D&D, D20 e OGL – Nariz de porco não é tomada

Ainda há muita gente com dúvidas à respeito das diferenças entre D&D, d20 e OGL. Apesar do Dungeons & Dragons 3ª Edição ter sido lançado lá fora há mais de seis anos (agosto de 2000), aqui no Brasil não é muito incomum ver grandes debates sobre o funcionamento destas licenças. Seja por desinteresse ou simples desinformação, ainda há muita superstição e achismos por parte dos jogadores brasileiros. E provavelmente é por conta disso que um assunto tão simples tornou-se um verdadeiro bicho de sete cabeças.

Eu vou tentar dar uma explicação sucinta sobre o que é cada um. E por favor, sintam-se livres para fazer quaisquer perguntas e também para me corrigir ou ratificar de qualquer forma o que está escrito aqui. A minha intenção é realmente oferecer uma explicação bem completa.
Comecemos pelas definições:

D&D

Estes são os livros lançados pela Wizards of the Coast e editoras que pagaram por uma licença especial (como é o caso da Kenzer & Company, e até algum tempo da Sword and Sorcery). Seus livros carregam o selo do D&D e seu material não precisa apresentar Open Gaming Content.
Exemplos: O próprio Dungeons & Dragons, os cenários Eberron, Forgotten Realms, Kingdoms of Kalamar, Ravenloft.

D20

Estes são os livros lançados por outras várias editoras. Eles carregam o selo d20 e uma cópia da Open Gaming License e outra da d20 System License – sim, livros do Sistema d20 devem seguir ambas as licenças. Devem apresentar um mínimo de 5% de Open Gaming Content. E não podem apresentar sistema de geração de habilidades, evolução de personagens ou modificações no processo de criação de personagens
Exemplos: O BESM d20, os cenários Crônicas de Avalon, Neokosmos, Tormenta, Vikings.

Open Gaming License

Mais conhecida como OGL. São os livros que respondem à Open Gaming License, mas não à d20 System License. Eles podem aproveitar o texto do System Reference Document (SRD), do d20 Modern SRD ou de quaisquer outras fontes de Open Gaming Content como preferirem, inclusive com novas etapas no processo de criação de personagens ou sistemas novos de geração de habilidades e/ou evolução dos personagens. Entretanto, eles não podem carregar nenhuma referência de compatibilidade com o Dungeons & Dragons ou o Sistema d20.
Exemplos: aqui no Brasil temos o 4D&T, o Ação!!! e o Primeira Aventura. Lá fora existem muitos mais. Arcana Evolved (que em breve terá uma versão traduzida, sob o nome de Arcana Evoluída), Iron Heroes, Mutants and Masterminds (que também terá em breve uma versão traduzida, Mutantes & Malfeitores), Spycraft, True20.

Outros termos importantes:

OGC

Esta é a sigla para Open Gaming Content. Material Aberto de Jogo. Isto é, material que pode ser aproveitado em outras publicações que façam uso da OGL. São pedaços de materiais publicados sob a Open Gaming License (quase sempre regras) que podem ser reaproveitados diretamente em outros livros ou servir de base para a criação de regras novas.
Exemplos: O exemplo mais conhecido de todos é o d20 SRD. Mas existe muito mais material OGC do que ele. Pode abrir qualquer livro com o selo d20 na capa e procurar pela cópia da licença OGL (qualquer material publicado pela OGL precisa ter uma cópia da licença). Perto do texto da licença, ou na folha de rosto do livro, haverá um pequeno texto explicando quais porções do livro em questão são OGC e quais são “Product Identity”: a parte que é realmente propriedade do livro e não pode ser copiada.

SRD

Esta é a sigla para System Reference Document. Documento de Referência do Sistema. Isto é, o documento que apresenta as regras básicas do jogo, que servirão de referência para aqueles que pretendem fazer material compatível ou usar aquelas regras para desenvolver seu próprio jogo OGL. As regras do SRD estão lá para serem usadas e alteradas à vontade, o que pode tanto ser bom quanto pode ser ruim. Com regras liberadas desta forma fica simples diferenciar material OGC de material não-aberto e você desobriga àqueles que querem lidar com o seu material aberto de comprarem o livro para ter acesso a ele. Entretanto, isso facilita algumas explorações, tais como alguém compilar suas regras em outro livro.
Exemplos: o SRD mais conhecido de todos, e freqüentemente chamado apenas de “o SRD” é o SRD do D&D. Além deste existem vários outros, como o SRD do d20 Modern e o SRD do Anime d20 (que é como chamam o SRD do BESM d20).

Como tudo isso funciona junto?

O OGC é que forma a base da idéia geral de tornar o Sistema d20 um sistema aberto. Por haver um pedaço grande das regras disponível para ser usado por qualquer um, você abre a possibilidade de diversos autores diferentes criarem livros que possam ser usados todos em conjunto (mas que ainda assim todos necessitem dos três livros básicos do D&D – ou ao menos do Livro do Jogador, para serem usados).
Além disso, com as regras disponíveis desta forma, e ainda por cima com uma licença que permita a qualquer um usar aquele material aberto como base para criar seu próprio sistema OGL, também cria-se uma situação bastante interessante: você pode ter vários jogos diferentes, com temáticas e sistemas distintos, mas que seguem mecânicas sempre familiares a quem já aprendeu a jogar com um destes sistemas. Isso aumenta a velocidade de aprendizado de novos sistemas, o que pode ser um incentivo adicional aos jogadores.
É daí que vinham muitas das acusações do d20 querer tornar-se o “Windows do RPG” ou o “Um Sistema para a Todos Dominar”.
Sacou?

CF

Advogado de regras de dia. Combate o crime vestido de alce à noite.

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4 Resultados

  1. Tek disse:

    CF, perfeito.
    Estava pensando em fazer algo nesse sentido para mandar para a DS, mas complementando com um pouco mais de exemplos e de situações.
    Parabéns (de novo) por esse artigo tão explicativo e interessante.

  2. Mirallatos disse:

    Legal, legal mesmo.
    Você deveria divulgar mais seu espaço meu caro! Vou linkar nos meus blogs.
    Um abraço!

  3. Lgeal, muito bom.
    Agora explica ai sobre os ataques de oportunidade.

  4. Tek disse:

    Espere para ver isso numa DS, é mais fácil.

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