Mago D’zilla – Guerra à Tormenta 02 – Guerreiro

A enorme pedra devia pesar umas duas toneladas, no mínimo. Mais admirável do que isso, no entanto, era o fato de esta pedra estar sendo erguida no ar por uma única criatura humanóide. Lamentavelmente, assim que fosse dito que aquilo acontecera nas florestas de Petrynia, ninguém acreditaria numa só palavra.

Mago D’zilla – Guerra à Tormenta 02 – Guerreiro 1
— EVADI-VOS! – gritou a criatura, seu único olho cintilando ao sol do fim de tarde. Impulsionando a pedra sobre sua cabeça, a fez rolar na direção dos invasores do que considerava seu território.
— Nósvamosmorrernósvamosmorrernósvamosmorrer… – gemia Mirell, o garoto que guiara o guerreiro de armadura até ali, uma parte da floresta onde ninguém mais da aldeia ousava ir. As chances de ele estar certo eram muito altas, já que estavam numa ravina muito íngreme e não havia como escapar da pedra rolante. Mas ao invés de tentar correr o guerreiro firmou-se no meio da passagem e ergueu adiante de si seu alongado escudo triangular, pouco maior do que seu antebraço. Por um louco segundo Mirell pensou que ele havia escolhido a posição em que queria ser achatado para a eternidade.
Então a pedra o atingiu… e deteve seu avanço! Não apenas isso, mas saltou para fora da ravina, indo cair num estreito regato mais atrás, sem ameaçar mais ninguém. O guerreiro apenas olhou sorridente para o garoto, apesar de ser um sorriso carregado de tristeza, e voltou a caminhar na direção do covil de seu atacante.
— Talvez seja melhor você ficar por aqui, Mirell! – disse ele suavemente. – Ou talvez ainda mais longe. Ciclopes das cavernas nunca recebem visitantes muito bem, sabe…
— Ci-ci… o q-quê?
— Ciclopes das cavernas. Não percebeu o cristal que ele usa como olho? Eles acham que todos querem roubá-los deles, e… pensando melhor, volte para casa agora. Eu cuido do nosso amigo aqui.
De fato a criatura saiu novamente de seu covil, portando um enorme osso como se fosse uma clava, e rosnando como louco. Tendo parado por mais de um segundo para olhar o monstro, Mirell finalmente percebeu o brilho cristalino de seu único “olho”.
— ESMAGÁ-LOS-EI TAL QUAL INSETOS!
— Ele… ele fala esquisito… para um monstro, quero dizer!
— É no que dá aprender o Valkar com o Mago D´Zilla. Mas deixe ele comigo, vá para casa agora. – e, para o enorme ciclope, gritou. – EI, GRUMP, SOU EU, O EZRAM! Pare de jogar pedregulhos em mim, você sabe que não adianta nada!
O monstro não aparentou nenhum reconhecimento, mas também não tomou qualquer outra atitude hostil além de apoiar sua clava de osso no ombro enquanto Ezram se aproximava. Mirell, por sua vez, ficou totalmente perplexo! Conduzira o guerreiro ali crente que veria uma titânica batalha de vida ou morte entre um herói e um monstro, e agora os dois se aproximavam como velhos amigos!
— O que almeja com tal incursão, Ezram? – perguntou o ciclope, sua expressão difícil de julgar sem a ajuda das proverbiais “janelas da alma”. Tinha forma humanóide, mas suas proporções eram grotescas, músculos pareciam se digladiar por espaço em todo seu corpo. Os braços enormes quase alcançariam o chão mesmo se ele não adotasse a postura meio curvada em que costumava ficar. Vestia uma surrada toga de pele animal, com um tipo de cinturão de palha trançada. Sua boca era imensa, e os caninos inferiores projetavam-se uns três centímetros para fora dos grossos lábios até quando eles se fechavam.
— Lamento incomodá-lo, velho amigo, mas o velho grupo precisa se reunir novamente. Vim pedir-lhe para que se junte a nós, há uma seita profana que está rapidamente…
— Bah! Fracassará em convencer-me, Ezram! Não tenciono abandonar meu novo lar em prol de aventuras aleatórias e imprudentes…
— Eles louvam uma entidade que prega a profanação de tudo o que se considerar “sagrado”, Grump! Sabe o que eles farão se chegarem às cavernas de seu povo? Provavelmente entrarão nas câmaras mais profundas e arrancarão os cristais-irmãos do leito rochoso apenas para destruí-los das formas mais depravadas que puderem imaginar!
— Meus congêneres não são débeis! Os ciclopes das cavernas são plenamente aptos a defenderem seu território e seu modo de vida!
— Agora, Grump. Mas e no futuro? O culto de Q´tohr-Loo está crescendo rápido e quase despercebido, eles aliciam jovens de todos os povos e níveis, infiltram-se e contaminam a moralidade e os costumes onde quer que vão! No caso de seu povo não serão invasores a fazer aquilo, mas os próprios filhos e filhas dos clãs ciclópicos!
Grump pareceu que iria responder, mas inclinou a cabeça levemente para o lado e fitou o ex-colega com aquele inexpressivo cristal. Levou ainda mais uns segundos assim antes de voltar a falar.
— O que sucedeu exatamente, Ezram? – perguntou o ciclope, com uma suavidade surpreendente. – Diz-lhe respeito pessoalmente, não?
— Esses cultistas… capturaram Lybrielll. – respondeu o guerreiro, com os dentes rangendo. – Aprisionaram minha senhora, a deusa da Liberdade! Eu queria lutar por ela, morrer por ela se fosse preciso, mas ela pediu-me que fosse buscar ajuda. E eu estou pedindo novamente, Grump… ajude-me, por favor.
Erguendo-se e caminhando um pouco para o lado, Grump achou e apanhou outra pedra enorme, pelo menos tão grande e pesada como a anterior. Ergueu-a por cima da cabeça, caminhou com ela com os pés afundando vários centímetros no solo da floresta, e colocou-a na entrada de seu covil, fechando quase completamente a passagem.
— Pode haver meliantes nos arredores! – disse ele, calmamente. – Indique o destino de nossa jornada, paladino da Liberdade!
— Eu ainda preciso chamar os outros, Grump. Rorm Rodrik já está em Grindell, é lá que nos reuniremos. Por favor, aguarde meu retorno lá, e… obrigado.
Estendendo seu braço esquerdo adiante de si, o braço que carregava o escudo com o emblema de sua deusa (uma estrela alada), o paladino subitamente gritou – ABRE AS ASAS, LIBERDADE! – ao que o escudo abriu-se em dois, como se asas metálicas tivessem surgido em seu antebraço, e em seguida lançou-se pelos ares, livre como um pássaro.
— Olá, infante! – chamou o ciclope, percebendo a presença de Mirell ainda por ali. O garoto pulou como um grilo e ficou ali tremendo sem ousar sequer olhar na direção da criatura.
— Nada tema, pequenino. Apenas tenciono inquirir-lhe a localização desse logradouro chamado Grindell.
— F-fica… no re-reino d-d-de… Zakharov! – disse Mirell, e finalmente conseguiu convencer suas pernas a levarem-no dali rapidamente de volta para sua vila.
Cego que era, o ciclope só pôde acompanhar a sombra do garoto desaparecer por entre as árvores da floresta, através do sentido de radar proporcionado por seu cristal-irmão. Tendo agora um rumo a seguir, Grump voltou a pousar sua clava sobre o ombro e iniciou sua caminhada a passos largos e seguros mesmo na escuridão que ali se assomava com o cair da noite. O caminho mais reto para Zhakarov era através das Montanhas Uivantes, apesar do imenso obstáculo que a gélida cordilheira representava.

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