À primeira vista, é impossível distinguir uma kugutsu de uma pessoa comum. Todos os detalhes anatômicos externos estão lá, e ela até mesmo sangrará se sofrer um corte ou terá arranhões e marcas de contusão caso sofra outro tipo de dano. Algumas kugutsu, embora esta não seja uma característica comum, podem até mesmo envelhecer como uma pessoa normal. No entanto, basta olhar com calma para perceber alguma coisa errada: ela é perfeita demais; seus traços são delicados além do que parece natural, e a sua beleza está muito além de qualquer padrão humano (ou semi-humano).
Isso acontece porque toda kugutsu é, antes de mais nada, uma obra de arte. Seus criadores não são simples artesãos e comerciantes atrás de lucros exorbitantes, por mais que elas realmente atinjam preços absurdos uma vez que estejam prontas; mas sim artistas idealistas, que buscam através delas explorar os limites da beleza humana. O próprio processo de fazê-las é demorado, podendo chegar às vezes a dez ou até vinte anos para uma única marionete. Todo cuidado é investido desde a seleção da árvore que se transformará no seu esqueleto até a sua preparação para a vida entre os homens, em um longo treinamento em que ela aprende a pensar, agir e falar como uma pessoa comum.
O resultado final é uma marionete que em nada difere das outras pessoas, exceto pela sua beleza quase sobrenatural e as maneiras cuidadosamente refinadas. Kugutsu costumam ser cobiçadas por reis, nobres e comerciantes ricos, para servir como damas de companhia ou cumprir outras funções. Algumas delas, conhecidas como Noivas da Guerra, chegam até mesmo a causar conflitos armados de grande porte pela sua posse. Outras recebem também algum treinamento marcial, sendo conhecidas como Princesas de Lâminas, podendo agir como guarda-costas dos seus donos, mas é raro que sejam usadas para fins de combate – afinal, poucos são os que se arriscariam a perder um investimento milionário desta forma.
Toda kugutsu aprende a agir como humana, mas no fundo é incapaz de mudar o fato de que é realmente uma espécie de construto. Ela pode estranhar atitudes que pareceriam banais, e até soar um pouco alienada e desentendida frente à paixão que causa nas outras pessoas. Não é incomum, no entanto, que, após conviver tão intimamente com os homens, ela desenvolva um desejo de se tornar igual a eles de verdade. Muitas histórias existem sobre kugutsu que fugiram de seus mestres atrás desse sonho, e pelo menos uma lenda sobre uma que teria conseguido realizá-lo.
Uma habilidade especial das kugutsu que merece ser mencionada é o chamado Sonho das Borboletas. Através de um misto de hipnose, encantamento e um resquício de magia da árvore sagrada da qual foi esculpida, a marionete é capaz de entrar no sonho de outras pessoas. Ela pode então guiá-lo por entre os mundos oníricos, tentando extrair informações secretas ou ajudar a resolver algum problema durante o sono. Pessoas sofrendo de pesadelos ou insônia algumas vezes podem recorrer a kugutsu para serem curadas.
A grande maioria das kugutsu, como deve parecer óbvio, pertence ao sexo feminino. No entanto, isso representa muito mais o fato de que seus criadores são do sexo masculino do que de realmente uma impossibilidade de fazê-las de outra forma. Existem também kugutsu masculinas, criadas por criadores mulheres ou que por algum motivo queiram explorar os limites da beleza masculina; e até mesmo hermafroditas, com órgãos tanto masculinos como femininos no seu corpo.
Kugutsu (2 pontos)
- Construto. Toda kugutsu é considerada como um construto, seguindo todas as suas regras e restrições.
- Aparência Inofensiva. Pela sua beleza e aparência sobrenaturais, é difícil tomar a iniciativa de atacar uma kugutsu.
- Aptidão para as Artes. Uma kugutsu pode comprar a perícia Artes por apenas 1 ponto.
- Mentor. Toda kugutsu, antes de ser vendida ou enviada ao mundo, passou por um rígido treinamento com o seu criador, com quem aprendeu a sentir e pensar como um ser humano. Este treinamento ainda é vivo na memória da marionete, que sempre pode lembrar de conselhos ou ensinamentos que a ajudem em uma situação difícil.
- Sonho das Borboletas. A kugutsu pode usar o feitiço Mundo dos Sonhos (Manual 3D&T Alpha, pg. 1d+104) como uma habilidade natural, pagando o seu custo normal em PMs.
- Sem alma. Uma kugutsu não é um ser vivo realmente, e, caso seja morta de alguma forma, reverterá ao seu estado de marionete. Ressucitá-la é impossível, exceto, talvez, com a ajuda do seu criador original.
Kugutsu em Tormenta
Em Arton, criar kugutsu é uma arte tamuraniana por excelência. Na ilha, era comum que seus criadores fossem pessoas reclusas, vivendo em meio às florestas de onde retiravam as árvores para fazer suas criações. O maior de todos chamava-se Shou-un, e era conhecido pelas suas várias “linhas” de marionetes com nomes poéticos, como As Oito Ministras de Cerimônias ou a Chuva que Cai na Capital. Suas kugutsu superavam em beleza e etiqueta as de qualquer outro criador, muitas das quais se tornaram Noivas da Guerra.
A chegada da Tormenta, é claro, trouxe problemas para os criadores de kugutsu. A árvore original de onde elas eram feitas só existia na ilha, e não há uma substituta equivalente. Tentativas foram feitas com um tipo de árvore mágica da floresta de Greenaria, importada por vezes diretamente da Pondsmânia, mas as suas características são muito diferentes da original, e as kugutsu resultantes não ficam tão encantadoras e únicas. Além disso, por algum motivo desconhecido, elas sempre adquirem feições ocidentais depois de prontas.
A maioria dos criadores de kugutsu hoje vive em Nitamu-ra, em Valkaria, tanto aqueles que foram transportados junto com o bairro como outros que já viviam na região antes da invasão. O seu principal nome é Tachibana Yorimasa, que diz ser discípulo do velho Shou-un. Com a expulsão dos lefeu, alguns deles têm retornado à ilha, mas ainda há dificuldades em encontrar exemplares vivos da antiga árvore sagrada para retomar o velho ritmo de produção.
Existem também muitas kugutsu que foram transportadas para Nitamu-ra junto com os demais habitantes do bairro, e outras ainda que pertenciam aos próprios comerciantes e nobres do local. E há ainda boatos de que algumas kugutsu desconhecidas foram encontradas em Tamu-ra depois da retomada da ilha, todas com a marca de criação de Shou-un; no entanto, apresentavam formas disformes e grotescas, como se o velho criador tivesse enlouquecido antes de produzi-las…
Kugutsu em Mega City
Kugutsu são raras em Mega City, pois são uma arte oriunda de tradições místicas japonesas, além de requererem um tipo de árvore sagrada nativa do arquipélago para serem feitas. Mas elas existem, produzidas com troncos importados, e há pelo menos um criador renomado residente na cidade: Tachibana Yorimasa, morador do bairro de Ni-Akibahara. Suas criações são vendidas e requisitadas por grandes figurões da indústria, políticos influentes e outras figuras importantes – dizem mesmo que pelo menos uma música de um dos maiores artistas da Cidade das Cidades teve como musa inspiradora uma marionete. Há boatos também de que outro tipo de marionete mágica é produzido por alguns mágicos de Nova Memphis, usando como base uma árvore nativa local, mas muito pouco se sabe a respeito.
Kugutsu em Brigada Ligeira Estelar
É possível aproveitar a ideia das kugutsu na Constelação do Sabre, embora sejam necessárias algumas alterações para eliminar os seus aspectos de fantasia e trocá-los por ficção científica. Basicamente, a kugutsu passa a ser uma espécie de androide de companhia, como as persocons do mangá Chobits. As suas características fundamentais permanecem as mesmas: mais do que meros robôs humanoides, elas são verdadeiras obras de arte, ensinadas e trabalhadas com todo esmero pelos seus criadores. Mesmo o Sonho das Borboletas se mantém: ele passa a ser uma espécie de Implemento que funciona através de hipnose.
Kugutsu são comuns como damas de companhia para jovens nobres, ou algumas vezes até mesmo cumprindo o papel de uma esposa para os mais velhos, embora isso não seja muito bem visto pela sociedade. O planeta onde a sua produção é mais difundida é Viskey, conhecido por criar kugutsu de aparência oriental especialmente sofisticadas e refinadas.