novas vantagens, desde as combativas (Ataque Especial com Dano Gigante! Eu quero!) até as sociais e culturais (como Nobreza). Também há novas desvantagens, algumas especializadas para robôs (como Consumo Extremo) e outras para os personagens. Vale à pena lembrar que não existe magia no cenário — mas os personagens e robôs podem ter acesso ao que BLE chama de Implantes, algo muito parecido com a antiga ideia de Superpoder. Temos ainda novas Técnicas de Luta voltadas para o uso do sabre, uma vez que a esgrima é a arte de luta mais utilizada na Aliança Imperial (inclusive com os robôs!).

No Capítulo 5: Robôs Gigantes temos os astros do cenário. Aqui são explanadas algumas regras usadas nas fichas e nos combates de robôs, como o uso de escalas (sendo mais um fator diferencial entre eles do que algo realmente usado constantemente) e exemplos de fichas de robôs comuns do cenário. Destaque para o astral da Brigada Ligeira Estelar, o hussardo. Um robô com roupa de gala, manto e sabre de luz:

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Mas há ainda muitos outros robôs para serem usados e também customizados! Robôs de escalas superiores e de escalas inferiores (mas capazes de ferir quaisquer outros). Até agora, as únicas coisas que não foram mencionadas em termos de vantagens únicas, robôs, talentos etc foram os Proscristos, porque isso é trabalho do…

Capítulo 6: Proscritos. Aqui temos um pouco mais de informação a respeito destes invasores temidos na confederação inteira, embora não seja muita coisa: a verdade é que não se sabe muito sobre os Proscritos. Talvez só o mestre devesse ler este capítulo! Aqui há a vantagem única correspondente, alguns kits usados pelos inimigos e também descrições sobre robôs e seus modos de combate.

O livro encerra com uma aventura pronta no Capítulo 7: A Serviço da Princesa-Regente. Sem me alongar para não estragar a surpresa, a aventura introdutória é ótima para acostumar os novos jogadores ao clima do cenário, além de apresentar NPCs importantes para os mundos da campanha e que podem servir de exemplo de como devem ser os personagem em BLE. Qualquer que seja o fim da aventura, esta termina declarando que há muitas pontas soltas a resolver e um universo inteiro a se explorar, e o capítulo encerra com uma cronologia completa do cenário, iniciando no século 20 e passando por uns 4.000 anos. É coisa pra caramba!

 Conclusões

Brigada Ligeira Estelar é um cenário excelente para se aventurar por diversos motivos, entre eles a possibilidade de se tornar queridinho entre os amantes de robôs gigantes e os amantes de 3D&T (e os dois também). Todos sabemos que há muito era necessário um novo cenário para o sistema; para nosso prazer, este ano tivemos dois! Mega City, que tratava de outros assuntos que não podiam faltar no sistema e, finalmente, Brigada Ligeira Estelar, que finalmente cuida da parte robótica do sistema, algo até então pouco explorado mesmo considerando as versões anteriores (Turbo etc).

Como revisor, sou um pouco suspeito para falar sobre o BLE; entretanto, por todas as qualidades que a constelação do Sabre e seus mundos, desafios e aventuras tem a oferecer, Brigada Ligeira Estelar torna-se automaticamente uma aquisição imprescindível a todo jogador e mestre 3D&Tista. Até mesmo os que não gostam de robôs gigantes têm seu lugar no cenário, como nobres destitulados, que perdem seus poderes sociais e também seus robôs, ou como agentes secretos e mercenários que agem nas sombras sem necessariamente mexer com hussardos e outros robôs diretamente. O clima vitoriano que certas imagens tentam mostrar é um chamativo para qualquer um que seja capaz de sentir essa nostalgia inexplicável. Aliás, todos os desenhos são incríveis; a arte do livro é excelente. Os textos do Lancaster também o são, sempre densos e compatíveis com as diversas situações do livro.

Não vou dar nota ao BLE; espero que vocês façam isso nos comentários, daqui a alguns dias, quando tiverem devorado os textos do livro e montado mentalmente seus próprios robôs gigantes, usando as novas regras. Mais do que um cenário com novas ideias, o livro é uma ideia com novos cenários, de certa forma. Garanta o seu antes que os Proscritos acabem com tudo!

Defenda sua honra, Oficial!

Resenha: Brigada Ligeira Estelar 5

A capa e a contra-capa são demais.

Brigada Ligeira Estelar, de Alexander Lancaster.
80 páginas; R$ 25,00 (R$ 23,90 com frete grátis na Loja Jambô).

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5 Resultados

  1. Kurosu disse:

    Uma coisa que eu acho que vou gostar muito, é o prometido enfoque na criação do personagem e tudo mais… Tive um medo de que o livro focasse mais nos Mechas (ou seja, no equipamento…) do que nos PJs, e ainda bem que eu tava errado!! o/ Tô ansioso pra adquirir meu exemplar ^^

  2. Deiler disse:

    Uhuu! Ótimo suplemento para 3D&T, realmente traz uma proposta nova sobre mechas, dando um foco maior aos personagens.. traz também varias regras novas para 3D&T como Talentos Regionais muito massa.. Muito massa o suplemento e seria mais que justo dar nota 10 a ele kk

  3. Terminei de ler o meu no mês passado e nem comentei… =P
    Gostei da ideia do cenário, me lembrou alguns animes de Mecha conforme ia lendo (Code Geass e Macross em especial), e dá muitos ganchos para começar uma campanha. Senti falta de alguns detalhes como o passado de personagens chave (como a família Falconeri, por exemplo), mas acho que em futuros suplementos (terão?) isso será resolvido.
    O que achei mais legal no suplemento é que dá pra juntar o material deste com as regras de Equipamento do Mega City, e criar umas maquininhas interessantes =D
    Parabéns pelo trabalho.

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