A constelação do RPG nacional

Hoje me apareceu um e-mail da Área RPG que me fez rir tão alto e tão insistentemente que meus companheiros de república vieram ver se o novo companheiro deles tinha surtado. Eu estava rindo como um condenado porque alguém, hoje, dia seis de agosto de 2011, falou em crise do RPG nacional. Obviamente, o infeliz que falou essa besteira sem tamanho deve morar em outro sistema estelar, ou é apenas muito estúpido para entender a realidade.
Eu gostaria então de fazer um pequeno exercício com vocês: vou listar aqui todos os jogos nacionais lançados nos últimos dois anos ou que estão previstos para sair no próximo ano. Se esquecer de algum, não se acanhem em me lembrar. Vejam que estou listando apenas os jogos completos, estou deixando de lado cenários nacionais feitos para algum sistema estrangeiro (mas só para desencargo de consciência, devo citar eles rapidamente lá no final do artigo, ok?).
Então vamos lá, para começar temos 3D&T Alpha que está na borda do nosso limite temporal e ao mesmo tempo é tratado como futuro lançamento pela chegada iminente de uma nova tiragem com erratas e revisões inclusas e uma nova capa. Sim, porque este veterano esgotou a sua tiragem de alguns milhares de exemplares dentro de aproximadamente um ano e meio, com um detalhe que deixa isso mais interessante, a editora liberou o PDF do jogo gratuitamente em seu site no dia do lançamento do livro. Significado? Pirataria não afeta as vendas de livros físicos.
Abismo Infinito, um jogo de horror espacial de John Bogéa, será lançado pela Retropunk Game Design, ele foi o primeiro colocado no Concurso Faça Você Mesmo de Criação de Jogos da Secular Games deste ano. Falando na editora indie mineira, ela é a responsável por Busca Final, outro caso de sucesso mesmo com o PDF do livro liberado gratuitamente, o jogo está indo para a sua segunda tiragem em breve.
Temos também Asgard RPG, lançado exclusivamente em PDF na RedStore, o que faz dele o primeiro jogo nacional do tipo. Já Mighty Blade está na luta com vários livros para o sistema já lançados, o mesmo podendo ser dito para Terras de Shiang. E falando em sistema nacional na luta, o Old Dragon está entrando com tudo no hall dos grandes do RPG nacional, com uma tiragem de respeito do módulo básico e uma linha de produtos relacionados como miniaturas e mapas de combate.
E para o futuro próximo temos três lançamentos da Secular Games: Onírica, que empatou em primeiro lugar no Concurso Faça Você Mesmo de Criação de Jogos da editora com o Abismo Infinito; Tribo de Meru, cuja prévia já podia ser encontrada no primeiro Mamute em 2010 (o fanzine da editora, tradicionalmente vendido na RPGCon); E para terminar, Violentina, primeiro jogo nacional a usar o sistema de crowdfunding, e o RPG mais bem sucedido nesta empreitada que já vi até agora, já que mesmo Do: Pilgrins of the Flying Temple conseguiu atingir sua meta em doze horas, enquanto Violentina o fez em impressionantes três horas e ainda faltando três semanas e meia já ultrapassou os quatro mil reais de financiamento!
Agora em setembro a Retropunk vai lançar Terra Devastada, o jogo de zumbis de John Bogéa. E para terminar a lista, o peso pesado Tormenta RPG, com sua linha de suplementos (e autores!) que só faz crescer.
Agora meus queridos, cês contaram direitinho? Viram quantos jogos nacionais tem em atividade? Doze. Não um, não dois, mas uma maldita dúzia deles. E eu nem coloquei os cenários nacionais que usam jogos estrangeiros como referência em regras, como o Vikings, da Conclave, e o Ohmar, da SpellRPG (a que expulsou os trolls e finalmente fez alguma coisa depois de quinze anos de existência), ambos para D&D 4e.
Aí acho que vocês me entendem agora quando quase surto de tanto rir quando algum doente vem falar de crise no RPG nacional, não é? Existe uma verdadeira constelação de jogos nacionais em plena atividade, inovando a cada segundo e obtendo sucesso, e só colocando a cabeça num buraco e se mantendo lá durante anos você não poderia ver a efervescência em que o mercado nacional se encontra.

João Paulo Francisconi

Amante de literatura e boa comida, autor de Cosa Nostra, coautor do Bestiário de Arton e Só Aventuras Volume 3, autor desde 2008 aqui no RPGista. Algumas pessoas me conhecem como Nume.

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12 Resultados

  1. Tek disse:

    Muita oferta nem sempre é sinal de crescimento, lembre-se disso.
    Mas a crise que existe é de competência mesmo. Só aqui no blog temos exemplos claros de novos autores/colaboradores de material nacional: sejam livros como você e o Armageddon, sejam contos como o Armageddon e o Shido. Sem contar os trabalhos visuais (ilustrações, mapas etc) do Leonel Domingos, a produção de material de fã como o Deserto da Perdição do Oriebir e o Hinomura, o Tormenta 4e do CF e vários outros.
    Isso pra mim não é crise.

  2. Armageddon disse:

    Frase célebre: enquanto uns choram, outros vendem lenços. Sempre haverá crise, em todos os setores, não apenas no de jogos. O diferencial é que faz com que alguns sejam bem sucedidos enquanto outros não conseguem ver a luz do dia com seus projetos que trazem apenas mais do mesmo.

  3. Rodrigo "Leninn" disse:

    Nem deveria se estressar Nume! Esses falsos profetas do apocalipse já são piada entre todos os poucos que não estão entre seus seguidores bajuladores. O que eles queriam infelizmente eles conseguiram: atenção. Estamos tantos comentando disso que agora eles estarão felizes porque alguém voltou a prestar atenção neles, mesmo para criticar.
    Ignoremos, é muito melhor.

  4. Puppet disse:

    Acho que as únicas menções que realmente merecem créditos são a Retropunk e a venda dos Pdfs.
    No demais os lançamentos só provam como o RPG está engessado. Não vejo problema em termos as mesmas opções do início da década de 90, o problema é que temos menos opções.
    Temos títulos variados com a mesma temática. Vários refrigerantes de cola, uns bons outros piores mas, poucos (nenhum) de limão.
    Isso é uma crise, não de mercado, mas de opção, de criatividade, de público alvo e embora para as editoras signifique pouco, para o RPG como “um jogo onde você pode fazer o que quiser” siginifica bastante.

    • Rodrigo "Leninn" disse:

      Sério isso? Voce ouviu falar em Busca Final? Sabe a diferença entre as mecânicas de Old Dragon e o tradicional D&D? Participa do playtest de Violentina? Tem noção de quantos países possuem cenários variantes de D&D que tem populariade em nível local de cenários da Wizards? Tem acompanhado o como os rpgs indies tem alcançado seus objetivos e sido elogiados?
      Por isso é complicado discutir isso. É o tal do argumento cego. Eu acompanho RPG no Brasil a 15 anos, e nunca vi uma época com tantas opções e nem com tanta gente conversando sobre, e nem com tanta coisa diferente e criativa. E isso é meio a olhos vistos. É mesmo a história do cara que tapa os olhos e diz que não ve nada.

    • Alex_Angelo (Orukam) disse:

      Sério? Por favor, explica ai, pois concordo com cada virgula da resposta do Leninn e nõ consigo entender sua opnião.

    • Nume Finório disse:

      Me explica como, exatamente, o Violentina com seu estilo de filmes ultraviolentos e a campanha de financiamento coletivo super bem sucedida deles é engessada e coisa dos anos 90, por favor.
      Me explica como o Busca Final e seu mundo de fantasia sem fantasia e sistema de narração compartilhada é engessado e coisa dos anos 90, por favor.
      Me explica como o Old Dragon, apesar do clima retro, consegue ser mais inovador em estratégias de mercado e produtos que nenhuma outra editora nacional tinha tentado até então é engessado e coisa dos anos 90, por favor?
      E eu nem vou falar muito sobre o que eu sei que está vindo por aí para o mercado, mas vamos dizer que ainda mais opções vão surgir nos próximos meses. E isso não, nem de longe, um mercado engessado de opções, é um mercado transbordando de opções, só não vê quem não quer.

  5. Jonathan disse:

    “O pior cego é aquele que não quer ver”… Fraze manjada mas cabe como uma luva nessa situação. Eu não estou dando conta de guardar dinheiro para a quantidade de Suplementos de TRPG que eu pretendo comprar (vai sair uns CINCO logo logo), alêm das miniaturas. E até to querendo comprar o Herói e Mangá pelos conteudo (não jogo o sistema)…
    Além disso, tem o Pathfinder RPG, lançando seus livros em PDF e se quizer, em Livro Físico.
    Não sou especialista, nem ando a par de todos os lançamentos, mas tem muitos lançamentos… E se não tivessem sendo comprados, as editoras não estavam lançando mais e mais livros como anda acontecendo.

  6. Lan de Borba disse:

    Baita post, só um detalhes Asgard RPG é também comercializado em via física na loja da Asgard Legends, além de que o Coisinha Verde lançou (mias uma vez gratuitamente) mais um jogo que participou do concurso da Secular: o D.O.G.S.

  7. asura disse:

    Bom, agora vamos ver se ainda vai ter gente argumentando que Tormenta só faz sucesso por falta de concorrência.

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