Desvantagens São Legais

Volta e meia, conversando nos Fóruns e Twitters da vida, ouço reclamações de mestres e narradores de sistemas que utilizam-se da mecânica das Desvantagens e que estão descontentes com a maneira com que seus jogadores “apropriam-se” dos pontos negativos com os quais estes sistemas premiam quem as adota e assim que a aventura começa, ignoram completamente sua existência.

Seja Ruim No que Faz!

Casos clássicos não faltam: em 3D&T, principalmente, quem nunca teve em sua mesa um Insano Homicida que “esquece” de matar algum personagem importante, ou um cavaleiro repleto de Códigos de Honra que na hora da batalha sai cortando cabeças de goblins sem nem pensar duas vezes? E a lista vai longe: Incultos que resolvem enigmas, Amaldiçoados que pensam em “desculpas” para escapar da própria limitação… ou os velhos Inimigos que jamais davam as caras na aventura. Verdadeiras máquinas de pontos extras.

Desvantagens São Legais 1

O Sistema 3D&T Alpha tentou minimizar este tipo de situação eliminando certas desvantagens, como a própria Inimigo (o que eu achei uma solução meia boca…) que agora é uma vantagem de um ponto. Mas, por mais que os criadores de jogos pensem em como acabar com este tipo de apelação, jamais iremos conseguir desvendar todos os planos malignos mirabolantes dos jogadores no que diz respeito a “dar um jeitinho” nas regras.

Pensando nisso, o Inominattus orgulhosamente (cooof) apresenta algumas idéias e sugestões para que você, como narrador, consiga convencer seus personagens que a Desvantagem pode ser tão legal para o personagem quanto as Vantagens Ultra Poderosas que enchem seus PJs de poderes (e esvaziam seus inimigos de Pontos de Vida). Estas são apenas algumas dentre várias soluções que possam ser buscadas em equipe. E lembre-se sempre:

O Mestre tem total direito de podar e proibir qualquer apelação de regras provenientes dos jogadores (escutei um aaaah ao fundo). E ele não faz isso por que é um egocêntrico sem mãe em que o poder de mudar o destino dos personagens subiu pra cabeça. Ao contrário, ele quer que todos na mesa se divirtam da mesma forma.

Você, como jogador, também deve fazer sua parte. Não espere o mestre ficar cobrando e punindo seu personagem cada vez que você “esqueceu” que tinha alguma desvantagem (como Munição Limitada). Seja o primeiro a lembrar-se delas e ajude o jogo a fluir melhor. Vamos lá, começando com minhas favoritas (depois se eu pegar o Manual eu penso em outras):

Inculto: Basicamente, você é burro. Essa é bacana exatamente por que gera personagens burros. E não subestime o quão idiota e engraçada pode ser a presença de um destes em uma mesa. Se o seu jogador é do tipo que gosta de fazer piadas e que só acorda mesmo na hora de surrar alguém, essa desvantagem foi feita pra ele. Não espere a falha nos dados pra fazer idiotices. Erre feio antes mesmo de rolar qualquer coisa.

Insanos (diversos): Sem mais nem menos, você é um louco. “Insano” sempre gera confusão em mesa por que é meio complicado definir o que é uma insanidade. Vide os Malkavianos Palhaços que choviam nas mesas e lives de Vampiro. Mas ser insano pode ser muito mais legal do que inicialmente possa parecer. Uma dica muito bacana é adotar uma Fobia Grave ou Diferente ou mesmo uma Obsessão como sua insanidade. Sempre gera um roleplay bacana (e te permite rir maquiavélicamente em mesa).

Fetiche: Não é nada pervertido. Basicamente, sua magia só funciona se você tiver alguma coisa pra canalizar o mana. Pra magos, é uma das mais legais. Eu escrevi uma história sobre um mago que só conseguia lançar magias se tivesse contato com a madeira. Foi muito bacana a forma como em vários momentos ele precisou improvisar seu Fetiche (com remos, o assoalho do navio ou galhos, só pra começar).

Códigos de Honra: esta é uma das mais usadas, por ser bastante ampla e geralmente estar dentro do esperado para um grupo de heróis (não mentir, não trapacear, não matar…). Mas é importante que o Mestre não permita que a desvantagem seja esquecida “oportunamente” pelos personagens mais espertinhos. Ao adotarem um Código, tenham em mente que, para seus personagens, aquilo é mais do que a Lei. É uma questão de Honra!

Modelo Especial: Você é muito maior (ou menor) que o padrão humano. Esta, assim como Inculto, gera várias situações diferentes e bastante divertidas em jogo. Como a dificuldade de se conseguir transporte, alimentação e até mesmo um quarto pra passar a noite. Meu ogro vivia dormindo nas estrebarias junto com os cavalos por causa disto. E isso fazia dele alguém que sempre era lembrado pelos amigos depois de algum tempo.

Estas são apenas algumas, dentre várias. O importante é notar que a presença da Desvantagem não é meramente uma forma de se aumentar um pouco mais os atributos de base dos personagens, mas sim para ilustrar em regras alguns dos problemas e defeitos que todos nós possuímos, e o que nos torna únicos. Pense em como aquela Fúria na sua ficha pode ficar bacana como ferramenta de roleplay e tire o máximo proveito de seu Personagem. Com certeza ele ficará muito mais memorável do que um mero amontoado de Pontos de Combate.

Você pode gostar...

12 Resultados

  1. Armageddon disse:

    Essa matéria é propositalmente curta e cheia de falhas ok? Digamos que é pra incentivar a troca de idéias nos comentários ^^’

  2. Eu sou um Mestre esquecido. Isto faz com que os jogadores abusem de Desvantagens que eles tem mas nunca fora prejudicados por elas. Assim acho que o único sistema de Desvantagens que serve para mim e meu grupo é aquele em que elas ao invés de Pontos no momento da criação dão Pontos de Experiencia quando eles são prejudicados no jogo. Dou 1 PEX para quando o personagem é prejudicado de forma leve, 2 PEX qnd ele é de forma moderada e 3 PEX qnd eu lembrei que tinha aquela desvantagem e quero descarregar toda a minha fúria por ter sido ludibriado por tanto tempo.
    Acho que é uma solução interessante e tem o efeito de fazer os jogadores representarem as suas desvantagens, mesmo que na maioria das vezes seja quando eles estão com 9 Pontos de Experiencia.

  3. Armageddon disse:

    Mais pessoas já comentaram sobre isso, é bacana pra incentivar mesmo, apesar de correr o risco de termos personagens em pontuações diferentes na mesma campanha (o que também bagunça o coreto)

  4. Quando vi no Twitter o link pra cá, pensei que era sobre gente achando que as Desvantagens são um tanto engessadas (e são um pouco, assim como as Vantagens), e que o artigo poderia ensinar a lidar com isso.
    Mas gostei, foi uma boa forma (com o típico bom humor do Inomine) de mostrar o quanto as Desvantagens são boas pra roleplay — pareceu uma continuação/expansão de umas Dicas de Mestre do Cassaro, sobre como lidar com Códigos de Honra e Inimigos.
    E sobre Desvantagens customizáveis, hehehe… vou ver se escrevo sobre isso mais tarde.

  5. Armageddon disse:

    Eu já acho que as Vantagens e Desvantagens de 3D&T são até bastante livres, apenas não são tão variadas. Falta um pouco de opção na hora de criar personagens, o que torna quase todos iguais na mecânica.
    O que diferencia mesmo é o que cada jogador “inventa” sobre cada uma das regras.

  6. “O que diferencia mesmo é o que cada jogador “inventa” sobre cada uma das regras.”
    Concordo plenamente. O 3D&T jogado de forma combástica, overpower e porradeira pode até ser legal, mas não é divertido/engraçado. Usando o roleplay, e se identificando com o personagem, tudo flui perfeitamente na mesa. É o que eu costumo dizer para meus jogadores: O ponto chave da campanha é a criação dos personagens. Se criar algo que não goste, não vai se divertir jogando RPG.

  7. Dan Ramos disse:

    Ótimo artigo, Agá! Ele complementa e é complementado, de certa forma, com o post do GURPS Nation, dá uma olhada lá e mostra pra eles =D

  8. Belo artigo Armageddon. Está salvo aqui, já que estou mestrando M&M isso vai ser bem útil.
    Queria aproveitar e fazer um jabazinho, se me permite, dizer que o hoje foi ao ar nosso primeiro PODCAST com tema RPG Trivial e Imoral: http://beholder.com.br/post.php?p=77
    Grande abraço meu velho, continue com esse excelente trabalho!

  9. Heitor disse:

    É por isso que gosto do storytelling: desvantagens não dão pontos de personagem pra gastar, e sim pontos de experiência extras. Se o mestre se esquecer delas, exceto em casos em que elas seriam vitais para desvantajar os jogadores, que se lascam são estes.

  10. Oibaf, o Anão de 2 metros de altura XD disse:

    Sou narrador faz 10 anos e posso dizer que de inicio esqueceu desvantagens é fácil, porém digo que também é facil relembrar os jogadores que elas existem, nada melhor que o narrador pegar sua folhinha de anotações e escrever cada desvantagem na frente do jogador e dizer “vou saber usar isso muito bem”. Pronto! eles sempre estarão atentos a elas.
    Um grande exemplo foi em uma aventura de Tormenta em que todos queriam personagens de altos pontos (12 pontos) eu permiti e fui além: não restringi desvantagens.
    Foi uma festa! todos pegando má fama e inimigoS. O que fiz? Chegaram em uma cidade e todos da cidade sabem que são mau vistos e possuem inimigos, logo eles devem ser do mal, pau neles!
    Não tiveram um momento de sossego nas 3 primeiras campanhas, foi então que perceberam o que fiz e pediram pra refazerem fichas, dessa vez pegando leve nas desvantagens porque sabem que o narrador aqui irá aproveita-las, seja para usar contra eles, seja para usar como quesito na avaliação final de pontuação de PEX.

  11. Lucão disse:

    agora eu achei ruim, um personagem inculto não é burro!! aliás, tá longe de ser…
    incultura tem mais a ver com a sociedade do que com o personagem por si mesmo.
    por exemplo: um bárbaro que vive numa tribo onde as pessoas andam nuas, veneram um deus-javali e tenham o costume de comer insetos e larvas… ele não é mais burro ou menos burro pelo fato de estar numa região onde as pessoas usam roupas e comem carne de porco… além de ser obrigado a se cobrir com panos esquisitos, ainda tem q tolerar as pessoas comendo javali assado… tremendo ato de heresia na cultura dele.
    a insanidade “demente” tem muito mais a ver com um personagem burro…

  12. Lucão disse:

    ainda nessa onda do inculto esperto… lembro d um NPC q eu criei nesse estilo.
    ele era mudo e tinha manias esquisitas, como cospir na propeia bebida… a única maneira de se comunicar com ele era através de telepatia, interpretando suas intenções (nada de palavras, pq ele não conhecia nenhuma)…
    quando tentava se comunicar ele fazia sons de estalos com a boca e grunhia, fazendo muitas caretas… além de tudo, ele era capanga de um cara q era meio vilão, dae ninguém nem tentava muito entendê-lo…
    enfim, no decorrer do jogo esse npc se tornou aliado temporário dos heróis numa missão. eles foram enviados a um templo no deserto pra pegar um item e ele foi junto a pedido do contratante… todo mundo já deve imaginar oq rolou né?
    esse deserto era no continente natal desse NPC… o pessoal descobriu q seus estalos, grunhidos e caretas eram uma forma de comunicação de uma série de povos nômades… ele não apenas falava, como era o único capaz de se comunicar naquele lugar.
    o personagem mudo e esquisito acabou salvando a pele dos jogadores várias vezes, impedindo atitudes que deixariam as pessoas daquela região realmente ofendidas (como não cospir no proprio copo, por exemplo)… um NPC inculto, mas nada burro.

Deixe uma resposta