Heróis de Arton: Guerreiro Tribal

Arton é um mundo repleto de problemas: a tempestade aberrante da Tormenta, a horda invencível do general bugbear, os legionários do Império de Tauron, os dragões-reis, os Trolls Nobres… Não faltam desafios neste mundo. E não faltam heróis para enfrentá-los.
Arton é um mundo vasto e capaz de abrigar heróis de qualquer variedade: o guerreiro tribal da Grande Savana ou o garboso cavaleiro da Luz de Norm, o mago matemático do Deserto da Perdição ou o descompromissado feiticeiro da Grande Academia Arcana, o xamã totêmico das Montanhas Sanguinárias ou a libidinosa clériga de Marah de Nova Ghondrian, o carismático golpista de Vectora ou o pilantra ex-escravo de Malpetrim. Se existem perigos aos montes, existem ainda mais heróis para enfrentá-los.
Nesta série de artigos intitulada Heróis de Arton você vai encontrar dicas e sugestões de históricos para os mais diversos tipos de heróis artonianos para lhe ajudar a construir seu personagem no novo Tormenta RPG. Começo com o campeão das planícies da Grande Savana, o Guerreiro Tribal, vocês vão notar que o formato é o mesmo já visto em matéria na DragonSlayer e no Guia de Viajante de Arton então dispensa maiores explicações.
Guerreiro Tribal
Sangue e honra é o que separa homens de animais. O resto são mentiras de estrangeiros que querem crer serem melhores que nós para justificarem sua crueldade.
A Grande Savana é lar de tribos humanas que há séculos resistem a todas as tentativas de serem “civilizadas” seja pelo Reinado, seja pelos minotauros de Tapista, e agora resistem até mesmo a Tormenta. Você é um destes orgulhosos e honrados guerreiros tribais. Não aceita ser chamado de bárbaro e despreza o conhecimento dos estrangeiros, preferindo seus próprios modos ancestrais. Talvez seja o último de sua tribo após um grande massacre promovido pelos “colonizadores”, ou esteja em busca de aliados contra a Tormenta que tem destruído e corrompido a Grande Savana.
Aventuras: você se aventura pelo bem de sua comunidade ou em busca de fama e poder para domar o espaço em que vive. Você pode visitar o Reinado em busca de conhecimento sobre a sociedade dos invasores de suas terras e maneiras de derrotá-los, também pode estar em busca de aliados contra a Tormenta, disposto a por de lado antigas rivalidades com os povos do sul para lutar contra o inimigo comum.
Além das batalhas contra as invasões, são comuns grandes buscas por artefatos lendários comandadas pelos senhores das tribos ou seus conselheiros xamanísticos. Nestes tempos turbulentos você pode ser um dos muitos que colocam suas esperanças em artefatos como a Mantedora de Promessas, o Escudo da Honra e outras lendas da Grande Savana para unir as tribos numa horda capaz de fazer frente ao inimigo aberrante.
Personalidade: você é orgulhoso da cultura de seu povo, de suas crenças e tradições, até mesmo de sua ignorância. Você desdenha da ciência e costumes dos povos ditos civilizados e sempre defenderá o ponto de vista da sua comunidade. A única coisa que você respeita são homens de palavra e honra. Um cavaleiro em pesada armadura de aço e trejeitos de mulher pode lhe parecer ridículo, mas será um amigo valoroso ou inimigo respeitado quando provar ser um homem honrado.
Maneirismos: você está sempre com saudades de casa, e talvez para aplacar este sentimento não perde uma chance de falar de como os costumes de sua gente são melhores que os desta “terra de loucos” que é o Reinado. É supersticioso e respeita o sobrenatural, mas nunca o teme. Em combate você luta como se espera de um guerreiro das planícies, com lança e escudo e sem armadura, e por ter uma mente estreita muitas vezes fica perdido quando suas táticas tradicionais não funcionam.
Variante: você tem orgulho de suas origens, mas não se ilude e adota as novidades das terras do sul, vestindo armaduras e brandindo armas e escudos de aço. Por valorizar a verdade e a honra, pode acabar se tornando um cavaleiro em alguma das ordens de Khalmyr em Arton – o comandante Allen dos cavaleiros da Luz é o maior exemplo do guerreiro tribal que se entrega aos meandros da “civilização”.
Considerações Mecânicas: guerreiros tribais são normalmente de tendência Leal e usam as armas tradicionais de seu povo como lança e escudo, azagaias e arcos curtos. Não costumam usar armaduras, já que o clima da Grande Savana não permitiria este tipo de indumentária, e quando vem para as terras mais frias do Reinado mantêm a tradição, por isto considere adquirir o talento Casca Grossa para compensar a falta de armaduras.

João Paulo Francisconi

Amante de literatura e boa comida, autor de Cosa Nostra, coautor do Bestiário de Arton e Só Aventuras Volume 3, autor desde 2008 aqui no RPGista. Algumas pessoas me conhecem como Nume.

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16 Resultados

  1. @Ka_Bral disse:

    Opa! Devagarinho devagarinho vão aparecendo africanismos no RPG. Gostei da matéria, embora tenha me incomodado um pouco com o excesso de "orgulho". Mas é compreensível – em breve não teremos mais que reafirmar tanto que estamos intumescidos de "orgulho".

  2. Nume disse:

    Cara, te falar que não pensei nem por instante nessa parada "afirmativa" quando escrevi o artigo. Eu escrevi porque acho a idéia divertida. A parada do orgulho vem da descrição da classe bárbaro mesmo.

  3. Shido disse:

    Mas mesmo que se tratasse de uma ação afirmativa — não há problema algum nisso. Pelo contrário, acho até positivo. Mesmo já passados mais de trinta anos desde o nascimento dos RPGs, nossas ambientações teimam em ser exclusivamente brancas, heterossexuais e cristãs. Tá certo que temos alguns focos isolados de luz — como o Nyambe, fantasia de temática africana, e o Blue Rose, que aborda igualdade sexual –, mas, de resto, a maioria esmagadora ainda reflete demais os preconceitos do público (ou dos autores também? Vai saber).
    De uns tempos pra cá, o Tormenta fez algumas tentativas — temos aquele NPC bacanão dos Cavaleiros da Luz (ou eram os de Khalmyr? Não lembro), e uma governante mulher de caráter forte (ainda que, até que uma nova ilustração prove o contrário, insista em continuar mostrando a bunda). Mas ainda tímido. O cenário ainda carece de uma cultura negra expressiva, e, no geral, a coisa toda ainda é estritamente heteronormativa.
    No desenvolvimento do Roms, aliás, notei a ausência de representação negra, e a solução para tanto deixou as coisas muito mais interessantes. Às vezes somos omissos sem nos darmos conta.
    E uma compilação de Heróis de Arton em .pdf seria legal, né? =D

  4. @Ka_Bral disse:

    Tranquilo. Mais importante pra mim é exaltar sua iniciativa, o texto está legal e no fim das contas o guerreiro tribal está mui bem representado. Fiquei com vontade de contribuir com meus conhecimentos acerca das etnias de Angola, se me for dada a oportunidade. 😉

  5. @Ka_Bral disse:

    Bem colocado, 30 anos se passaram e o RPG continua branco, heterossexual e cristão. Mas aos poucos isso vai mudando. O auto-afirmação é um recurso válido, que não me agrada muito, mas admito ser necessário nesse primeiro momento. Conheço o Nyambe, uma boa proposta, embora eu não concorde com tudo, mas gostaria fosse levado adiante, parece que morreu há uns anos atrás, nunca mais vi nada de novo a respeito. Mas vamo que vamo e é isso aí. ;D

  6. Nume disse:

    Cara, escreve aí o artigo e manda para o meu e-mail, de repente rola de publicar aqui no .20 😉

  7. Nume disse:

    É o Allen, Alto Comandante dos Cavaleiros da Luz. Tem também o Reynard, terceiro maior arquimago vivo de Arton e antigo líder da Companhia Rubra, atualmente o maior pesquisador da Tormenta. E a Shivara atualmente governa o Reinado como Imperatriz e é Rainha dos três reinos mais poderosos da coalização: Deheon, Yuden e Trebuck.
    A compilação é possível sim, assim que tiver mais coisa escrita, terminei ontem outro arquetípico, o Fugitivo (basicamente uma variante do Fora-da-Lei do Guia do Viajante de Arton), e devo escrever outro hoje depois de terminar minha redação para o cursinho.

  8. Tek disse:

    Retconaram a Shivara e ela não é mais branca? o.O

  9. Fauno disse:

    Legal essa discussão.
    Não sei se é o caso de assumir uma posição afirmativa, mas no geral são representações ignoradas ou pouco exploradas. Penso que essa característica do RPG no Brasil são reflexos da maneira como as questões das "minorias" são abordadas: a rigor estamos num país de tolerância em que pega muito mal assumir um discurso claramente preconceituoso, mas se um olhar, desprentensioso que for, para uma pessoa do mesmo sexo, se estender por mais tempo que o aceitável você estará sob ameaça de agressão física. O sujeito ainda vai dizer "Eu não tenho nada contra, mas pra cima de mim não. Grande balela.
    No RPG, é relativamente recorrente a presença de personagens de uma "cultura gay". Eu lembro que numa revista Tormenta um leitor publicou um estilista para a cidade de Gorendil em que estava implícito que era Gay, também tinha o Klaus que eu sempre achei que fosse uma referência, mas depois a autora do personagem fez questão de revelar que não era – se essa revelação tivesse ocorrido na minha adolescência teria sido um desalento rsrs. Em geral, todos eram motivo de chacota, pra minha infelicidade, mas existia ali dois personagens que pra mim, naquela época, de uma certa forma me satisfazia em termo de representatividade num cenário no geral heteronormativo.
    Por fim, gostaria de elogiar o texto sobre os guerreiros tribais e fico muito contente quando você diz que ele não surge pensando na "parada afirmativa", penso que essa é uma situação ideal. Enquanto isso, a afirmação continua sendo algo importante. Um último comentário, você assistiu aquele filme Kiriku sobre um menino guerreiro que tem que salvar a tribo de uma feiticeira maligna? Achei o máximo, totalmente RPG e recomendo caso não tenha visto ainda.

  10. Nume disse:

    O Shido citou ela como um exemplo de mulher no poder, algo incomum no período medieval e obras de fantasia em geral (pelo menos as mais tolkenianas que conheço), não como personagem negro.

  11. Nume disse:

    Cara, nunca ouvi falar desse filme aí não.
    Sobre personagens gays em Tormenta, não tem nenhum assumido que me vem a memória, ainda que ache que o Vectorius tem uma queda não correspondida pelo Talude. XD

  12. Nume, é engraçado vc citar "as mais tolkenianas que eu conheço"… eu meus amigos sempre brincamos que Celeborn era gigolô porque quem declaradamente manda em Lothlórien é Galadriel…

  13. Fauno disse:

    Sim, sim! Se não estou enganado, eles eram todos dentro do armário rsrs
    É um filme infantil, mas eu acho que serve também pra adulto. Se vc jogar no oráculo vai ter bastante coisa falando sobre. E tb vai ter link pra assistir inteiro no youtube. Enfim…só uma recomendação pq é bom.

  14. Shido disse:

    Olha, em Tormenta acho que não existe personagem gay, assumido ou não. O Klaus não tem nada de gay — só achava a Niele espalhafatosa e vulgar demais. Tem muito homem hétero assim, aqueles ditos "certinhos" (que toda mãe sonha que a filha se case com um, se um dia vier a se casar). O pessoal que achava que ele era gay o fazia de uma postura machista — "o homem de verdade(TM) jamais recusa sexo!"
    Já o fazedor de roupas de Gorendil é o estereótipo mais batido possível do "costureiro" — exemplificado atualmente no re-make da novela pastelão "Ti Ti Ti." O que, a própria novela mostra, não tem nada a ver com gay, inerentemente — o estilista deslumbrado e cheio de trejeitos, o tal do Leclair, é mulherengo ao ponto do cafajeste.
    Mas mesmo que o fazedor de roupas de Gorendil fosse gay (ou seja, um estereótipo no nível Zorra Total), nem se compara à abordagem do tema no Blue Rose. Lá nós somos informados de que relacionamentos homo existem na sociedade (e sabemos até do que a etiqueta em Aldis recomenda ao hétero abordado por um gay), e temos até um personagem importante (um dos membros do conselho que governa a cidade), um cara mais velho casado de longa data com outro homem. E o tema do preconceito também se faz presente (pra não dizer que é tudo utópico-mar-de-rosas), com a Teocracia Jarzoni. Inclusive, a aventura pronta que vem no fim do livro aborda isso — os personagens são emissários da Coroa de Aldis em uma cidade de cultura Jarzoni onde há um NPC de talentos arcanos que tem problemas com o conservadorismo da cidade por ter atração por homens.
    Ou seja, no Blue Rose, o tema não só é incluído como também é abordado de forma verossímil e que, importante, alimenta a história/trama. Bem diferente de só jogar uns estereótipos caricaturais e ficar por isso mesmo.

  15. Nume disse:

    Shido, seu pilantra, se tu tens bons conhecimentos sobre o assunto, porque não manda um artigo para ajudar mestres a abordar o tema sem estereótipos na mesa de jogo?

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